Coreógrafa Susana Yamauchi apresenta 12 cenas no Teatro da Dança

ADRIANA PAVLOVA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Com paciência, a bailarina e coreógrafa Susana Yamauchi maturou durante 12 anos o solo que estréia hoje no Teatro de Dança. Em "WabiSabi", Yamauchi, que é filha de japoneses, leva para o palco a cultura daquele país relida pelos olhos de quem já mergulhou fundo nas tradições orientais.
"Todo o espetáculo está relacionado ao "wabisabi", que é um conceito difundido pelos monges budistas a partir da cerimônia do chá. A idéia é perceber que, numa ação repetida diariamente, nas coisas mais simples do cotidiano, há uma beleza oculta da imperfeição, que a humaniza", diz a coreógrafa, cujos solos anteriores, "À Flor da Pele" (1992), e "A Face Oculta" (1996), também tratavam do Japão de ontem e de hoje.
Embora não tenha criado o solo para as comemorações do centenário da imigração japonesa no país, Yamauchi reconhece que é um trabalho construído para as gerações mais jovens de nipo-brasileiros, que perderam o contato com a cultura de seu país de origem.
Nas 12 cenas que compõem "WabiSabi", há personagens clássicos do Japão recriados por Yamauchi, como o fantasma camponês Mujina e a dança imperial bugaku. Tudo apresentado de uma forma ritualística, como é marca da dança da coreógrafa, dona de movimentos contidos e delicados.

Lado sombrio
"Há citações a fábulas japonesas, a personagens austeros, mostrando um lado sombrio do Japão. Porque, no fundo, acho os japoneses tristes naturalmente", diz a bailarina, cujos primeiros passos de dança foram ensinados por sua avó paterna. "Ela me ensinou posturas da dança japonesa que hoje estão ligadas ao meu trabalho."
"WabiSabi" é resultado do projeto "Artista da Casa" do Teatro de Dança, por meio do qual um convidado recebe a verba de R$ 20 mil para criar um espetáculo inédito. Yamauchi aproveitou o convite para pôr em cena uma pesquisa que se estendeu por mais de uma década. Neste período, no qual não fez trabalhos solos, aproveitou para criar coreografias para seu grupo, o Lúdica Dança.
Hoje, a artista também está à frente do espetáculo "Pedrinho Luz", trabalho piloto do projeto Fábricas de Cultura, envolvendo 50 jovens de diferentes regiões da cidade. O espetáculo teve estréia em dezembro passado e segue rodando diferentes palcos da cidade, como o teatro São Pedro, onde tem apresentação hoje, às 20h.