São Paulo, segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

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Artista apresenta sua obra póstuma em vida

Gedley Braga reflete sobre a morte das obras de arte em mostra individual

Mineiro reproduz obras de coleção pessoal para ilustrar idéia de museu como túmulo; instalação de néons homenageia Damien Hirst

Divulgação
Instalação "Vanishing Point", na individual de Gedley Braga,
aberta para o público hoje no Gabinete de Arte Raquel Arnaud


SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Ainda vivo, o artista mineiro Gedley Braga, 40, apresenta a partir de hoje sua "Obra Póstuma", no Gabinete de Arte Raquel Arnaud, em Pinheiros.
Três anos depois de fazer declarações de amor e ódio em sua última mostra individual, ele revisita as obras de sua coleção particular para refletir, em vida, sobre a câmara mortuária que são os museus.
Braga reproduz ao longo de toda uma parede da galeria 55 obras de seu acervo pessoal, fotografadas e depois cobertas com uma máscara de tinta com letras vazadas, formando a palavra "jazz" e deixando entrever partes de trabalhos de Cildo Meireles, Amílcar de Castro, Leonilson, entre outros.
"Eu estabeleci a palavra "jazz" como minha janela para que o espectador visse o que está atrás da máscara", conta Braga, que, em sua última individual, intitulada "Love & Hate", usou os mesmos trabalhos para dizer o que amava ou odiava de cada artista e do momento que representava em sua vida.
Da mesma forma que "All That Jazz" (1979), célebre musical de Bob Fosse, narra a montagem de um espetáculo com um diretor que escolhe seus protagonistas à beira da morte, o artista reúne, na instalação de mesmo nome, reproduções de exemplares da própria coleção para dar peso a um novo discurso -a idéia de que a história só percebe uma obra de arte quando esta vai para um museu e fica longe de seu contexto e intenções originais.
"É um processo de lastreamento, montar uma coleção para criar um lastro simbólico, já que todo símbolo depende de uma coisa real. As obras são acúmulos de leituras feitas postumamente, e o museu não deixa de ser uma câmara mortuária", afirma Braga.
Sobrecarregada de referências tétricas, a instalação "Vanishing Point" traz as palavras "shark", "hiding", "always" e "fading" em néons parafusados na parede, começando no teto e terminando no chão, onde está um néon com a palavra "spirit" -alusão à instalação do britânico Damien Hirst, que mostrou um tubarão morto conservado em formol em 1991.
Braga apresenta ainda um painel de fotos que fez ao longo da Fernão Dias, no trajeto entre sua Divinópolis (MG) natal e São Paulo. As setas nas placas e a inscrição "God" na asa de um avião se esforçam de modo tortuoso -para "iniciados", como frisa o artista- na tentativa de concluir seu raciocíno sobre a morte em vida na arte.


GEDLEY BRAGA
Quando:
de seg. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 12h às 16h; até 1º/3
Onde: Gabinete de Arte Raquel Arnaud (r. Artur de Azevedo, 401, Pinheiros, tel. 3083-6322)
Quanto: entrada franca


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