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São Paulo, quinta-feira, 11 de setembro de 2003

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TEATRO

Em sua estréia na dramaturgia, o diretor Marcelo Fonseca explora a busca da identidade através de três personagens

"Odile" é guiada por "cegueira voluntária"

Flávio Florido/Folha Imagem
Camila Turim e Felipe Riquelme em "Odile", estréia de Marcelo Fonseca como dramaturgo


VALMIR SANTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Três personagens tentam conquistar sua identidade, não aquela que lhe conformam. O porteiro do teatro, o fã, a diva.
"Odile", a estréia do ator e diretor Marcelo Marcus Fonseca (de "O Balcão" e "Eduardo 2º") como dramaturgo, quer dar conta do vazio existencial que, na leitura de Fonseca, domina as relações.
No início da peça, a imagem dos crisântemos secos que o fã leva, em vão, para a musa equidistante -ele é barrado pelo porteiro- pode sintetizar tanta aridez.
A Diva, uma dançarina (Camila Turim), expõe sua crise num palco vazio. Quando pede "socorro", ao perder o fio da meada numa fala, ela quer escapar do confinamento da estrela sem autonomia, perseguida pelos fotógrafos.
Desabafa: "Eu odeio ser diva de quem eu invejo! Ninguém esquenta minha cama sem olhar minha conta no banco. Ninguém me morde os seios depois de tirar uma foto ao meu lado. Ninguém me ama em silêncio sem depois sair num jornal. Eu quero transar sem medo". Chora.
"A peça trata da cegueira voluntária. O problema da diva desestrutura a ordem. Ela não quer mais enxergar o mundo com os óculos velhos", diz Fonseca, 32, que teve apoio de Leo Lama.
Antes da chegada da mulher, há o encontro do Fã (Edgar Castro) e do Porteiro (Felipe Riquelme). O primeiro está decidido a furar o esquema de segurança.
O segundo fixa-se em seu papel de proteger aquela que nem ele mesmo vê. Dá-se um diálogo nonsense, de atmosfera onírica.
Segundo Fonseca, os personagens representam um para o outro por necessidade alheia, não porque o queiram. "Eu confirmo o que você é e criamos uma espécie de contrato social mudo."
O disparo de um tiro provoca reviravoltas e impõe aos personagens novas regras de um jogo que se quer, em essência, teatral.
Um outro texto de Fonseca, "Todos os Homens Notáveis", anterior a "Odile", deve estrear em 2004 e trata dos bastidores políticos das eleições e da mídia.

ODILE. Texto e direção: Marcelo Marcus Fonseca. Com: Camila Turim, Edgar Castro e Felipe Riquelme. Onde: teatro Next (r. Rego Freitas , 454, centro, tel. 3106-9636). Quando: estréia amanhã; sex., às 21h30; sáb., às 23h30; e dom., às 19h. Quanto: R$ 15. Até 19/10.


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