São Paulo, sábado, 09 de junho de 2001

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SHOW

Ex-guitarrista dos Mutantes lança o CD "Estação da Luz" com duas apresentações no Sesc Pompéia, hoje e amanhã

Sérgio Dias volta quadrafônico a São Paulo

Vania Delpoio/Folha Imagem
O guitarrista Sérgio Dias, um dos fundadores dos Mutantes, que lança disco solo com dois shows hoje e amanhã, no Sesc Pompéia


DA REPORTAGEM LOCAL

O túnel do tempo dá dois giros psicodélicos hoje e amanhã, em São Paulo, quando o ex-guitarrista dos Mutantes, Sérgio Dias, 50, ressuscita o sistema quadrafônico de som nos dois shows que faz para lançar seu novo álbum solo, o independente "Estação da Luz".
A técnica, já utilizada por bandas como Pink Floyd, faz o som circular entre quatro caixas diferentes, dando à platéia a sensação de estar inteiramente envolvida pelo som que a banda produz. Já não é a mais avançada das tecnologias, nem no Brasil -em 99, o Chemical Brothers usou em São Paulo oito saídas de áudio, fazendo o som parecer giratório.
Ele refuta, em "Estação da Luz", a ligação direta ao rock progressivo, que o acompanha e fez dele o mais criticado dos ex-Mutantes, principalmente pela fase final do grupo, já sem seu irmão Arnaldo Baptista e Rita Lee.
"Minha música internamente é tão vasta, tem tantos dedos que vocês não fazem a mínima idéia. Mas muito obrigado, não preciso da aprovação de ninguém. Dizem que imitei Yes, mas então por que tudo bem imitar Sly Stone em "Top Top", como os Mutantes faziam? Imitar Elton John em "Balada do Louco" pode?", indigna-se.
Dias, que morou fora do Brasil entre 79 e 89, volta assumindo um discurso político, em disco e show. "O CD é dirigido à situação em que estamos. Não sou ninguém para fazer um movimento, mas tento fazer minha parte. A revolução de 64 conseguiu sua meta, de calar a boca de todos e botar a cultura para fora do país. Hoje a geração da minha filha está amordaçada e amarrada, falta a atitude que é o combustível primário de qualquer movimento vital."
Vai adiante, sem eximir os Mutantes nem ele próprio do rótulo "dinossauro": "Os jovens cultuam ídolos mortos, falta auto-expressão. Está errada essa idéia de que a juventude tem de olhar para o passado para se entender. Caetano Veloso, Gilberto Gil ou eu não respondemos mais por nada, o que importa são os jovens. Garoto não tem que pensar duas vezes antes de falar, tem que falar o que pensa e sente. Não existe nada mais arrogante que a juventude, é assim mesmo".
Um apaixonado pela juventude, o cinquentão? "Se eu não for apaixonado pela juventude, estarei negando tudo o que fui", diz.
Dono da mão que tocou à guitarra o "Hino Nacional" no pequeno show de 1968 que desencadeou o processo de exílio de Caetano Veloso e Gilberto Gil, ele faz, então, um paralelo com a época dos Mutantes:
"Éramos execrados, não vendíamos nada, nunca passamos de 36 mil cópias. É assim mesmo, o jovem tem que entender que música não existe só para comer as minas e ganhar um monte de grana. As grandes companhias são os maiores inimigos da renovação. O independente é o cara mais patriótico, é dele que pode vir a renovação. Qualquer pessoa que assine com uma grande gravadora hoje é um péssimo negociante", prega.
Dias é sarcástico ao comentar o lançamento de um disco chamado "Estação da Luz" em plena era do apagão. "Quando as coincidências começam, é porque há algo aí. Todo o mundo sabe que, se pegassem o dinheiro que roubam e fizessem usinas, não estaria acontecendo isso. A Europa usa energia do mar, mas nós, coitados, temos uma orla tão pequena, não é mesmo?", ironiza.
Dias, que há seis meses trocou a tranquilidade de Araras (RJ) por São Paulo, resume seu projeto em mais essa volta: "Há muito, muito tempo eu não tocava no Brasil. Quero mostrar quem eu sou e reconquistar o amor dessa gente. A energia inter-humana é a única coisa que presta na raça humana".
(PEDRO ALEXANDRE SANCHES)


ESTAÇÃO DA LUZ - show de Sérgio Dias.
Onde: Sesc Pompéia (r. Clélia, 93, tel. 3871-7700). Quando: hoje, às 21h, e amanhã, às 18h. Quanto: R$ 10. Na internet: www.sergiodias.com.br.



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