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FOTOGRAFIA
O livro "Litoral Norte", do santista Marcos Piffer, é lançado com exposição de 51 imagens no MAM
Fotógrafo realiza epifania à beira-mar
EDER CHIODETTO
EDITOR-ADJUNTO DE FOTOGRAFIA
Como alguém que coleciona
conchas da beira-mar, o fotógrafo
e arquiteto santista Marcos Piffer,
38, percorreu o litoral de Bertioga
(SP) até Parati (RJ) durante dez
anos. Ao invés de conchas, reuniu
80 fotografias editadas agora no
livro "Litoral Norte" que será lançado hoje, no MAM do parque
Ibirapuera, com mostra de 51
imagens, já incorporadas ao acervo do museu.
"Litoral Norte" enfoca a natureza com fotos em preto-e-branco.
Por esse motivo há uma tentação
em relacionar a obra de Piffer ao
trabalho do mítico fotógrafo americano Ansel Adams (1902-1984).
Um olhar mais acurado, porém,
revela mais diferenças que similaridades entre ambos.
Em Adams, vê-se a pequenez da
condição humana diante da monumentalidade da natureza.
A rosa-dos-ventos de Piffer sopra em outra direção. Possivelmente para o seu próprio norte.
No lugar do assombro, há uma
quietude contemplativa que integra o fotógrafo ao ambiente. Se algumas imagens de Adams ameaçam romper o quadro como se
gritassem, em Piffer há uma espécie de epifania silenciosa, mansamente acomodada no quadro do
visor de sua câmera.
Diante de algo visto como um
santuário, o fotógrafo mais admira que interpreta seu objeto. Sua
postura é a de um arquiteto resignado com a impossibilidade de
construir algo para além do que a
arquitetura do acaso, a natureza,
construiu de antemão.
A interferência na cena é quase
nula. Tal resignação, porém, é determinante na obtenção de composições sutis e delicadas. Essas
imagens carregam algo de melancólico, como uma saudade do futuro. "Fiz essas imagens para revê-las quando eu tiver 80 anos."
Tais fotografias não são como
ondas que arrebentam, intempestivas, na praia, mas sim água
mansa que se espraia pela areia
até alcançar os pés do observador.
Essa sensação, reforçada pela riqueza dos tons de cinza e pela fina
granulação, é a síntese do ensaio.
A questão ecológica atravessa o
livro de forma quase subliminar.
"Litoral Norte" não centra foco na
degradação, mas no que deve ser
preservado pela beleza infinda
das formas, pela imposição estética desse relicário feito de contornos, conchas e ondas. O fotógrafo,
assim, salvaguarda-se de um discurso panfletário, conseguindo,
porém, ser tão ou mais pungente
com seu testemunho particular,
emotivo e sem alarde.
Na faixa estreita que se abre entre o asfalto da rodovia e as ondas
do mar, Piffer vasculha seu próprio interior como quem descobre minúcias em seu quintal. Ou
como quem, de fato, procura conchas preciosas trazidas pela maré.
Em "Litoral Norte" ele depositou
várias delas.
O quê: exposição e lançamento do livro Litoral Norte, de Marcos Piffer
Quando: vernissage hoje, às 19h. Ter., qua. e sex., das 12h às 18h; qui., das 12h às 22h; sáb. e dom., das 10 às 18h; até 28/5
Onde: MAM (parque Ibirapuera, portão 3, tel. 549-9688)
Quanto: R$ 5 e R$ 2,50 (estudantes e sócios do MAM); entrada franca ter. e
qui., a partir das 17h (exposição); R$ 65, no lançamento, e R$ 75, nas livrarias (livro)
Patrocínio: Deicmar e Fundação Vitae
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