São Paulo, segunda-feira, 08 de maio de 2006

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SHOW

Instrumental Sesc Brasil passa para as terças, com repertório que mescla sotaque regional, jazz e samba

Vitrine de bons instrumentistas muda de dia

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quem passa pela avenida Paulista, no centro de São Paulo, nos finais das tarde das segundas-feiras, já se acostumou a ver a longa fila de espectadores postados em frente ao Sesc. Desde 1990, ali acontecem os shows gratuitos do projeto Instrumental Sesc Brasil, tradicional ponto de encontro dos fãs do gênero, que terá novo dia e horário: terças, às 19h.
"Vamos correr riscos no início, mas achamos que poderemos fixar esse novo dia", diz Danilo Miranda, diretor regional do Sesc SP. A mudança, segundo ele, se deve ao fato de a unidade da avenida Paulista passar a fechar às segundas-feiras para poder funcionar aos sábados e domingos.
Mentor do projeto instrumental, Miranda lembra que sua determinação de incentivar essa vertente já rendeu situações curiosas. "Eu brincava, no começo, dizendo que não queria canários no projeto. Não queria que ninguém cantasse, quando muito um vocalise", diverte-se, contando que alguns músicos até foram advertidos, por zelo da produção, ao tentar incluir canções nos shows.
"Temos instrumentistas fantásticos no país. Então pensamos que isso tinha de ser mostrado de maneira expressiva", argumenta Miranda. "A instrumental, para mim, é a expressão mais refinada da música, porque ela se comunica sem usar a palavra. Não que o músico seja melhor do que o poeta, mas eles não precisam estar necessariamente juntos."
Para marcar a nova fase do projeto, que, em 16 anos, gerou mais de 700 shows, o Sesc Avenida Paulista programou para este mês quatro atrações que se destacam na cena instrumental, compondo um variado painel de tendências (veja quadro ao lado).
A atração de amanhã vem do Rio de Janeiro. A flautista Andréa Ernest Dias e o pianista Tomás Improta gravaram há pouco, pelo selo Biscoito Fino, um álbum que chama a atenção não só pelas criativas performances, mas pelo ecletismo do repertório. Utilizando boas doses de improvisação, o duo interpreta obras de Moacir Santos, Villa-Lobos, Cole Porter e Gabriel Fauré.
Veterano no gênero, o conceituado pianista carioca Gilson Peranzzetta lança, no show do dia 16, "Manhã de Carnaval - Brazilian Standards", seu 32º álbum. À frente de seu trio, ele imprime lirismo e elegância em versões de clássicos da MPB assinados por Johnny Alf, João Donato e Luiz Bonfá, entre outros.
Atração do dia 23, o violonista paulista Carlinhos Antunes e seus parceiros da Orquestra Mundana lançam um álbum com composições próprias, que surpreendem pela inusitada combinação de influências, fundindo ritmos regionais brasileiros, músicas da África e do Leste Europeu.
Já no dia 30, os integrantes do Sambajazz Trio -Kiko Continentino (piano), Luiz Alves (contrabaixo) e Clauton Sales (bateria)- mostram como atualizaram, no saboroso CD "Agora Sim!" (Guanabara Records), a receita do samba-jazz da década de 60. São quatro shows que somente vêm comprovar o alto nível da música instrumental produzida atualmente no Brasil.


Carlos Calado é jornalista e crítico musical, autor do livro "O Jazz como Espetáculo", entre outros


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