São Paulo, sábado, 07 de abril de 2001

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"OS LUSÍADAS"

Musical de Ruth Escobar é conformado e razoável, capaz de satisfazer o público, mas com falhas

Montagem navega por mares já conhecidos

Adriana Elias/Folha Imagem
Cena de "Os Lusíadas", montagem de Ruth Escobar que está na Júlio Prestes


SÉRGIO SALVIA COELHO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Depois de várias estréias adiadas, que alimentaram a expectativa pelo que se anuncia como a última e definitiva produção de Ruth Escobar, "Os Lusíadas" se mostrou um musical razoável, capaz de satisfazer o público, mas com falhas essenciais.
O longo poema épico de Camões foi sintetizado por José Rubens Siqueira, que privilegiou os fatos mais que os conflitos, estabelecendo uma narrativa linear e quase pedagógica, com o que isso tem de positivo e de limitador. Iacov Hillel, que já deu provas de ser um dos mais eficientes diretores para musicais de grandes elencos, mantém "Os Lusíadas" rodando, apesar de um espaço inadequado e um tempo de ensaio que, depois de várias trocas de elenco e direção, acabou se revelando escasso.
O desalentador é que, por falta de tempo ou excesso de prudência, os atores foram instados a declamar o texto em vez de interpretá-lo, como se o texto fosse uma "manifestação divina", que dispensasse qualquer contribuição. As participações especiais de grandes atores, que surgem em telões em cenas pré-gravadas, têm pouco a acrescentar de humanidade e distanciamento crítico ao texto. Fica difícil assim, em meio a um tom unívoco, destacar qualquer performer. Resta constatar que tropeçam pouco no texto e cumprem com firmeza as marcações dinâmicas de Hillel.
A longa e convencional grandiloquência seria insuportável se não fosse permeada pela bela música, a coreografia bem embasada (a africana), o pitoresco do figurino e inteligência da cenografia, além de efeitos menores (as ingênuas tempestades, o erotismo "softcore" das ninfas). Mas todo esse esforço resulta em especiarias, cuja função é disfarçar o gosto de insosso e passado.
Exaltação sem reservas do herói colonizador soa constrangedora no contexto da comemoração dos 500 anos e anacrônica mesmo para Portugal.
Antes de chegar a uma conclusão definitiva sobre a ideologia de Ruth, que no programa refere-se a Salazar como "o grande Pai da Nação Portuguesa", é preciso lembrar que em 1972 ela conduziu "Os Lusíadas" por mares mais venturosos. É por aquela viagem audaz, e não por esse conformado "Os Lusíadas", que Ruth Escobar merece ser lembrada.



Os Lusíadas
  
Direção: Iacov Hillel
Com: Marat Descartes, Daniel Faleiros, Nilson Muniz e outros
Onde: Estação Júlio Prestes - sala Estação das Artes (pça. Júlio Prestes, s/nš, região central, tel. 3361-2379)
Quando: de qua. a sex., às 20h30; sáb., às 18h e às 21h; dom., às 19h. Até 27/5
Quanto: de R$ 15 a R$ 30




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