São Paulo, sábado, 07 de março de 2009

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Crítica/"Glória ao Cineasta"

Crise criativa inspira Takeshi Kitano a criar ousado filme em episódios

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

A pane de inspiração já inspirou diretores do porte de Fellini e Woody Allen, que produziram, a partir de crises criativas, reflexões, profundas ou irônicas, sobre a ruína que pode significar a glorificação de alguém como artista. O ator japonês Takeshi Kitano, 62, celebrado como autor desde os anos 90, reutiliza a situação em "Glória ao Cineasta". Só que Kitano força tanto o limite da paródia que seu filme foi recebido a pedradas por onde passou.
Kitano era um comediante de enorme sucesso na TV japonesa até que chamou a atenção quando passou à direção. Filmes como "Adrenalina Máxima" e "De Volta às Aulas", em que as cores da angústia e da melancolia tingiam de personalidade seu jogo com gêneros, anunciavam a presença de um "autor".
Depois, vieram "Hana-Bi - Fogos de Artifício" e, sobretudo, "Dolls" e o entusiasmo pelo autor Kitano se espalhou por meio da projeção em festivais.
"Zatoichi" já anunciava o cansaço da máscara, quando Kitano recorreu a um gênero e a um personagem recorrente para fazer um filme delicioso que já era pura brincadeira.
Depois da desmontagem farsesca do papel de celebridade feita em "Takeshi's", Kitano chega ao auge da sabotagem em "Glória ao Cineasta", no qual pula de história em história e de gênero em gênero para demonstrar que a transformação de um diretor em "cineasta" pode ser o caminho mais curto para fazer de uma possibilidade um erro.
O resultado é um jogo conceitual de pouquíssimo apelo popular, é bom avisar. Mas cuja coragem é preciso reconhecer. Coragem de recusar glórias "prêt-à-porter" e de destruir com prazer a farsa da autoria.
Na tradição japonesa, "Glória ao Cineasta" é um haraquiri, um suicídio ritual da "obra", como poucos no cinema ousaram fazer.


Avaliação: bom


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