São Paulo, sábado, 10 de agosto de 2002

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"PARIS 1900"

Mostra recupera valores da indústria do luxo

Divulgação
Tela "A Trapeira", de Chahine (1901), que faz parte da exposição "Paris 1900", em cartaz no Masp


FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA

"Paris 1900" é mostra eclética. Agrupa diversas técnicas de belas-artes para repensar uma das Exposições Universais que proclamavam o triunfo da civilização eurocêntrica.
A maioria do acervo provém do Petit Palais. Contudo, as modestas peças enviadas pela instituição parisiense raramente dão a noção do espetáculo assistido por 50 milhões de espectadores há cem anos. Obras acrescentadas pelo Masp na montagem paulistana elevam a qualidade do conjunto.
Na virada do século 20, a República Francesa mantinha a indústria do luxo como fundamento econômico. As belas-artes que haviam feito do país modelo de imitação eram reafirmadas frente ao mundo como valor nacional.
As contradições do modelo francês de produção de bens de consumo são evidentes. O aprisionamento em valores estéticos retrógrados fazia do trabalho artesanal a base de peças exclusivas e caras, tal como o pente "Assíria" de Grasset (1900) ou a taça art nouveau de Feuillâtre (1906).
A pintura destaca-se como segmento principal. Técnica manual por excelência, simboliza o apego a formas arcaicas de mercadoria.
O primeiro grupo pictórico retrata cenas da vida urbana. Por um lado, o trabalho infantil é embelezado no sono distante do jovem vendedor de violetas em "Sem Asilo", de Pelez (1890). Por outro, o glamour do convívio em sociedade aparece nas pinceladas impressionistas de "A Música", de Mary Cassat (1874).
A figuração da mulher agrupa obras de qualidade. O núcleo curatorial abre-se com a "Mulher de Luvas", de Giron (1883): uma toilette vespertina sobre arabescos que prefigura composições de Klimt. A variedade de tipos sociais é notável, indo desde "A Trapeira", de Chahine (1901), até a "Bailarina Loie Fuller", de Toulouse-Lautrec (1893). Entre os retratos, destacam-se a azulada Suzanne Bloch, por Picasso (1904), e a fantasmagórica Pauline Ménard-Dorien, por Carrière (1893).
O conjunto de pintura simbolista trata o irracional. O suicídio de Ofélia é revisto por Steck em 1894: o corpo inexpressivo afunda soltando bolhas e violetas.
A irregularidade do percurso é compensada pela clareza da montagem. O acervo de nosso próprio museu é, novamente, diferencial que amplia o poder de reflexão de mostras vindas do exterior.


"Paris 1900"    
Onde: Masp (av. Paulista, 1.578, subsolo, Bela Vista, tel. 0/xx/11/251-5644)
Quando: ter., qua. e sex. a dom., das 11h às 18h; qui., das 11h às 20h (a bilheteria fecha uma hora antes do encerramento)
Quanto: R$ 10 (grátis para menores de 10 e maiores de 60 anos)



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