São Paulo, quinta-feira, 09 de março de 2006

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ARTES PLÁSTICAS

Radicado em Paris desde os anos 50, Arthur Luiz Piza apresenta nova série de objetos na Raquel Arnaud

Tramas de arame de Piza seduzem o olhar

MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL

O arame e suas tramas seduziram Arthur Luiz Piza, 78. Em exposição que abre hoje no Gabinete de Arte Raquel Arnaud, Piza retorna ao Brasil e desdobra sua produção de relevos, tão bem exibida em mostra na Pinacoteca do Estado, em 2002.
"Essas tramas de arame estavam lá no meu ateliê, em um canto, sem mexer. Sempre as olhava e achava que iria fazer algo. Até que um dia resolvi usá-las definitivamente", explica o artista, radicado desde 1951 em Paris e participante dos grandes eventos de arte em âmbito mundial, como a Documenta de Kassel (1959), a Bienal de Veneza (1966) e várias edições da Bienal de São Paulo.
"Ao trabalhar com esse material, parece que diversas formas mais antigas ressurgiram em minha obra. Ao mesmo tempo, a série dá continuidade ao que fazia, usando as formas geométricas", conta Piza.
Considerado "deslocado" dentro do debate sobre como definir a sua obra, em quais movimentos a enquadrar -"aqui, me aproximaram dos concretistas; na França, me ligavam ao surrealismo"- , Piza vê ecos das formas de Malévtich (artista russo, 1878-1935, principal nome do suprematismo) sobre seus novos trabalhos.
"O trabalho de Malévitch me provoca e é muito mais livre que o de Mondrian [artista holandês, 1972-1944, expoente do neoplasticismo], por exemplo, que guarda mais rigidez", diz ele.
Piza lembra do cinetismo dos venezuelanos Jesús Soto (1923-2005) e Cruz Diez como algo que também dialoga com sua obra, principalmente pelo movimento que criam em seus trabalhos.

Desenhos-tramas
A mostra abriga dez desenhos que servem como uma pequena apresentação do que virá a seguir. Neles, Piza trabalha com as formas geométricas -pequenos triângulos, quadrados e retângulos- sendo envolvidos por um emaranhado de linhas cinzas, como teias de metal.
Mas o principal da exposição vem com os 20 objetos tridimensionais do artistas, nos quais as formas geométricas -em planos de metal mais chapado, de diversas cores, ou em redes metálicas, em tons mais neutros- fazem parte de uma espécie de "sanduíche", sendo envoltas pelas tramas de arame. Com formas que saltam dos planos, os objetos se aproximam da série de relevos de sua produção anterior.
De grandes ou reduzidas dimensões, colocados em paredes ou pendurados no teto, se aproveitando da gravidade -"há algo de Calder nisso", diz o artista-, as obras apresentam ritmo e equilíbrio em suas composições.
"Acho que essas obras se aproximam da música. Considero importante que elas tenham ritmo. São como arranjos no espaço", avalia o artista.
Os objetos brincam com noções como cheio e vazio, plano e curvo, exposto e implícito. "Elas [as obras] pedem um olhar mais atento do espectador. Sempre há algo escondido. A cada nova mirada, ela muda", diz Piza.
O fato de as formas estarem encapsuladas remete aos casulos da natureza, espécie de metáfora da transformação e da efemeridade. "Dependendo do olhar, é como se fôssemos encontrar uma borboleta ou uma larva. Também pode ser visto muito de vida e morte."

Obra gráfica
Apesar dos relevos e de seus objetos tridimensionais terem cada vez mais ganhado importância, Piza tem uma grande obra gráfica. Ele participou dos principais eventos do gênero e seus trabalhos fazem parte de acervo de grandes museus, como o Guggenheim, de Nova York, e o Museu de Arte Moderna de Paris.
Mas o artista está cada vez mais distante da gravura. "Ela [a gravura] exige muito esforço físico e toma muito tempo. Quando começa, não há mais como parar."
Piza gosta de rever sua São Paulo natal, mas vê distante os anos 50, quando saiu de Higienópolis ainda com ruas de terra. "Considero-me francês e, ao mesmo tempo, brasileiro. As raízes sempre são fortes."


Tramas - Arthur Luiz Piza
Quando: de seg. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 11h às 14h; até 20/4
Onde: Gabinete de Arte Raquel Arnaud (r. Artur de Azevedo, 401, tel. 3083-6322)
Quanto: entrada franca



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