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Crítica/teatro/"Ponto Zero"
Jovem companhia falha na construção dos personagens
SÉRGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
"Ponto Zero" é uma
montagem sobre a
juventude, para a
juventude, por um grupo bem
jovem. Curiosamente, soa como uma despedida dessa fase.
Dentro de uma mostra retrospectiva essa estréia se mantém coerente com a linha de
pesquisa do grupo. Como em
"Amor de Improviso", presente
na mostra, o processo de criação se mantém visível no espetáculo, embora de forma menos
radical; mas, dessa vez, a dramaturgia é mais ambiciosa.
Gabriel Miziara, ator e dramaturgista, já havia proposto
junto ao diretor Marcello Lazzaratto uma colcha de retalhos
no seu solo "Loucura", também
encontrável na retrospectiva.
Agora, com um recorte em
princípio cronológico de textos, a proposta toma ares quase
de painel social.
Pequenas cenas emblématicas de cada década, tiradas de
peças de teatro, filmes e romances compõem um painel
coerente e fecundo, que ilustra
quase pedagogicamente o progressivo desamparo ideológico
e existencial das sucessivas novas gerações.
O elenco se desdobra em vários personagens, também
marca do grupo, e tem uma boa
harmonia, graças ao método de
campo de visão de Lazzaratto.
Mas isso não soluciona a imaturidade que ainda está presente na composição de cada personagem.
Para fugir ao esquematismo
excessivo, na segunda metade
do espetáculo, as cartas são
misturadas, como se a adrenalina adolescente tomasse conta
da narração. O belo cenário de
Silvana Marcondes se colore
com grafites; todas as épocas se
misturam. Ousado, mas, estendendo desnecessariamente o
espetáculo, o artifício soa como
uma fuga pela tangente dos desafios mais adultos de um espetáculo mais convencional.
Vindo de uma turma privilegiada do Teatro-Escola Célia
Helena, o grupo, sete anos depois, ainda soa como de escola,
com tudo o que isso tem de
bom e menos bom. É chegada a
hora de um salto de qualidade,
e o Elevador possui já todos os
ingredientes para isso.
PONTO ZERO
Direção: Marcelo Lazzaratto
Com Ademir Emboava, Carolina Fabri
Onde: Viga Espaço Cênico (r. Capote
Valente, 1323, tel. 3801-1843)
Quando: sábados, 21h; domingos, 20h.
Quanto: R$ 15
Cotação: Regular
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