São Paulo, quarta-feira, 09 de junho de 2004

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MÚSICA

Depois de quatro anos sem pisar no país, cantor cubano retorna "com energia" para série de shows em SP, RJ e BH

Ibrahim Ferrer faz "buena volta" ao Brasil

Ognen Teofilovski/Reuters
Ibrahim Ferrer, 77, durante apresentação em Skopje, na Macedônia, durante turnê de lançamento de seu CD "Buenos Hermanos"


CASSIANO ELEK MACHADO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Ibrahim, vamos logo", diz a mulher do outro lado do telefone. E silêncio. "Ibrahim, anda, homem." Nada de Ibrahim. "Ibrahim", grita sua mulher, Caridad, alongando a sílaba final. Mais um pouco e eis que chega Ibrahim.
Demora para atender o telefone, lá em Havana, chega ao bocal um pouco resfolegante, mas é só abrir a boca para mostrar sua juventude. "Buenos dias! Don Cassiano?", diz, cheio de energia.
Aos 77 anos, Ibrahim Ferrer só parece devagar mesmo para atender telefones. A foto ao lado foi tirada no mês passado, em um show na Macedônia. Depois ele fez shows pela Romênia, chacoalhou Berlim e assim por diante. E nos dias 17 e 18, a notícia demorou, mas veio, ele se apresenta em São Paulo, no Via Funchal, antes de esticar com um show no Rio e um em Belo Horizonte.
Ferrer não é um novato no país. Desde que o fenômeno "Buena Vista Social Club" estourou, em 1997, levando aos ares Ferrer, Omara Portuondo e os recém-desaparecidos Compay Segundo (1907-2003) e Rubén González (1920-2003), o cantor cubano já passou pelo menos duas vezes ao Brasil, em 1999 e em 2000.
Depois de quatro anos sem pisar por aqui, Ferrer diz que já sente saudades. "Sou apaixonado pelo Brasil há décadas", diz. O namoro começou como começou o namoro de muitos pelo globo afora, nos anos 40: Carmen Miranda, o papagaio Zé Carioca, as paisagens de Copacabana embaladas por Disney.
"Gostava tanto desses filmes que fui trabalhar no cinema, vendendo revistas e doces, para poder assisti-los mais vezes."
Nessas fitas aprendeu a gostar do samba, mas diz que nunca teve coragem nem oportunidade de gravar o ritmo. Não canta "la samba" nem no chuveiro, don Ferrer? "Não", responde firme. "Sou fiel aos boleros e ao son."
São esses os gêneros que ele traz mais uma vez ao país. Acompanhado de "faixas pretas" da música cubana, como o baixista Cachaíto López, o guitarristas Manuel Galbán e o trompetista Guajiro Mirabal, o cantor de Santiago de Cuba diz que apresentará os temas de seu disco mais recente, "Buenos Hermanos" (Warner).
"Perfume de Gardenias", "Boquiñeñe" e "Boliviana" são alguns dos hits. Os temas de "Buena Vista Social Club", que transformaram o então engraxate em um "Cinderelo", também estão indefectivelmente escalados.
"Eu serei sempre e eternamente grato ao "Buena Vista". Graças a ele posso ter uma vida um pouquinho melhor." Sem deixar nenhum grão de silêncio, Ferrer logo emenda: "Mas continuo o mesmo. Minha vida mudou só na forma de viver. Minha forma de ser não mudou nada. E espero que nunca mude".
Não muda também de opiniões. Ferrer não gosta de falar em política, mas defende Fidel Castro quando o repórter pergunta se foi o regime do dirigente político que criou um hiato de mais de dez anos na sua carreira musical, começada nos primeiros anos 50 e gradualmente decadente até o silêncio no fim dos 70.
"Se não gostasse de Fidel, não estaria vivendo aqui. Vivo muito bem por aqui. Saio pelas ruas e ninguém mexe comigo. Vivo como tenho que viver. Agora é melhor, posso ter uma posição mais confortável. Quando alguém vem, tenho cadeiras para que as pessoas sentem e tudo o mais. Mas vamos mudar de assunto, não gosto de politicagem", pede.
Combinado. Música: a rica música cubana renasceu para o Ocidente graças a seus veteranos, dois deles mortos em 2003. Os jovens são tão bons quanto a geração "Buena Vista"?
"A morte de Compay e Rubén foi uma lástima. Morreram bem agora que tinham de viver. Mas pelo menos eles ficaram na história. Os jovens que vêm por aí não deixam a desejar. Espere e verá."
Ferrer, provavelmente com o mesmo sorriso maroto que exibiu no documentário "Buena Vista", diz não querer citar nomes.
Outro assunto querido: mulheres. "Ah, tenho viajado bastante e já estive no Brasil algumas vezes, mas ainda não realizei o sonho de ver o Carnaval daí, com todas aquelas mulheres tão lindas. Para elas, eu até cantava samba", e mais prováveis sorrisos marotos do outro lado da linha (que Caridad, a mulher, não veja).
Viajado bastante quanto, don Ferrer? "Já conheci todos os países do mundo", exagera o cantor.
Antes de desligar, uma das vozes mais generosas da canção mundial pede para mandar um recado. Vai lá, Ibrahim: "Mande um abraço a todos os que você imagina que possam gostar de receber um abraço meu. Especialmente mande um beijo a todas as "muchachas". E que viva o Brasil".

IBRAHIM FERRER. Quando: dias 17 e 18, às 21h30. Onde: Via Funchal (r. Funchal, 65, Vila Olímpia, SP). Quanto: de R$ 50 a R$ 180. Informações: 0/xx/11/3038-6698 (Ticketronics) e 0/xx/11/2163-2000 (Ingresso Rápido).


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