São Paulo, quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

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Gravuras de Amilcar de Castro ganham mostra em SP

Obra do russo Maliévitch influenciou artista mineiro

SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Desenho é mais do que um traço sobre uma superfície na obra de Amilcar de Castro. É corte, incisão, ordem direta de intervenção sobre o plano.
Artista que cortou e dobrou o aço em esculturas que ajudaram a definir o concretismo brasileiro, pautado pelo embate entre planos da imagem e formas desconstruídas no espaço, Castro transferiu a lógica de suas obras tridimensionais às 600 gravuras que fez nos últimos 13 anos de vida -de 1989 a 2002, quando morreu.
Uma seleção de 34 dessas gravuras está agora na Caixa Cultural como testemunho de sua tradução da escultura para o plano bidimensional. "É um traço límpido, incisivo", descreve o curador da mostra, Evandro Salles, 54. "É essa incisão, essa lógica que ele usa na escultura: pegar uma chapa, passar um corte e dobrar."
Nas gravuras, são dobras que, embora no mesmo plano, parecem entrecruzadas, sobrepostas. Formas pretas sobre fundo branco, ou traços brancos que se destacam do negro, estendem a lógica do espaço às linhas desse desenho. Não são cores em composição, mas um diálogo entre presença e ausência.
Também tem carga semântica a escolha de 34 gravuras de uma série de 600. Kasimir Maliévitch, que fundou o construtivismo russo com seu "Quadrado Negro", também reuniu em livro 34 gravuras, que ele preferiu chamar de desenhos.
Da mesma forma, Castro chamava suas pinturas de desenhos. Também fez do quadrado negro mote central dessa investigação do embate entre planos.
Essa forma geométrica aparece em todas as gravuras de Castro.
Ele viola, constrói e desfaz de forma obsessiva os lados transbordantes dos quadriláteros, como se tentasse prever seu comportamento no espaço real, nas dimensões que vão além do plano do papel.
"Esse conjunto aponta de forma vigorosa esse corte e dobra", analisa Salles. "Apareceu com clareza muito grande a questão do quadrado e isso lembra o "Quadrado Negro" de Maliévitch, que fundou mesmo a articulação entre os planos."
Fora do quadrado, neoconcretistas contemporâneos de Castro, como Lygia Clark e Hélio Oiticica, transformam esse embate em "Bichos", "Bólides", "Penetráveis" -sinal de que a incisão não ficou só no aço.


AMILCAR DE CASTRO

Quando: ter. a sáb., das 9h às 21h; dom., das 10h às 21h; até 7/2
Onde: Caixa Cultural (av. Paulista, 2.083, tel. 3321-4400)
Quanto: entrada franca




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