São Paulo, domingo, 10 de agosto de 2008

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Crítica/"O Grande Dave"

Com poucos momentos de brilho, filme desperdiça potencial cômico de Murphy

Divulgação
O comediante no filme, em que vive espaçonave e seu capitão

PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA

Eddie Murphy é, hoje, uma figura deslocada em Hollywood. As comédias "mainstream" se renovaram e ganharam novo tom, com a marca do diretor-produtor Judd Apatow ("O Virgem de 40 Anos", "Ligeiramente Grávidos"). Por outro lado, uma nova geração de atores negros ganhou popularidade (Will Smith à frente), graças, em parte, às portas abertas por Murphy nos anos 80.
Depois do relativo êxito de "Norbit" (2007), "O Grande Dave" marca mais um ponto baixo na irregular carreira do ator. Seu papel no filme é duplo (e não múltiplo, como de hábito): ele é Dave -uma espaçonave extraterrestre em forma de gente- e seu capitão sem nome, que "habita" o corpo-espaçonave com uma tripulação.
Dave desembarca na Terra (bem ao lado da Estátua da Liberdade) com a missão de recuperar um dispositivo capaz de roubar a água dos oceanos para salvar seu planeta. Toda a graça do filme se divide entre o histrionismo de Murphy como a espaçonave e a sobriedade de seu "interior", onde toda a tripulação (capitão inclusive) se transforma a partir da observação da humanidade.
Um saboroso anacronismo marca vários elementos do filme, da roupa que Dave veste (um terno branco como o de Ricardo Montalban na série "A Ilha da Fantasia", escolhido porque foi a única imagem que os ETs conseguiram interceptar) aos efeitos especiais, que em certo momento parecem uma nova versão de "Querida, Encolhi as Crianças" (1989).
"O Grande Dave" é o mais infantil entre os filmes recentes de Murphy e, pelas oportunidades da história, seria aquele com maior potencial para virar uma boa comédia. Mas isso não acontece. Com poucos momentos de brilho, o filme se ressente da ausência de um nome como John Landis, que dirigiu as melhores comédias do ator nos anos 80 ("Trocando as Bolas" e "Um Príncipe em Nova York").
Brian Robbins, que também dirigiu Murphy em "Norbit", consegue apenas aqueles dois ou três momentos engraçados necessários para se colocar no "trailer" e "vender" o filme como comédia, mas não segura as pontas de um longa-metragem.
Talvez porque dirigir uma comédia com um ator como Murphy, com seu senso de humor essencialmente corporal, não seja simples como parece. O que é uma pena, pois, aqui, a história tinha oportunidades de ouro para o talento do comediante. Um desperdício.


Avaliação: regular



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