São Paulo, quarta-feira, 10 de novembro de 2004
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MÚSICA Show, CD, DVD, especial de TV e edições especiais de revistas voltam a focalizar o roqueiro baiano, morto em 1989 Tributo coroa mais uma onda pró-Raul
PEDRO ALEXANDRE SANCHES DA REPORTAGEM LOCAL Ele ainda vive. Por coincidência ou sincronia, Raul Seixas (1945-89) é motivo de mais uma série de homenagens, que acontecem neste mês, quase todas ao mesmo tempo. Hoje, por exemplo, é dia de um show coletivo que acontece em São Paulo, com convidados díspares como BNegão, Zeca Baleiro, Sandra de Sá, Luiz Carlini, Arnaldo Brandão e outros. Trata-se do chamado "O Baú do Raul", alavancado pela ex-mulher de Raul Kika Seixas, que já está na décima edição e desta vez inclui a participação de uma das filhas do roqueiro baiano, Vivian Seixas, 23. Vivian é DJ de música eletrônica, mas tem feito a exceção de tocar os rocks propositalmente cafonas do pai em eventos em sua homenagem. "Meu interesse pela música eletrônica começou em 98, numa viagem de intercâmbio para a Austrália. Meu trabalho é diferente do meu pai, toco house. Excepcionalmente vou tocar só músicas dele nos intervalos para troca de bandas", ela explica. Outra homenagem prevista para este mês segue os moldes de tributo do "Baú do Raul", mas se estenderá aos formatos DVD, CD e especial de TV. Faz parte da série "Multishow ao Vivo", do canal pago Multishow. A gravação aconteceu em setembro, e contou com elenco variado e extenso: Caetano Veloso ("Maluco Beleza", de 77), Lobão ("Rock do Diabo", 75), Marcelo D2 e BNegão ("É Fim de Mês", 75), Marcelo Nova ("Não Fosse o Cabral", 83, e "Pastor João e a Igreja Invisível, 89), Zélia Duncan ("Metamorfose Ambulante", 73), Pedro Luís e A Parede ("Eu Sou Eu, Nicuri É o Diabo", 72, e "As Aventuras de Raul Seixas na Cidade de Thor", 74), Nasi ("Sociedade Alternativa", 74), Pitty ("Eu Sou Egoísta", 75), AfroReggae ("Mosca na Sopa", 73), Raimundos ("Aluga-Se", 80), CPM 22 ("Al Capone", 73, e "Plunct Plact Zuuum", 83), Gabriel o Pensador ("Rockixe", 73), DJ Marlboro (Rock das Aranhas", 80) etc. Raul está presente não só nos palcos, mas também nas bancas de jornal. É o focalizado da capa do volume sobre os anos 70 de "História do Rock Brasileiro", edição especial da revista "Superinteressante". Além disso, o velho rebelde ganhou edição de luxo exclusiva e fartamente ilustrada, dentro da série "Biografias", da revista "Contigo!". A nova ondinha configura fenômeno que, com Raul, tem sido intermitente: sua música resiste e parece se auto-reciclar de tempos em tempos, mesmo que cada vez mais gente reclame dos fãs fundamentalistas e do lado "bicho-grilo" do músico. É tal oposição a Raul que criou, por exemplo, o grito irônico de "toca Raul" em festas, festinhas e rodas de violão -querendo, muitas vezes, dizer justamente o contrário, "não toca Raul". Vivian, que toca Raul e toca house, diz não se incomodar com o bordão, nem com um possível lastro preconceituoso contra a obra de seu pai: "Não acho preconceituoso o "toca Raul". Ao contrário, acho a mais viva expressão da saudade de seus fãs. O "toca Raul" e a passeata em São paulo, que leva mais de 3.000 pessoas às ruas, são demonstrações reais dessa saudade". Onda vai, onda vem, o Raul compreendido (por seus fãs) e o Raul incompreendido (por amantes de MPB ou de rock'n'roll que torcem o nariz para sua suposta "cafonália") ainda esperam por se reencontrar. No geral, os primeiros se mantêm ferrenhos numa adoração que beira o fanatismo, enquanto os segundos ainda não conseguiram vislumbrar que tiveram em Raul um dos veiculadores mais subversivos, ideológicos e politizados do rock'n'roll -mundial, não só brasileiro. Este Raul total não vive, ele ainda nem nasceu. O BAÚ DO RAUL. Show-tributo com Zeca Baleiro, BNegão, Sandra de Sá, Nasi e outros. Onde: Kasebre Rock Bar (av. Aricanduva, 12.000, tel. 6112-9219). Quanto: R$ 10. Próximo Texto: Edu Lobo volta ao palco do Baretto, depois de cirurgia de aneurisma Índice |
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