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"OS LUSÍADAS"
Musical de Ruth Escobar é conformado e razoável, capaz de satisfazer o público, mas com falhas
Montagem navega por mares já conhecidos
Adriana Elias/Folha Imagem
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Cena de "Os Lusíadas", montagem de Ruth Escobar que está na Júlio Prestes |
SÉRGIO SALVIA COELHO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Depois de várias estréias
adiadas, que alimentaram a
expectativa pelo que se anuncia
como a última e definitiva produção de Ruth Escobar, "Os Lusíadas" se mostrou um musical razoável, capaz de satisfazer o público, mas com falhas essenciais.
O longo poema épico de Camões foi sintetizado por José Rubens Siqueira, que privilegiou os
fatos mais que os conflitos, estabelecendo uma narrativa linear e
quase pedagógica, com o que isso
tem de positivo e de limitador. Iacov Hillel, que já deu provas de ser
um dos mais eficientes diretores
para musicais de grandes elencos,
mantém "Os Lusíadas" rodando,
apesar de um espaço inadequado
e um tempo de ensaio que, depois
de várias trocas de elenco e direção, acabou se revelando escasso.
O desalentador é que, por falta
de tempo ou excesso de prudência, os atores foram instados a declamar o texto em vez de interpretá-lo, como se o texto fosse uma
"manifestação divina", que dispensasse qualquer contribuição.
As participações especiais de
grandes atores, que surgem em
telões em cenas pré-gravadas, têm
pouco a acrescentar de humanidade e distanciamento crítico ao
texto. Fica difícil assim, em meio a
um tom unívoco, destacar qualquer performer. Resta constatar
que tropeçam pouco no texto e
cumprem com firmeza as marcações dinâmicas de Hillel.
A longa e convencional grandiloquência seria insuportável se
não fosse permeada pela bela música, a coreografia bem embasada
(a africana), o pitoresco do figurino e inteligência da cenografia,
além de efeitos menores (as ingênuas tempestades, o erotismo
"softcore" das ninfas). Mas todo
esse esforço resulta em especiarias, cuja função é disfarçar o gosto de insosso e passado.
Exaltação sem reservas do herói
colonizador soa constrangedora
no contexto da comemoração dos
500 anos e anacrônica mesmo para Portugal.
Antes de chegar a uma conclusão definitiva sobre a ideologia de
Ruth, que no programa refere-se
a Salazar como "o grande Pai da
Nação Portuguesa", é preciso
lembrar que em 1972 ela conduziu
"Os Lusíadas" por mares mais
venturosos. É por aquela viagem
audaz, e não por esse conformado
"Os Lusíadas", que Ruth Escobar
merece ser lembrada.
Os Lusíadas
Direção: Iacov Hillel
Com: Marat Descartes, Daniel Faleiros,
Nilson Muniz e outros
Onde: Estação Júlio Prestes - sala
Estação das Artes (pça. Júlio Prestes, s/nš,
região central, tel. 3361-2379)
Quando: de qua. a sex., às 20h30; sáb.,
às 18h e às 21h; dom., às 19h. Até 27/5
Quanto: de R$ 15 a R$ 30
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