São Paulo, sábado, 09 de maio de 2009

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Crítica/cinema

Filme que busca "denúncia" entra em contradição

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

O cinema dito engajado não raro cai em suas próprias armadilhas.
Vítimas de suas crenças, os artistas afeitos à "denúncia" nem sempre estão atentos ao fato de que toda imagem pode produzir significados que não os que ela mostra. Nisso, muitos terminam se traindo, como comprova o cineasta austríaco Ulrich Seidl em "Import Export".
Sua intenção é denunciar a instrumentalização dos indivíduos, expondo como regras sociais e interesses econômicos se associam em detrimento de valores humanos. Para isso o filme acompanha duas trajetórias, destinos invertidos e provas de sua tese.
Olga é uma garota ucraniana, mãe solteira e enfermeira. Diante das condições precárias de sobrevivência em seu país, busca refúgio na Áustria, onde aceita trabalhos de empregada e faxineira, nos quais é humilhada e ofendida.
Pauli é um rapaz austríaco que treina para ser segurança, também passa por humilhações e decide acompanhar o padrasto no transporte de máquinas caça-níqueis para países do ex-bloco soviético, onde se depara com o comércio de pessoas num nível próximo ao da escravidão.
Pois bem, até aí nenhum problema para quem acha que o cinema é lugar para conscientizar pessoas ou que se sentem atraídas por filmes com maior intensidade documental.
Porém, ao longo da projeção de "Import Export", o que fica claro é que a intenção de seu diretor não esconde um gozo em expor o espectador ao que ele pretende denunciar. Dos corpos das jovens ucranianas retratados como carne pendurada no açougue aos closes nos idosos dementes internados num asilo, o percurso do olhar de Seidl permanece sempre presa do voyeurismo, do fetiche da degradação.
Esteticamente pode parecer provocante. Mas o que distingue seu olhar daquele que muitos consideram pornografia?



Avaliação: ruim



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