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Crítica / "500 Dias com Ela"
Comédia romântica vai além dos clichês do gênero
RICARDO CALIL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"500 Dias com Ela"
quer ser um filme esperto. Em seu primeiro longa-metragem, o americano Marc Webb, diretor de
videoclipes, lança mão de todos
os recursos à sua disposição para impressionar o espectador:
narrativa não linear, vinhetas
de animação, sequência musical e assim por diante.
Mas o segredo de "500 Dias
com Ela" não é ser um filme esperto, mas sim tocante. Os elementos citados acima até formam conjunto harmônico, mas
não são muito mais que perfumaria. O sucesso da produção
reside em razões mais antiquadas e quase impalpáveis.
Primeiro, a química entre os
protagonistas. Depois, e mais
importante, o fato de ter algo a
dizer sobre um tema essencial:
uma pessoa amar outra que não
a ama de volta.
O tema é recorrente em comédias românticas. Mas, aqui,
há uma inversão no roteiro tradicional: a parte frágil não é a
mulher, e, sim, um homem que
ama demais. Ele é Tom Hansen
(Gordon-Levitt), arquiteto
frustrado que tem a rotina alterada quando Summer (Deschanel) chega ao escritório. Os dois
engatam relação que ele insiste
em batizar (de namoro) e que
ela prefere não nomear.
Os 500 dias de relação são filtrados pela memória de Tom. É
como um "Hiroshima Mon
Amour" (1959) para a geração
Twitter, o clássico de Alain
Resnais sobre memórias amorosas desconexas traduzido para o tempo da gratificação instantânea.
Mas, mesmo com certas facilidades, "500 Dia com Ela" fala
duas ou três coisas importantes
sobre o amor. Que ele pode ser
injusto. Que pode ser fonte de
infinita melancolia. Que acaba.
E que a mulher dos seus sonhos
pode não ser a mulher ideal para você. É mais do que a maioria
das comédias românticas tem
coragem de dizer.
500 DIAS COM ELA
Avaliação: bom
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