São Paulo, terça-feira, 11 de maio de 2010

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Aguilar tem retrospectiva no CCBB

Exposição, com mais de 70 telas e instalações feitas entre os anos 60 e hoje, comemora os 50 anos de carreira do artista

Destaque da retrospectiva é realismo fantástico dos anos 60, com telas da Bienal de São Paulo e da exposição "Opinião 65", do MAM-Rio


Divulgação
"Anima", trabalho de 1963 que marcou a estreia de José Roberto Aguilar na Bienal de São Paulo

SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

No princípio, era a terebintina. "Aquele cheiro foi mágico", lembra José Roberto Aguilar. "Foi essa a origem da pintura." Esse quase gosto tóxico é lembrança fresca na cabeça de Aguilar, mesmo 50 anos depois de pintar os primeiros quadros.
Dos anos 60 até hoje, um pano de fundo lisérgico parece sustentar suas obras. Mais de 70 telas, figurativas e abstratas, estão em retrospectiva no Centro Cultural Banco do Brasil.
No átrio, 14 vestidos de noiva embalados numa pele plástica estão pendurados no teto. É uma obra de 2009 que ele chama de "himeneu entre espectador e arte", "homenagem a Nelson Rodrigues" ou "qualquer coisa", que introduz a cronologia invertida da mostra.
Lá em cima estão os primeiros trabalhos. É o realismo fantástico dos anos 60, figuras pontiagudas, seres antropomórficos. "Hoje nada é gritante", diz Aguilar, enfiando os dedos nas telas que estrearam na Bienal de São Paulo. "Mas, na época, era gritante pra cacete."
Na mesma sala no terceiro andar também estão trabalhos que mostrou na célebre "Opinião 65", exposição no Museu de Arte Moderna do Rio que fez um apanhado do que seria a arte figurativa dali para a frente. Uma delas, "O Destruidor de Mitos", estava numa coleção particular e volta a ser exposta.
"É uma das obras de que eu mais gostava e considerava perdida", diz Aguilar. "É incrível." Mistura de "filosofia pré-socrática, física quântica e poesia moderna", a obra de Aguilar se torna mais luminosa nas telas que pintou durante o exílio em Londres, nos anos 70. "São paisagens psicodélicas", resume. "Aquilo era um desbunde."
Um andar abaixo, telas dos anos 80 são reflexo do vigor da pintura naqueles anos. São quase murais, em dimensões exageradas e cheias de texto.
Um quadro exalta a Revolução Francesa, assinalando cores para cada personagem: amarelo Robespierre, vermelho Danton, verde Napoleão. São trabalhos que surgiram em paralelo à formação de sua Banda Performática, grupo de rock dadaísta. Faziam concertos para piano de cauda, com cítara, violino e luvas de boxe -nada muito distante das telas.
No fim, sua obra vira constelação de Bukowski, Arnaldo Antunes, Haroldo de Campos, Pixinguinha e Jackson Pollock transformados em pintura.


JOSÉ ROBERTO AGUILAR

Quando: ter. a dom., das 10h às 20h; até 17/7
Onde: CCBB (r. Álvares Penteado, 112, tel. 3113-3651)
Quanto: entrada franca




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