São Paulo, sábado, 08 de abril de 2006

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ERUDITO/CRÍTICA

Pianista de 17 anos mostra virtuosismo

ARTHUR NESTROVSKI
ARTICULISTA DA FOLHA

Foram três grandes pianistas em três breves semanas, começando com Vladimir Feltsman, continuando com Arnaldo Cohen e terminando com o estreante Fabio Martino, que tocou o pouco ouvido "Concerto nš 2" de Nikolai Medtner (1880-1951) com a Osesp regida por Sylvain Gasançon, anteontem, na Sala São Paulo.
Martino tem 17 anos. Intensamente 17 anos, no melhor sentido da idade: toca com gana, a cabeleira de cachos balançando quando o teclado ruge; depois sonha, nos acordes recheados de segundas menores ou com décima-terceira na ponta. Faz tudo com avassaladora musicalidade, nutrida pelo avassalador virtuosismo.
O "Concerto" de Medtner, composto na década de 1920, é uma peça longa (quase 50 minutos) e estrambótica. Amigo de Rachmaninoff (1873-1943) e, como ele, também grande pianista, Medtner foi um desses músicos votados a uma idéia tão alta e tão funda da música que a própria música não parece cumprir. Paradoxalmente, a que ele escreve, seguindo preceitos filosóficos tanto quanto estéticos, acaba soando difusa, aquém de suas próprias ambições.
Tocar esse imemorável "Concerto" de memória foi um ato de coragem e de entrega da parte do jovem mas já premiado pianista (bolsista da Fundação Magda Tagliaferro desde 1997, na classe de Armando Fava Filho, e hoje aluno de regência na USP, Martino venceu o Concurso Internacional da Cidade do Fundão, em Portugal, em 2005). Ele ainda fica devendo projeção sonora, especialmente nas passagens arpejadas: que as notas estão todas lá a gente vê mais do que escuta. Mas entrou no palco da Sala São Paulo com naturalidade de dono, morou em cada compasso do "Concerto" e saiu consagrado.
Consagração maior teve Arnaldo Cohen, na semana passada, gravando ao vivo a "Rapsódia sobre um Tema de Paganini" de Rachmaninoff, com a Osesp regida por Neschling. O pianista carioca chegou àquele ponto em que não só domina completamente as coisas como esbanja prazer nesse domínio. Tem a segurança da maestria e não precisa fazer alarde de nada.
Que grande prazer escutar músicos nesse plano de sabedoria. Foi o caso também do russo (residente nos EUA) Vladimir Feltsman, que tocou com a Osesp, regida por Cláudio Cruz, há duas semanas, um pequeno "Concerto-Rondó" de Mozart (1756-91) e a rara gema modernista do "Concerto nš 1" de Prokofiev (1891-1953). Virtude e modéstia se confundem nas artes de um músico da música.


Osesp/Martino
    
Quando: hoje, às 16h30
Onde: Sala São Paulo (pça. Júlio Prestes, s/nš, Campos Elíseos, tel. 3337-5414)
Quanto: R$ 25 a R$ 79 (p/ estudantes: R$ 12,50 a R$ 39,50)


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