DIEGO ASSIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma obra exposta ao mesmo tempo em São Paulo, Nova York, Berlim e Tóquio. Sonho? Não. Isso é arte virtual.
Nem tão distante assim da prática, a idéia já passa pela cabeça de Marcelo Monzani, um dos organizadores da mostra Rumos Itaú Cultural Transmídia, que abre hoje em São Paulo com única apresentação de um grupo de artistas que há tempos vem decretando "o fim da geografia" na arte eletrônica: o Re:Combo.
Idealizado por um coletivo de músicos, DJs e produtores culturais de Recife, o projeto é um espetáculo multimídia criado -ou recombinado- em tempo real a partir de samples coletados por e-mail. Nas palavras do pernambucano H.D. Mabuse, membro fundador, são só "ruídos, de lugares como Olinda, Recife, Jaboatão dos Guararapes, Deli, Cidade do México, Montevidéu e Salvador".
A internet também serviu de inspiração para o trabalho da dupla Daniela Kutschat e Rejane Cantoni. Apresentada em vídeo, "OP-ERA" reproduz a experiência das artistas com os chamados ambientes imersivos-interativos: uma sala escura rodeada por telões e sensores de movimento em que o espectador -ou usuário- pode interferir nos resultados visuais e auditivos. "Estávamos pensando em novas interfaces para se relacionar com a internet, além do teclado e das caixas de som; a obra se tornou um lugar onde há a sobreposição do físico com esse mundo de dados", diz Kutschat.
"A tendência que está se firmando é a de uma aproximação e troca de conhecimento cada vez maior entre os técnicos e os artistas. Assim como um cientista pode fazer arte, o artista tem de participar de todo o processo", diz Monzani, destacando que também o hardware e o software desenvolvidos para "OP-ERA" são partes integrantes da obra.
Igualmente guardada em um CD, mas projetada nas paredes de uma sala escura e num espelho de água colocado ao solo está a obra "Reflexão", de Raquel Kogan, que mistura tecnologia e ludismo, numa espécie de cascata de números decimais. A semelhança é grande, mas a fixação dela por números veio bem antes que o "visual Matrix" fosse banalizado.
Reforçando a participação -e a transformação- do corpo na era tecnológica, a companhia de dança Cena 11 apresenta, no dia 31, o "Procedimento 01", resultado de uma pesquisa interdisciplinar que reúne bailarinos, vídeos e... robôs!
Em cartaz até 21/9, a mostra apresentará, em vídeo e computadores, outros trabalhos selecionados em 2002 pelo programa Rumos Itaú Cultural Transmídia.