|
Texto Anterior | Índice
Design finlandês tem simplicidade da terra gelada
Mostra reúne cerca de 200 objetos dos maiores criadores de Helsinque, eleita a capital mundial do design de 2012
Estão na exposição peças de Alvar Aalto, Kaj Franck, Eero Aarnio, Ilka Suppanen e as estampas ultracoloridas da marca têxtil Marimekko
SILAS MARTÍ
ENVIADO ESPECIAL A HELSINQUE
No porão do que era um banco, uma equipe de finlandeses,
alguns japoneses, fabricam
protótipos de cadeiras, potes,
copos e até lareiras portáteis.
Lá fora, a neve não dá trégua e
cobre a paisagem de um branco
ininterrupto.
Não fica difícil entender por
que surgiu um design de linhas
austeras, simples até não poder
mais num país que passa metade do ano no frio polar e boa
parte desse tempo mergulhado
em escuridão quase total.
"Muitos veem isso como estilo, mas penso em ideologia", diz
Ilka Suppanen, o designer de
cabelos arrepiados que trabalha no porão do banco. "É o instinto natural dos nossos designers: concentrar no essencial."
São dele os traços límpidos
de uma lareira portátil feita de
vidro e metal -uma espécie de
braseiro emoldurado por uma
casca curvada e transparente.
Na mostra de design finlandês
que começa hoje no Instituto
Tomie Ohtake, com mais de
200 objetos surgidos dos estúdios de Helsinque, cidade eleita
a capital mundial do design de
2012, seu aquecedor sintetiza
essa busca pelo calor aliada a
formas simples e naturais.
Mas muito antes de Suppanen, esse desenho mínimo já
estava nas invenções de Alvar
Aalto, o maior arquiteto finlandês, que também criou móveis
e objetos domésticos. Estão na
exposição a cadeira de madeira
curvada que projetou para um
hospital, uma mesinha de chá e
seu vaso de formas orgânicas.
São móveis que seguem as linhas acolhedoras de sua arquitetura, de espaços amplos que
não perdem a escala humana.
Dentro dessa esfera intimista, os objetos de cozinha de Kaj
Franck, surgidos na miséria do
pós-Guerra, quando as casas no
país encolheram, exaltam a
praticidade do design finlandês. Ele fez pratos, pires, xícaras e copos que podem ser empilhados, todos de linhas retas.
Só duas décadas depois é que
esses ângulos rígidos amoleceram e ganharam os contornos
orgânicos do plástico. Nos anos
60, Eero Aarnio revestiu com
uma casca escandinava os excessos da estética pop e da space age surgida nos Estados Unidos. Inventa sua cadeira em
formato de esfera, móveis redondos em plástico reluzente e
a peça que está em São Paulo,
espécie de pastilha oval gigantesca que serve de assento.
Na mesma pegada, as estampas ultracoloridas da Marimekko traduziram o pop para os
pastos e campos finlandeses.
Não demorou para a primeira-dama Jackie Kennedy aparecer
em capas de revistas com os
vestidos coloridos da marca,
ativa até hoje. Tentando herdar
parte desse glamour, a personagem de Sarah Jessica Parker
em "Sex and the City" tinha
uma cortina da marca em casa.
Mas enquanto uma estampa
colorida em Manhattan pode
ser só decoração, a mesma coisa em Helsinque é alívio para os
invernos monocromáticos.
Nem aí esses designers abrem
mão da função acima de tudo.
O jornalista SILAS MARTÍ viajou a convite da Embaixada da Finlândia
Texto Anterior: Cinema: Festival do Minuto começa amanhã Índice
|