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CINEMA
"A Estrela Oculta do Sertão", exibido hoje em festival judaico, narra a busca dos marranos pela identidade perdida
Filme revela choque do judaísmo com o sertão
Divulgação
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Cena da abertura do documentário "A Estrela Oculta do Sertão", de Elaine Eiger e Luize Valente |
SÉRGIO MALBERGIER
EDITOR DE DINHEIRO
O documentário nacional
"A Estrela Oculta do Sertão"
revela o inusitado encontro entre
o judaísmo e o sertão brasileiro,
repercutindo até hoje dois antigos
movimentos globalizantes -a
dispersão judaica e a colonização
ibérica. Eles colidiram no Brasil
dos séculos 17 e 18, com a feroz Inquisição forçando a conversão
dos não poucos pioneiros judeus
que aqui chegaram nos primórdios da nação.
O nome desses judeus convertidos à força é marrano. E o grande
trunfo do filme é simplesmente
revelar esse fantástico capítulo da
ainda pouco conhecida e provavelmente subestimada história
dos judeus no Brasil. Avanço notável nesse campo foi a recente
pesquisa da historiadora da USP
Anita Novinsky -mostrando
que bandeirantes como Antonio
Raposo Tavares tinham origem
judaica- e a restauração do prédio da primeira sinagoga das
Américas, a Kahal Zur Israel, erguida no Recife holandês do século 17. Mas muito ainda resta para
ser estudado, inclusive a história
mais recente dos judeus no país.
Como diz Novinsky no filme, os
próprios descendentes de marranos no isolamento do sertão desconheciam a origem judaica dos
costumes diferentes que praticavam. Eram todos cristãos, alguns
fervorosos, e nunca tinham visto
judeus ou ouvido falar da religião.
A força de "Estrela Oculta" é
mais jornalística, como um furo
de reportagem, do que cinematográfica. E cumpre bem esse papel.
Personagens peculiares abundam no sertão em geral e nessa estranha saga em particular, como o
monsenhor Altevino de Araújo,
que de sua igreja se diz judeu da
diáspora, prova do quanto o catolicismo brasileiro evoluiu desde o
barbarismo da Inquisição. Ou o
convicto poeta recifense Odmar,
que pratica o judaísmo com mais
profundidade que a maioria dos
judeus "convencionais".
O filme ganha ritmo quando começa a peregrinação do médico
paraibano Luciano a São Paulo, o
centro judaico do país, em busca
da identidade perdida, querendo,
como diz, não a conversão, mas o
retorno ao povo do qual faz parte.
Luciano visita rabinos e especialistas como Novinsky e conclui
que o reconhecimento (oficial)
dos descendentes de marranos
como judeus deve ser feito pelo
rabinato de Israel, processo iniciado com o envio de um rabino
ao Nordeste em 2004.
Independentemente do resultado desse processo, lembra Novinsky, "ser judeu é sentir-se judeu e, se os marranos quiserem
voltar ao judaísmo, cabe a eles decidir". Luciano diz que esse retorno os torna judeus duplamente.
A Estrela Oculta do Sertão
Direção: Elaine Eiger e Luize Valente
Produção: Brasil, 2004
Quando: hoje, às 20h, no Centro de
Cultura Judaica (r. Oscar Freire, 2.500, tel.
3065-4333), e sáb., às 20h30, na Hebraica
(r. Hungria, 1.000, tel. 3818-8888)
Quanto: R$ 6
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