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Gravuras de Amilcar de Castro ganham mostra em SP
Obra do russo Maliévitch influenciou artista mineiro
SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL
Desenho é mais do que um
traço sobre uma superfície na
obra de Amilcar de Castro. É
corte, incisão, ordem direta de intervenção sobre o plano.
Artista que cortou e dobrou o
aço em esculturas que ajudaram a definir o concretismo
brasileiro, pautado pelo embate entre planos da imagem e
formas desconstruídas no espaço, Castro transferiu a lógica
de suas obras tridimensionais
às 600 gravuras que fez nos últimos 13 anos de vida -de 1989 a 2002, quando morreu.
Uma seleção de 34 dessas gravuras está agora na Caixa Cultural como testemunho de
sua tradução da escultura para o plano bidimensional. "É um traço límpido, incisivo", descreve o curador da mostra, Evandro Salles, 54. "É essa incisão, essa lógica que ele usa na
escultura: pegar uma chapa, passar um corte e dobrar."
Nas gravuras, são dobras que, embora no mesmo plano, parecem entrecruzadas, sobrepostas. Formas pretas sobre fundo branco, ou traços brancos que
se destacam do negro, estendem a lógica do espaço às linhas
desse desenho. Não são cores em composição, mas um diálogo entre presença e ausência.
Também tem carga semântica a escolha de 34 gravuras de
uma série de 600. Kasimir Maliévitch, que fundou o construtivismo russo com seu "Quadrado Negro", também reuniu em livro 34 gravuras, que ele preferiu chamar de desenhos.
Da mesma forma, Castro
chamava suas pinturas de desenhos. Também fez do quadrado
negro mote central dessa investigação do embate entre planos.
Essa forma geométrica aparece em todas as gravuras de Castro.
Ele viola, constrói e desfaz de
forma obsessiva os lados transbordantes dos quadriláteros,
como se tentasse prever seu
comportamento no espaço
real, nas dimensões que vão além do plano do papel.
"Esse conjunto aponta de
forma vigorosa esse corte e dobra", analisa Salles. "Apareceu
com clareza muito grande a
questão do quadrado e isso
lembra o "Quadrado Negro" de
Maliévitch, que fundou mesmo
a articulação entre os planos."
Fora do quadrado, neoconcretistas contemporâneos de
Castro, como Lygia Clark e Hélio Oiticica, transformam esse
embate em "Bichos", "Bólides",
"Penetráveis" -sinal de que a
incisão não ficou só no aço.
AMILCAR DE CASTRO
Quando: ter. a sáb., das 9h às 21h;
dom., das 10h às 21h; até 7/2
Onde: Caixa Cultural (av. Paulista,
2.083, tel. 3321-4400)
Quanto: entrada franca
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