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"VASSAH, A DAMA DE FERRO"
Espetáculo com sócios-fundadores do Oficina é aperitivo para a retomada da utopia
Ítala Nandi brinca à vontade e constrói
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Integrantes do elenco de "Verdades, Canalhas", dirigida por Hugo Possolo |
SÉRGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
Quem for assistir a "Vassah,
a Dama de Ferro" simplesmente na expectativa de ver uma
boa peça terá muitas razões para
se sentir satisfeito. Afinal, a montagem conta com uma protagonista em plena posse de sua arte:
Ítala Nandi está à vontade em um
papel para o qual declara ter se
preparado durante 33 anos; constrói uma Vassah odiosa sem perder a empatia, brinca com inteligência com o papel e chega a alguns momentos antológicos.
Toda a ambientação realista parece basear-se em pesquisa sólida,
a tradução flui bem e o contexto
histórico da fábula de Górki, nas
suas convicções ideológicas e sua
ironia amarga, está claramente
colocado.
No entanto, a montagem anuncia maiores ambições -a partir
dela teríamos a retomada dos
ideais do histórico Teatro Oficina.
De fato, isso quase acontece: temos a presença dos sócios-fundadores Fernando Peixoto e Renato
Borghi, com todo seu carisma e
competência.
José Celso surge distanciado,
não ao vivo mas em projeção, no
difícil papel Geléznov, o marido
corrupto e delirante, em um quase improviso genial.
Quando o público, encantado,
acredita já estar presenciando um
novo "Pequenos Burgueses", o
grande triunfo do Oficina que
trouxe Górki para a história do
Brasil, acaba percebendo aos poucos que essa oportunidade não se
cumpre. Os parceiros históricos
de Ítala são só "participações de
honra" e não voltam após as curtas cenas. Ofuscado pelo que poderia ter sido, o espetáculo parece
se diluir então.
Simone Dohna faz a fútil Lhudmila de modo fútil; Luiza Alburquerque, a "viril" Natália de modo viril. Se Carolina Lyrio pode
apresentar um bom domínio técnico no exercício de fazer duas diferentes camareiras, Renata Soffredini acaba sucumbindo a um
ainda insuficiente preparo vocal,
em um papel que tem várias sutilezas a serem exploradas.
Amaury Alvares faz um simpático Khrápov, mas contracena
pouco com Ítala, que parece ter
como cúmplice constante em cena apenas a refrescante espontaneidade de Wanda Stefânia. Permanece na coxia o grande trunfo
da montagem, que é o reencontro
entre quatro grandes atores. Que
seja esse então apenas um aperitivo para a retomada da utopia.
Vassah, a Dama de Ferro
Autor: Máximo Górki
Tradução: Eugênio Kusnet e Fernando
Peixoto
Com: Ítala Nandi, José Celso Martinez
Corrêa, Renato Borghi e outros
Onde: teatro Sérgio Cardoso (r. Rui
Barbosa, 153, Bela Vista, tel. 288-0136)
Quando: quinta a sábado, às 21h;
domingo, às 18h
Quanto: R$ 10 a R$ 25
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