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ERUDITO/CRÍTICA
Pianista de 17 anos mostra virtuosismo
ARTHUR NESTROVSKI
ARTICULISTA DA FOLHA
Foram três grandes pianistas
em três breves semanas, começando com Vladimir Feltsman, continuando com Arnaldo
Cohen e terminando com o estreante Fabio Martino, que tocou
o pouco ouvido "Concerto nš 2"
de Nikolai Medtner (1880-1951)
com a Osesp regida por Sylvain
Gasançon, anteontem, na Sala
São Paulo.
Martino tem 17 anos. Intensamente 17 anos, no melhor sentido da idade: toca com gana, a cabeleira de cachos balançando
quando o teclado ruge; depois
sonha, nos acordes recheados de
segundas menores ou com décima-terceira na ponta. Faz tudo
com avassaladora musicalidade,
nutrida pelo avassalador virtuosismo.
O "Concerto" de Medtner,
composto na década de 1920, é
uma peça longa (quase 50 minutos) e estrambótica. Amigo de
Rachmaninoff (1873-1943) e, como ele, também grande pianista,
Medtner foi um desses músicos
votados a uma idéia tão alta e tão
funda da música que a própria
música não parece cumprir. Paradoxalmente, a que ele escreve,
seguindo preceitos filosóficos
tanto quanto estéticos, acaba
soando difusa, aquém de suas
próprias ambições.
Tocar esse imemorável "Concerto" de memória foi um ato de
coragem e de entrega da parte do
jovem mas já premiado pianista
(bolsista da Fundação Magda Tagliaferro desde 1997, na classe de
Armando Fava Filho, e hoje aluno de regência na USP, Martino
venceu o Concurso Internacional da Cidade do Fundão, em
Portugal, em 2005). Ele ainda fica
devendo projeção sonora, especialmente nas passagens arpejadas: que as notas estão todas lá a
gente vê mais do que escuta. Mas
entrou no palco da Sala São Paulo com naturalidade de dono,
morou em cada compasso do
"Concerto" e saiu consagrado.
Consagração maior teve Arnaldo Cohen, na semana passada,
gravando ao vivo a "Rapsódia sobre um Tema de Paganini" de
Rachmaninoff, com a Osesp regida por Neschling. O pianista carioca chegou àquele ponto em
que não só domina completamente as coisas como esbanja
prazer nesse domínio. Tem a segurança da maestria e não precisa fazer alarde de nada.
Que grande prazer escutar músicos nesse plano de sabedoria.
Foi o caso também do russo (residente nos EUA) Vladimir Feltsman, que tocou com a Osesp, regida por Cláudio Cruz, há duas
semanas, um pequeno "Concerto-Rondó" de Mozart (1756-91) e
a rara gema modernista do
"Concerto nš 1" de Prokofiev
(1891-1953). Virtude e modéstia
se confundem nas artes de um
músico da música.
Osesp/Martino
Quando: hoje, às 16h30
Onde: Sala São Paulo
(pça. Júlio Prestes, s/nš,
Campos Elíseos, tel. 3337-5414)
Quanto: R$ 25 a R$ 79 (p/ estudantes: R$ 12,50 a R$ 39,50)
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