São Paulo, sábado, 07 de abril de 2007

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Crítica/teatro/"Ponto Zero"

Jovem companhia falha na construção dos personagens

SÉRGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA

"Ponto Zero" é uma montagem sobre a juventude, para a juventude, por um grupo bem jovem. Curiosamente, soa como uma despedida dessa fase. Dentro de uma mostra retrospectiva essa estréia se mantém coerente com a linha de pesquisa do grupo. Como em "Amor de Improviso", presente na mostra, o processo de criação se mantém visível no espetáculo, embora de forma menos radical; mas, dessa vez, a dramaturgia é mais ambiciosa.
Gabriel Miziara, ator e dramaturgista, já havia proposto junto ao diretor Marcello Lazzaratto uma colcha de retalhos no seu solo "Loucura", também encontrável na retrospectiva.
Agora, com um recorte em princípio cronológico de textos, a proposta toma ares quase de painel social.
Pequenas cenas emblématicas de cada década, tiradas de peças de teatro, filmes e romances compõem um painel coerente e fecundo, que ilustra quase pedagogicamente o progressivo desamparo ideológico e existencial das sucessivas novas gerações.
O elenco se desdobra em vários personagens, também marca do grupo, e tem uma boa harmonia, graças ao método de campo de visão de Lazzaratto.
Mas isso não soluciona a imaturidade que ainda está presente na composição de cada personagem. Para fugir ao esquematismo excessivo, na segunda metade do espetáculo, as cartas são misturadas, como se a adrenalina adolescente tomasse conta da narração. O belo cenário de Silvana Marcondes se colore com grafites; todas as épocas se misturam. Ousado, mas, estendendo desnecessariamente o espetáculo, o artifício soa como uma fuga pela tangente dos desafios mais adultos de um espetáculo mais convencional.
Vindo de uma turma privilegiada do Teatro-Escola Célia Helena, o grupo, sete anos depois, ainda soa como de escola, com tudo o que isso tem de bom e menos bom. É chegada a hora de um salto de qualidade, e o Elevador possui já todos os ingredientes para isso.


PONTO ZERO
Direção:
Marcelo Lazzaratto Com Ademir Emboava, Carolina Fabri
Onde: Viga Espaço Cênico (r. Capote Valente, 1323, tel. 3801-1843)
Quando: sábados, 21h; domingos, 20h.
Quanto: R$ 15
Cotação: Regular


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