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Crítica/cinema
Filme que busca "denúncia" entra em contradição
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
O cinema dito engajado
não raro cai em suas
próprias armadilhas.
Vítimas de suas crenças, os artistas afeitos à "denúncia" nem
sempre estão atentos ao fato de
que toda imagem pode produzir significados que não os que
ela mostra. Nisso, muitos terminam se traindo, como comprova o cineasta austríaco Ulrich Seidl em "Import Export".
Sua intenção é denunciar a
instrumentalização dos indivíduos, expondo como regras sociais e interesses econômicos
se associam em detrimento de
valores humanos. Para isso o
filme acompanha duas trajetórias, destinos invertidos e provas de sua tese.
Olga é uma garota ucraniana,
mãe solteira e enfermeira.
Diante das condições precárias
de sobrevivência em seu país,
busca refúgio na Áustria, onde
aceita trabalhos de empregada
e faxineira, nos quais é humilhada e ofendida.
Pauli é um rapaz austríaco
que treina para ser segurança,
também passa por humilhações e decide acompanhar o padrasto no transporte de máquinas caça-níqueis para países do
ex-bloco soviético, onde se depara com o comércio de pessoas num nível próximo ao da
escravidão.
Pois bem, até aí nenhum problema para quem acha que o cinema é lugar para conscientizar pessoas ou que se sentem
atraídas por filmes com maior
intensidade documental.
Porém, ao longo da projeção
de "Import Export", o que fica
claro é que a intenção de seu diretor não esconde um gozo em
expor o espectador ao que ele
pretende denunciar. Dos corpos das jovens ucranianas retratados como carne pendurada no açougue aos closes nos
idosos dementes internados
num asilo, o percurso do olhar
de Seidl permanece sempre
presa do voyeurismo, do fetiche da degradação.
Esteticamente pode parecer
provocante. Mas o que distingue seu olhar daquele que muitos consideram pornografia?
Avaliação: ruim
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