São Paulo, quarta-feira, 08 de julho de 2009

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Lubitsch ganha mostra no CCBB

Cineasta alemão foi um dos maiores nomes da comédia norte-americana

Mostra começa hoje e vai até dia 19, com 15 filmes, entre comédias e musicais, produzidos na Alemanha e nos Estados Unidos

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA


A história do primeiro filme americano de Ernst Lubitsch pode ser vista como um bom resumo de sua trajetória de cineasta. Ele havia sido contratado por Mary Pickford e a dirigira em "Rosita", em 1923. Consta que Pickford, então uma superestrela, detestou o que viu e fuzilou o alemão com uma frase mortal: "Ele não dirige atores. Ele dirige portas".
Lubitsch conseguiu se esquivar da condenação: "Rosita" fez sucesso e ele seguiu sua carreira em Hollywood, onde tornou-se um dos maiores nomes da comédia americana e ficou famoso pelo "The Lubitsch Touch", que dá nome ao ciclo que hoje se inicia no CCBB.
O que é o "Lubitsch Touch" até hoje se discute. É certo, em todo caso, que dele fazem parte a elegância, a ênfase na sexualidade e a sutileza na observação das relações humanas e de costumes. Além do senso de humor tremendamente desenvolvido, que inclui, naturalmente, o uso exaustivo de portas.
Nada disso se parece com o que se poderia esperar de um diretor alemão nos anos 1920. De fato, Lubitsch nada tem a ver com as angústias do expressionismo. Sua carreira começa durante a Primeira Guerra Mundial, quando acumula as funções de comediante bem-sucedido com a direção. Após o fim da guerra, consagra-se em várias frentes: por um lado, impõe o estrelato de Pola Negri em "Olhos da Múmia" (1918), seu primeiro filme notável; ao mesmo tempo, destaca-se no filme de costumes ("Ana Bolena", 1920) e em comédias como "Princesa das Ostras" (1919).
A mostra do CCBB não demonstrará o fato de Lubitsch ter sido o primeiro alemão a exercer forte influência sobre a produção americana, antes mesmo de F.W. Murnau. Ela é, diga-se, bastante lacunar. Abre mão de clássicos do período alemão (como "A Boneca" ou "Mme. DuBarry"), mas traz raridades, como o primeiro filme de Pola Negri ("Olhos de Múmia") ou "Sapataria Pinkus", de 1916, em que o próprio Lubitsch faz o papel principal.
Da fase americana, a mostra omite os filmes mudos e o início do sonoro, momento em que Lubitsch, trabalhando para a Paramount, contribuiu fortemente para a nova linguagem.
O que veio, no entanto, dá e sobra: da opereta "A Viúva Alegre" (1934) até "O Pecado de Cluny Brown" (1946, sua última obra completa), cria-se uma ideia do que foram os anos do entre-guerras e do imediato pós-guerra em termos de gosto, hábitos e sexualidade. E de política, pois com imenso humor Lubitsch combateu o nazismo ("Ser ou Não Ser") e soube fazer rir com a rigidez comunista ("Ninotschka", com Greta Garbo), antes de morrer em 1947, de ataque cardíaco.
Lubitsch, que era filho de um alfaiate judeu de Berlim, assinou cerca de 70 filmes como diretor em 33 anos. Nesse tempo, demonstrou ser ótimo diretor de atores, apesar da opinião de Pickford. O que não o impediu, diga-se, de dirigir muito bem as portas, que têm papel central em seus filmes. Elas é que separam o público do privado, duas instâncias que Lubitsch soube aproximar com maestria, driblando a censura filme após filmes, sem nunca perder a classe.


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