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TEATRO
Peça dirigida por Celso Frateschi está em cartaz no teatro Ágora
Boas interpretações expõem
angústia de "Antes do Café"
KIL ABREU
CRÍTICO DA FOLHA
Na perspectiva de uma
tragédia moderna, dizia Eugene O'Neill, agora montado pelo
Ágora, que a angústia é o castigo
do homem. Em lugar do divino, o
espírito trágico nasce de sua própria consciência sobre as limitações que o mundo social impõe.
Pois "Antes do Café" é uma pequena tragédia dos tempos modernos, em que a queda do herói é
devida menos à ordem metafísica
e mais à derrocada de certos valores, no movimento objetivo das
relações sociais.
No final da década de 20, época
propícia aos dramas de toda ordem, uma jovem costureira (Jerusa Franco) e seu marido, poeta e
desempregado (Geraldo Lozzi),
vivem o balanço de uma relação
gestada em meio à miséria. A ação
se passa entre o final da noite e o
amanhecer do dia seguinte.
A montagem torna o diálogo
dramático de duas formas: sustentado na ação sem palavras do
marido, que permanece durante
todo o tempo no gesto calado, segredando pensamentos em permanente ameaça; e absorvido no
monólogo da mulher, com sua fala amargurada, em uma sucessão
de cobranças e acusações (o idealismo artístico e as necessidades
de sobrevivência).
A observação sutil da mudança
de comportamento diante da situação social que a condiciona é o
fundo da peça, revelado por trás
dos fatos, nas falas e gestos dos
personagens. O cotidiano do casal, revivido em um ritual patético, inscreve a vida num circuito
alienante, tornado quase histérico
a partir do início da ação.
O lamento objetivo da mulher
(necessariamente pequeno, que
clama por pão e café quente) é o
contraponto da vontade de transcendência representada no poeta.
É nessa desmedida que o conflito
se instala. Entre os dois, a história
pessoal é revista em um balanço
em que fatos comezinhos teimam
em pesar mais que a promessa de
futuro e poesia.
Diante de um texto que pode ser
facilmente pautado nos tempos
do naturalismo televisivo, a montagem dirigida por Celso Frateschi preocupa-se em investigar
seus próprios modos de construção da dramaticidade. Para criar
uma partitura de ações físicas
mais ou menos rigorosa (que neste caso têm importância essencial), os atores se amparam nos
pequenos escombros-objetos de
uma sala-cozinha e dialogam com
o ambiente enquanto fazem a digressão difícil da afetividade abalada de seus personagens.
Sem desprezar os poucos pontos de tensão indicados na dramaturgia, a direção do espetáculo
preferiu caminhar "por fora" dos
grandes climas, centrando toda a
atenção na angústia aparentemente ilhada da mulher. Tendo
sempre como resposta o silêncio
do outro, o personagem verbaliza
todas as contradições do conflito
e cria o chão necessário para que o
desfecho seja verossímil.
Geraldo Lozzi vai bem no papel
do poeta falido, posto à dura tarefa de constituir não apenas respostas sem falas, mas de transformar em gesto expressivo o vazio
da palavra. Talvez um crescente
menos sutil no movimento que
leva o personagem até o desfecho
possa evidenciar qualidades
apontadas. Já a vigorosa interpretação de Jerusa Franco faz a jovem
costureira de O'Neill passear com
igual intensidade entre o desespero, o ciúme e algum momento de
amor ou de solidariedade arrependida, características que encontram espaço nessa montagem.
Antes do Café
Texto: Eugene O'Neill
Direção: Celso Frateschi
Com: Jerusa Franco e Geraldo Lozzi
Onde: teatro Ágora (r. Rui Barbosa, 672,
Bela Vista, tel. 284-0290)
Quando: qui. e sáb., às 21h; dom., às 19h
Quanto: R$ 15
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