São Paulo, quinta-feira, 11 de agosto de 2005

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CINEMA

"A Estrela Oculta do Sertão", exibido hoje em festival judaico, narra a busca dos marranos pela identidade perdida

Filme revela choque do judaísmo com o sertão

Divulgação
Cena da abertura do documentário "A Estrela Oculta do Sertão", de Elaine Eiger e Luize Valente


SÉRGIO MALBERGIER
EDITOR DE DINHEIRO

O documentário nacional "A Estrela Oculta do Sertão" revela o inusitado encontro entre o judaísmo e o sertão brasileiro, repercutindo até hoje dois antigos movimentos globalizantes -a dispersão judaica e a colonização ibérica. Eles colidiram no Brasil dos séculos 17 e 18, com a feroz Inquisição forçando a conversão dos não poucos pioneiros judeus que aqui chegaram nos primórdios da nação.
O nome desses judeus convertidos à força é marrano. E o grande trunfo do filme é simplesmente revelar esse fantástico capítulo da ainda pouco conhecida e provavelmente subestimada história dos judeus no Brasil. Avanço notável nesse campo foi a recente pesquisa da historiadora da USP Anita Novinsky -mostrando que bandeirantes como Antonio Raposo Tavares tinham origem judaica- e a restauração do prédio da primeira sinagoga das Américas, a Kahal Zur Israel, erguida no Recife holandês do século 17. Mas muito ainda resta para ser estudado, inclusive a história mais recente dos judeus no país.
Como diz Novinsky no filme, os próprios descendentes de marranos no isolamento do sertão desconheciam a origem judaica dos costumes diferentes que praticavam. Eram todos cristãos, alguns fervorosos, e nunca tinham visto judeus ou ouvido falar da religião.
A força de "Estrela Oculta" é mais jornalística, como um furo de reportagem, do que cinematográfica. E cumpre bem esse papel.
Personagens peculiares abundam no sertão em geral e nessa estranha saga em particular, como o monsenhor Altevino de Araújo, que de sua igreja se diz judeu da diáspora, prova do quanto o catolicismo brasileiro evoluiu desde o barbarismo da Inquisição. Ou o convicto poeta recifense Odmar, que pratica o judaísmo com mais profundidade que a maioria dos judeus "convencionais".
O filme ganha ritmo quando começa a peregrinação do médico paraibano Luciano a São Paulo, o centro judaico do país, em busca da identidade perdida, querendo, como diz, não a conversão, mas o retorno ao povo do qual faz parte.
Luciano visita rabinos e especialistas como Novinsky e conclui que o reconhecimento (oficial) dos descendentes de marranos como judeus deve ser feito pelo rabinato de Israel, processo iniciado com o envio de um rabino ao Nordeste em 2004.
Independentemente do resultado desse processo, lembra Novinsky, "ser judeu é sentir-se judeu e, se os marranos quiserem voltar ao judaísmo, cabe a eles decidir". Luciano diz que esse retorno os torna judeus duplamente.


A Estrela Oculta do Sertão
   
Direção: Elaine Eiger e Luize Valente
Produção: Brasil, 2004
Quando: hoje, às 20h, no Centro de Cultura Judaica (r. Oscar Freire, 2.500, tel. 3065-4333), e sáb., às 20h30, na Hebraica (r. Hungria, 1.000, tel. 3818-8888)
Quanto: R$ 6


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