São Paulo, quarta-feira, 10 de abril de 2002
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DANÇA Cantora argentina volta à cidade com "Tangamente", em que interpreta tangos de seu ex-marido Stagium reúne Baltar e Piazzolla
ANA FRANCISCA PONZIO FREE-LANCE PARA A FOLHA No final de 1996, Amelita Baltar recebeu em Buenos Aires um telefonema do Ballet Stagium, de São Paulo, convidando-a para cantar ao vivo durante a temporada de estréia de "Tangamente", espetáculo que Décio Otero havia coreografado sob inspiração das músicas de Astor Piazzolla (1921-1992). Para Baltar, que no fim dos anos 60 tornou-se musa e mulher do compositor argentino, a colaboração com o Stagium seria a chance de renovar seus laços com o Brasil, onde ela e Piazzolla passaram a cultivar amigos (como Vinicius de Morais) a partir de 1971, quando ambos se apresentaram em São Paulo e no Rio. Hoje, Baltar volta a cantar ao lado do Stagium, que reapresenta "Tangamente" até domingo, no teatro São Pedro. Ainda uma referência internacional do tango, Baltar afirma que o Brasil continua sendo seu país artístico. "O público brasileiro compreendeu a música de Piazzolla antes dos argentinos. Quando nos apresentamos aqui pela primeira vez, ainda enfrentávamos resistências na Argentina", lembra a cantora, sobre a fase em que as platéias conservadoras rejeitavam a renovação promovida no tango por Piazzolla. Nascida em Buenos Aires, Baltar começou sua carreira em 1962 como cantora de folclore argentino. Em 1968, Piazzolla a descobriu, convidando-a para protagonizar sua ópera-oratório "Maria de Buenos Aires". "Ter sensibilizado um dos maiores músicos do século 20 foi uma honra e um privilégio", diz a cantora, que com o tempo passou a interpretar composições concebidas por Piazzolla especialmente para ela. Inédita Mesmo após a separação do casal, em meados da década de 70, ela continuou encarnando a obra do compositor, fazendo sucesso até hoje com um repertório majoritariamente assinado por ele. Em seu recém-lançado CD, "Amelita de Todos los Tangos" (cujo título ela diz ter "roubado" de um texto escrito por um jornalista gaúcho), ela incluiu uma canção inédita de Piazzolla. "O novo disco está vendendo muito bem em vários países, principalmente no Japão, onde o tango é muito apreciado." A condição de solista ela abandona somente no espetáculo do Stagium. "A participação em "Tangamente" me permite compartilhar energias com os bailarinos. Isso é raro em minha carreira e me faz deixar de lado certa solidão das apresentações solo." Entre as músicas que interpreta junto com o elenco do Stagium, estão clássicos de Piazzolla. Um deles é o popular "Balada para un Loco", criada sobre um poema de Pablo Neruda. "Neruda escreveu esse poema para sua mulher, Matilde Urrutia, quando estava com ela na Europa, em lua-de-mel", afirma Baltar, que também canta "Prelúdio para o Ano 3001" e "Balada para Mi Morte" entre as sete composições de Piazzolla escolhidas por Otero para "Tangamente". Para Otero, que em 2001 completou 30 anos como coreógrafo do Ballet Stagium, cuja direção ele divide com Márika Gidali, a criação de "Tangamente" representou mais uma de suas incursões na cultura latino-americana. Por meio dos tangos de Piazzolla, Otero procurou sintetizar, coreograficamente, a solidão que permeia os relacionamentos humanos. "O espetáculo já estava pronto quando o Stagium me chamou, em 1996, para participar das apresentações. Fiquei surpresa com a interpretação dos bailarinos, pois a experiência era inédita para mim", diz Baltar, salientando que o elenco renovado da companhia paulista recria a sensação de primeiro encontro. Aos 40 anos de carreira, Baltar se prepara para deixar o bairro da Recoleta, onde vive, em Buenos Aires. Após a temporada com o Stagium, ela fará apresentações na Holanda para, em seguida, estabelecer-se na Europa. "Já não é mais possível viver de arte na Argentina", comenta, lamentando a situação econômica de seu país. TANGAMENTE - com o Ballet Stagium. Quando: de hoje a sábado, às 21h; domingo, às 18h. Onde: teatro São Pedro (r. Barra Funda, 171, tel. 3661-6529). Quanto: R$ 10 e R$ 5. Próximo Texto: Frases Índice |
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