São Paulo, quinta-feira, 10 de outubro de 2002

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TEATRO

"Meu Destino É Pecar", escrito pelo autor de "Vestido de Noiva" sob o pseudônimo de Suzana Flag, estréia amanhã

Grupo encena Nelson Rodrigues feminino

Guto Muniz/Divulgação
Cena do espetáculo "Meu Destino É Pecar", adaptação do folhetim de Suzana Flag, pseudônimo de Nelson Rodrigues, interpretada pela carioca Cia. dos Atores


PEDRO IVO DUBRA
DA REDAÇÃO

Um ano antes, sem maiores restrições, a fama de renovador do teatro brasileiro. Um depois, com endossos muitos, a impopularidade censurada do "teatro desagradável". E, por entre altos e baixos, espremido em meio a "Vestido de Noiva" e "Álbum de Família", "Meu Destino É Pecar".
Publicado em "O Jornal", em 1944, o folhetim despretensioso que Nelson Rodrigues (1912-1980) pariu sob o pseudônimo de Suzana Flag ganha a partir de amanhã o palco do teatro Sesc Anchieta em adaptação da Cia. dos Atores ("Melodrama" e "O Rei da Vela", entre outras).
Estreada em março, em Curitiba, a peça já girou por São José do Rio Preto, Belo Horizonte, Porto Alegre, Brasília e Caxias do Sul. Daqui, parte para Goiânia.
"O jogo do folhetim era muito mais viável, pela formação do grupo, que montar uma peça de Nelson Rodrigues, em que teríamos de chamar pessoas de outras faixas etárias etc. Considero-me ainda virgem em Nelson Rodrigues. Eu não montei Nelson, montei um folhetim de Suzana Flag", afirma Gilberto Gawronski, 40, diretor-geral do espetáculo, cujas atribuições, como ocorre com as peças do grupo, foram compartilhadas com o elenco.
Em 13 anos de existência, a companhia carioca pela primeira vez não apresenta uma direção de espetáculo assinada pelo ator Enrique Diaz. Gawronski, também intérprete, foi convidado para levar a cabo a tarefa. Dos oito atores que formam o núcleo desde o início, Marcello Valle e Drica Moraes não participam da encenação. Diaz compôs o elenco em Curitiba e no Rio, mas, no momento, realiza outro projeto teatral. Dira Paes e Malu Galli foram convidadas, perfazendo o sexteto que encampa a montagem.
A aposta recai no revezamento frenético de papéis, para dar conta das numerosas figuras que se espalham pela copiosa trama. Mulheres interpretam homens e vice-versa. Por vezes, dois ou três atores fazem simultaneamente a mesma personagem.
O fio do enredo, enxugadas as tramas paralelas, é retesado pelo drama de Leninha, que, para salvar o pai da cadeia, se casa com Paulo, viúvo atormentado pela lembrança da primeira mulher. Completam o panorama, sempre em chave rocambolesca, a sogra autoritária, o cunhado sensual.
"O pessoal, por ter montado "Melodrama", em 95, já tinha habilidade com o gênero. Acho o folhetim primo dele, um de seus produtos", diz Gawronski.
"Busquei sempre uma veracidade das situações dramáticas, como acontece numa boa telenovela", completa o diretor, traçando a ancestralidade do texto avidamente sorvido à época.
"A continuidade da história vinha do envolvimento do leitor. Não era uma obra fechada. E Nelson Rodrigues tinha uma coisa interessante, de incorporar à narrativa o que fazia sucesso, o que era consumido. Não tinha pudor em citar "E o Vento Levou...". Hoje ele poderia, por exemplo, fazer referências a "Cidade de Deus"."
Gilberto Gawronski relata que intentou espelhar o modo de produção da TV em sua encenação, como estímulo. "Propunha aos atores a leitura de cada capítulo e uma improvisação. Em doses homeopáticas, como numa telenovela. Eles receberam a última cena no dia da estréia."
No cenário, criado por Cristina Novaes e Mina Quental, predomina o despojamento. Seis cadeiras, sinuosas, femininas, dividem o espaço com um grande armário, que contém as roupas. Os figurinos, aliás, concebidos pelo ator Marcelo Olinto, foram indicados ao Prêmio Shell carioca.



MEU DESTINO É PECAR - Texto: Nelson Rodrigues (Suzana Flag). Direção: Gilberto Gawronski. Com: Cia. dos Atores e atrizes convidadas. Onde: teatro Sesc Anchieta (r. Dr. Vila Nova, 245, tel. 3256-2281). Quando: estréia amanhã, às 21h; sex. e sáb., às 21h, e dom., às 19h; até 20/10. Quanto: R$ 10 e R$ 20. Patrocinador: Brasil Telecom.


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