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ARTES PLÁSTICAS
Em primeira individual em SP, com curadoria de Angélica de Moraes, gaúcha mostra perfil de sua obra
Elida Tessler expressa falas inacabadas
JULIANA MONACHESI
FREE-LANCE PARA A FOLHA
"Tu não tem aí uma chave que o
segredo não serve mais?", perguntava a artista às pessoas que
encontrava, dos amigos aos taxistas. A coleção de chaves sem dono, sem par, sem função cresceu
graças a esse esforço coletivo, à
troca de afetos que é tão presente
na produção de Elida Tessler. A
obra, intitulada "Palavras-Chaves", reúne em claviculários as
chaves com gravações que segredam palavras de textos literários.
Na instalação "Coisas de Café
Pequeno", encontramos as palavras do romance de Zulmira Ribeiro Tavares gravadas em prendedores de roupa, expostos contra um fundo formado por seis
varais com toalhas brancas penduradas. A artista extraiu do livro
todas as palavras que nomeavam
objetos, vocábulos palpáveis que
ela dispõe linearmente no varal,
sintetizando a leitura do romance.
Como vasos comunicantes, as
obras escolhidas pela curadora
Angélica de Moraes para a mostra
dialogam entre si, clarificam o
processo e a trajetória da artista,
dando a ver um poético léxico de
coleções que falam de afeto, de vida cotidiana e de memória.
O trabalho mais emblemático é
"Falas Inacabadas", uma bancada
com objetos feitos com gaze, arame, palha de aço e outros materiais que parecem surgir da urgência e que formam uma coleção
sobre a passagem do tempo (mergulhados que são em recipientes
com água, deixando resíduos-desenhos). Iniciado em 1993, o projeto ganhou novas configurações
em mostras diversas e, como o título indica, permaneceu inacabado, incorporando outros objetos.
Essa lenta absorção, que transforma frascos de vidro em pinturas ou gravuras, perpassa todas as
obras (absorção de segredos, de
camadas de lembranças etc.).
Uma produção artística assim ligada à memória é necessariamente atravessada pela questão da efemeridade. A artista incorpora serenamente os efeitos do tempo
sobre as peças e se refere, por
exemplo, a uma série antiga de
desenhos feitos por meio de oxidação desta forma: "Minha esperança é que um dia eles virem pó".
VASOS COMUNICANTES. Onde:
Pinacoteca do Estado (pça. da Luz, 2, tel.
229-9844). Quando: vernissage hoje, das
11h às 15h; de ter. a dom., das 10h às
18h; até 15/6. Quanto: R$ 4 (aos sábados,
entrada franca).
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