|
Próximo Texto | Índice
ARTES PLÁSTICAS
Radicado em Paris desde os anos 50, Arthur Luiz Piza apresenta nova série de objetos na Raquel Arnaud
Tramas de arame de Piza seduzem o olhar
MARIO GIOIA
DA REPORTAGEM LOCAL
O arame e suas tramas seduziram Arthur Luiz Piza, 78. Em exposição que abre hoje no Gabinete de Arte Raquel Arnaud, Piza retorna ao Brasil e desdobra sua
produção de relevos, tão bem exibida em mostra na Pinacoteca do
Estado, em 2002.
"Essas tramas de arame estavam lá no meu ateliê, em um canto, sem mexer. Sempre as olhava e
achava que iria fazer algo. Até que
um dia resolvi usá-las definitivamente", explica o artista, radicado
desde 1951 em Paris e participante
dos grandes eventos de arte em
âmbito mundial, como a Documenta de Kassel (1959), a Bienal
de Veneza (1966) e várias edições
da Bienal de São Paulo.
"Ao trabalhar com esse material, parece que diversas formas
mais antigas ressurgiram em minha obra. Ao mesmo tempo, a série dá continuidade ao que fazia,
usando as formas geométricas",
conta Piza.
Considerado "deslocado" dentro do debate sobre como definir
a sua obra, em quais movimentos
a enquadrar -"aqui, me aproximaram dos concretistas; na França, me ligavam ao surrealismo"-
, Piza vê ecos das formas de Malévtich (artista russo, 1878-1935,
principal nome do suprematismo) sobre seus novos trabalhos.
"O trabalho de Malévitch me
provoca e é muito mais livre que o
de Mondrian [artista holandês,
1972-1944, expoente do neoplasticismo], por exemplo, que guarda
mais rigidez", diz ele.
Piza lembra do cinetismo dos
venezuelanos Jesús Soto (1923-2005) e Cruz Diez como algo que
também dialoga com sua obra,
principalmente pelo movimento
que criam em seus trabalhos.
Desenhos-tramas
A mostra abriga dez desenhos
que servem como uma pequena
apresentação do que virá a seguir.
Neles, Piza trabalha com as formas geométricas -pequenos
triângulos, quadrados e retângulos- sendo envolvidos por um
emaranhado de linhas cinzas, como teias de metal.
Mas o principal da exposição
vem com os 20 objetos tridimensionais do artistas, nos quais as
formas geométricas -em planos
de metal mais chapado, de diversas cores, ou em redes metálicas,
em tons mais neutros- fazem
parte de uma espécie de "sanduíche", sendo envoltas pelas tramas
de arame. Com formas que saltam dos planos, os objetos se
aproximam da série de relevos de
sua produção anterior.
De grandes ou reduzidas dimensões, colocados em paredes
ou pendurados no teto, se aproveitando da gravidade -"há algo
de Calder nisso", diz o artista-,
as obras apresentam ritmo e equilíbrio em suas composições.
"Acho que essas obras se aproximam da música. Considero importante que elas tenham ritmo.
São como arranjos no espaço",
avalia o artista.
Os objetos brincam com noções
como cheio e vazio, plano e curvo,
exposto e implícito. "Elas [as
obras] pedem um olhar mais
atento do espectador. Sempre há
algo escondido. A cada nova mirada, ela muda", diz Piza.
O fato de as formas estarem encapsuladas remete aos casulos da
natureza, espécie de metáfora da
transformação e da efemeridade.
"Dependendo do olhar, é como se
fôssemos encontrar uma borboleta ou uma larva. Também pode
ser visto muito de vida e morte."
Obra gráfica
Apesar dos relevos e de seus objetos tridimensionais terem cada
vez mais ganhado importância,
Piza tem uma grande obra gráfica.
Ele participou dos principais
eventos do gênero e seus trabalhos fazem parte de acervo de
grandes museus, como o Guggenheim, de Nova York, e o Museu
de Arte Moderna de Paris.
Mas o artista está cada vez mais
distante da gravura. "Ela [a gravura] exige muito esforço físico e toma muito tempo. Quando começa, não há mais como parar."
Piza gosta de rever sua São Paulo natal, mas vê distante os anos
50, quando saiu de Higienópolis
ainda com ruas de terra. "Considero-me francês e, ao mesmo
tempo, brasileiro. As raízes sempre são fortes."
Tramas - Arthur Luiz Piza
Quando: de seg. a sex., das 10h às 19h;
sáb., das 11h às 14h; até 20/4
Onde: Gabinete de Arte Raquel Arnaud
(r. Artur de Azevedo, 401, tel. 3083-6322)
Quanto: entrada franca
Próximo Texto: Frases Índice
|