São Paulo, quarta-feira, 10 de março de 2010

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Design finlandês tem simplicidade da terra gelada

Mostra reúne cerca de 200 objetos dos maiores criadores de Helsinque, eleita a capital mundial do design de 2012

Estão na exposição peças de Alvar Aalto, Kaj Franck, Eero Aarnio, Ilka Suppanen e as estampas ultracoloridas da marca têxtil Marimekko


SILAS MARTÍ
ENVIADO ESPECIAL A HELSINQUE

No porão do que era um banco, uma equipe de finlandeses, alguns japoneses, fabricam protótipos de cadeiras, potes, copos e até lareiras portáteis. Lá fora, a neve não dá trégua e cobre a paisagem de um branco ininterrupto.
Não fica difícil entender por que surgiu um design de linhas austeras, simples até não poder mais num país que passa metade do ano no frio polar e boa parte desse tempo mergulhado em escuridão quase total.
"Muitos veem isso como estilo, mas penso em ideologia", diz Ilka Suppanen, o designer de cabelos arrepiados que trabalha no porão do banco. "É o instinto natural dos nossos designers: concentrar no essencial." São dele os traços límpidos de uma lareira portátil feita de vidro e metal -uma espécie de braseiro emoldurado por uma casca curvada e transparente.
Na mostra de design finlandês que começa hoje no Instituto Tomie Ohtake, com mais de 200 objetos surgidos dos estúdios de Helsinque, cidade eleita a capital mundial do design de 2012, seu aquecedor sintetiza essa busca pelo calor aliada a formas simples e naturais.
Mas muito antes de Suppanen, esse desenho mínimo já estava nas invenções de Alvar Aalto, o maior arquiteto finlandês, que também criou móveis e objetos domésticos. Estão na exposição a cadeira de madeira curvada que projetou para um hospital, uma mesinha de chá e seu vaso de formas orgânicas.
São móveis que seguem as linhas acolhedoras de sua arquitetura, de espaços amplos que não perdem a escala humana. Dentro dessa esfera intimista, os objetos de cozinha de Kaj Franck, surgidos na miséria do pós-Guerra, quando as casas no país encolheram, exaltam a praticidade do design finlandês. Ele fez pratos, pires, xícaras e copos que podem ser empilhados, todos de linhas retas.
Só duas décadas depois é que esses ângulos rígidos amoleceram e ganharam os contornos orgânicos do plástico. Nos anos 60, Eero Aarnio revestiu com uma casca escandinava os excessos da estética pop e da space age surgida nos Estados Unidos. Inventa sua cadeira em formato de esfera, móveis redondos em plástico reluzente e a peça que está em São Paulo, espécie de pastilha oval gigantesca que serve de assento. Na mesma pegada, as estampas ultracoloridas da Marimekko traduziram o pop para os pastos e campos finlandeses.
Não demorou para a primeira-dama Jackie Kennedy aparecer em capas de revistas com os vestidos coloridos da marca, ativa até hoje. Tentando herdar parte desse glamour, a personagem de Sarah Jessica Parker em "Sex and the City" tinha uma cortina da marca em casa.
Mas enquanto uma estampa colorida em Manhattan pode ser só decoração, a mesma coisa em Helsinque é alívio para os invernos monocromáticos. Nem aí esses designers abrem mão da função acima de tudo.

O jornalista SILAS MARTÍ viajou a convite da Embaixada da Finlândia



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