São Paulo, sábado, 11 de agosto de 2001

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"VASSAH, A DAMA DE FERRO"

Espetáculo com sócios-fundadores do Oficina é aperitivo para a retomada da utopia

Ítala Nandi brinca à vontade e constrói


Integrantes do elenco de "Verdades, Canalhas", dirigida por Hugo Possolo


SÉRGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA

Quem for assistir a "Vassah, a Dama de Ferro" simplesmente na expectativa de ver uma boa peça terá muitas razões para se sentir satisfeito. Afinal, a montagem conta com uma protagonista em plena posse de sua arte: Ítala Nandi está à vontade em um papel para o qual declara ter se preparado durante 33 anos; constrói uma Vassah odiosa sem perder a empatia, brinca com inteligência com o papel e chega a alguns momentos antológicos.
Toda a ambientação realista parece basear-se em pesquisa sólida, a tradução flui bem e o contexto histórico da fábula de Górki, nas suas convicções ideológicas e sua ironia amarga, está claramente colocado.
No entanto, a montagem anuncia maiores ambições -a partir dela teríamos a retomada dos ideais do histórico Teatro Oficina. De fato, isso quase acontece: temos a presença dos sócios-fundadores Fernando Peixoto e Renato Borghi, com todo seu carisma e competência.
José Celso surge distanciado, não ao vivo mas em projeção, no difícil papel Geléznov, o marido corrupto e delirante, em um quase improviso genial.
Quando o público, encantado, acredita já estar presenciando um novo "Pequenos Burgueses", o grande triunfo do Oficina que trouxe Górki para a história do Brasil, acaba percebendo aos poucos que essa oportunidade não se cumpre. Os parceiros históricos de Ítala são só "participações de honra" e não voltam após as curtas cenas. Ofuscado pelo que poderia ter sido, o espetáculo parece se diluir então.
Simone Dohna faz a fútil Lhudmila de modo fútil; Luiza Alburquerque, a "viril" Natália de modo viril. Se Carolina Lyrio pode apresentar um bom domínio técnico no exercício de fazer duas diferentes camareiras, Renata Soffredini acaba sucumbindo a um ainda insuficiente preparo vocal, em um papel que tem várias sutilezas a serem exploradas.
Amaury Alvares faz um simpático Khrápov, mas contracena pouco com Ítala, que parece ter como cúmplice constante em cena apenas a refrescante espontaneidade de Wanda Stefânia. Permanece na coxia o grande trunfo da montagem, que é o reencontro entre quatro grandes atores. Que seja esse então apenas um aperitivo para a retomada da utopia.


Vassah, a Dama de Ferro    
Autor: Máximo Górki
Tradução: Eugênio Kusnet e Fernando Peixoto
Com: Ítala Nandi, José Celso Martinez Corrêa, Renato Borghi e outros
Onde: teatro Sérgio Cardoso (r. Rui Barbosa, 153, Bela Vista, tel. 288-0136)
Quando: quinta a sábado, às 21h; domingo, às 18h
Quanto: R$ 10 a R$ 25




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