São Paulo, sábado, 11 de setembro de 2004

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ELETRÔNICA

Canadense é uma das atrações da noite de hoje do sonarsound

DJ Kid Koala harmoniza estilos

SHIN OLIVA SUZUKI
DA REDAÇÃO

Kid Koala, codinome do canadense Eric San, não carrega o perfil típico de um DJ. Seu primeiro (e sólido) contato com a música aconteceu em aulas de piano clássico. Seu trabalho como roteirista e ilustrador de histórias em quadrinhos está em pé de igualdade com sua produção atrás dos pick-ups. E fazer as pessoas dançarem na pista -como a da etapa brasileira do sonarsound hoje- não é necessariamente uma grande preocupação.
O que se encontra entre as inquietações de Kid Koala é a tarefa de harmonizar elementos diferentes, seja dentro de seu universo sonoro ou no diálogo de sua música com outras linguagens, e a missão de explorar ao máximo as possibilidades de um toca-discos como instrumento musical.
Seus dois discos, "Carpel Tunnel Syndrome" (2000) e "Some of my Best Friends Are DJs" (2003) juntam muitos scratches, trechos falados e instrumental antigo -o segundo álbum traz uma colagem de "Basin St. Blues", famosa no trompete de Louis Armstrong, em que o DJ embaralha notas musicais das várias versões existentes da canção, gravada pela primeira vez em 1928.
Encartados aos dois registros estão dois libretos com quadrinhos criados pelo próprio Kid Koala -uma operação que triplicou os custos dos CDs. Em "Carpel Tunnel", o personagem principal tenta conquistar uma garota se engajando em competições de DJs usando músicas românticas. Kid Koala diz que não há referências autobiográficas em suas HQs, mas, em suas apresentações, ele costuma encher de scratches o clássico "Moon River", do filme "Bonequinha de Luxo" (1961).
Tanta experimentação ganha reações de admirações e também ainda incompreensão. "Muitas pessoas dizem: "Ei, não posso dançar esse negócio'", afirma o DJ. Mas Kid Koala está mais interessado na descoberta do novo, "dançável" ou não, como diz em entrevista à Folha a seguir.
 

Folha - Sua iniciação musical através das aulas de piano influencia o seu trabalho hoje?
Kid Koala -
Eu comecei a estudar piano, aos quatro anos, de uma maneira um pouco forçada, por causa dos meus pais. Tinha que me preparar para apresentações e competições e não era algo que estimulasse minha criatividade. Mas eu estou certo de que o modo como você entra em contato com a música influencia a forma como você a ouve ou como une os seus elementos. Na época, não percebia isso, mas vejo hoje que, quanto mais você está envolvido com música, mais consegue enxergar as conexões entre as partes.

Folha - Como ocorreu a transição para o universo da eletrônica?
Kid Koala -
Eu tinha 13 anos e, quando garotos atingem essa idade, procuram encontrar algo com que se identifiquem ou que diga algo sobre a sua personalidade. Eu me lembro de um determinado evento em que estava com a minha irmã em uma loja de discos de Vancouver. Ela estava lá para comprar um disco do Depeche Mode e, dentro da loja, tocava uma espécie de faixa de demonstração do Mr. Mixx [DJ do grupo de Miami 2 Live Crew]. Nunca tinha escutado uma estrutura musical como aquela na minha vida. Eu podia dizer, pelo meu aprendizado de piano, se algo era tocado ao vivo ou se o músico tinha treinado antes, mas não tinha familiaridade com o que estava ouvindo naquela ocasião. A partir daí, guardava o máximo de dinheiro como entregador de jornais para comprar discos de 12 polegadas do Public Enemy e do De La Soul.

Folha - Como funciona o seu processo de criação?
Kid Koala -
Tudo parte de um sentimento de aventura. Não que isso signifique algo espetacular, do tipo fogos de artifício, lasers etc. nas canções [risos]. Mas eu digo no sentido de tentar coisas novas que eu pessoalmente nunca ouvi por aí. O que eu realmente gosto a respeito de ser DJ é que você pode pular de diferentes modos e ritmos, ir de um momento calmo a um momento de tensão. Você pode colocar um trecho tirado de um disco de humor junto a uma linha feita por um baterista de uma banda de rock, as mais improváveis combinações podem ser feitas ao mesmo tempo.
O que é novo e desafiador para mim é tornar todo o trabalho de DJ algo harmônico, trazê-lo para o contexto da melodia. Por exemplo, se eu tenho uma música melancólica e vou fazer scratches sobre essa mesma música, não quero que o resultado seja apenas "ah, ele está apenas fazendo scratches". Não, ele está tocando algo que combina e está dentro da atmosfera e do contexto da música.

Folha - O que dá mais satisfação: o trabalho com quadrinhos ou a música?
Kid Koala -
São coisas bem diferentes, mas ao mesmo tempo muito similares em relação à energia envolvida. Se tivesse que escolher entre quadrinhos e música, seria uma pessoa muito triste.


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