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ELETRÔNICA
Canadense é uma das atrações da noite de hoje do sonarsound
DJ Kid Koala harmoniza estilos
SHIN OLIVA SUZUKI
DA REDAÇÃO
Kid Koala, codinome do canadense Eric San, não carrega o perfil típico de um DJ. Seu primeiro
(e sólido) contato com a música
aconteceu em aulas de piano clássico. Seu trabalho como roteirista
e ilustrador de histórias em quadrinhos está em pé de igualdade
com sua produção atrás dos pick-ups. E fazer as pessoas dançarem
na pista -como a da etapa brasileira do sonarsound hoje- não é
necessariamente uma grande
preocupação.
O que se encontra entre as inquietações de Kid Koala é a tarefa
de harmonizar elementos diferentes, seja dentro de seu universo sonoro ou no diálogo de sua
música com outras linguagens, e a
missão de explorar ao máximo as
possibilidades de um toca-discos
como instrumento musical.
Seus dois discos, "Carpel Tunnel Syndrome" (2000) e "Some of
my Best Friends Are DJs" (2003)
juntam muitos scratches, trechos
falados e instrumental antigo -o
segundo álbum traz uma colagem
de "Basin St. Blues", famosa no
trompete de Louis Armstrong,
em que o DJ embaralha notas musicais das várias versões existentes
da canção, gravada pela primeira
vez em 1928.
Encartados aos dois registros
estão dois libretos com quadrinhos criados pelo próprio Kid
Koala -uma operação que triplicou os custos dos CDs. Em "Carpel Tunnel", o personagem principal tenta conquistar uma garota
se engajando em competições de
DJs usando músicas românticas.
Kid Koala diz que não há referências autobiográficas em suas HQs,
mas, em suas apresentações, ele
costuma encher de scratches o
clássico "Moon River", do filme
"Bonequinha de Luxo" (1961).
Tanta experimentação ganha
reações de admirações e também
ainda incompreensão. "Muitas
pessoas dizem: "Ei, não posso
dançar esse negócio'", afirma o
DJ. Mas Kid Koala está mais interessado na descoberta do novo,
"dançável" ou não, como diz em
entrevista à Folha a seguir.
Folha - Sua iniciação musical
através das aulas de piano influencia o seu trabalho hoje?
Kid Koala - Eu comecei a estudar
piano, aos quatro anos, de uma
maneira um pouco forçada, por
causa dos meus pais. Tinha que
me preparar para apresentações e
competições e não era algo que
estimulasse minha criatividade.
Mas eu estou certo de que o modo
como você entra em contato com
a música influencia a forma como
você a ouve ou como une os seus
elementos. Na época, não percebia isso, mas vejo hoje que, quanto mais você está envolvido com
música, mais consegue enxergar
as conexões entre as partes.
Folha - Como ocorreu a transição
para o universo da eletrônica?
Kid Koala - Eu tinha 13 anos e,
quando garotos atingem essa idade, procuram encontrar algo com
que se identifiquem ou que diga
algo sobre a sua personalidade.
Eu me lembro de um determinado evento em que estava com a
minha irmã em uma loja de discos de Vancouver. Ela estava lá
para comprar um disco do Depeche Mode e, dentro da loja, tocava
uma espécie de faixa de demonstração do Mr. Mixx [DJ do grupo
de Miami 2 Live Crew]. Nunca tinha escutado uma estrutura musical como aquela na minha vida.
Eu podia dizer, pelo meu aprendizado de piano, se algo era tocado
ao vivo ou se o músico tinha treinado antes, mas não tinha familiaridade com o que estava ouvindo naquela ocasião. A partir daí,
guardava o máximo de dinheiro
como entregador de jornais para
comprar discos de 12 polegadas
do Public Enemy e do De La Soul.
Folha - Como funciona o seu processo de criação?
Kid Koala - Tudo parte de um
sentimento de aventura. Não que
isso signifique algo espetacular,
do tipo fogos de artifício, lasers
etc. nas canções [risos]. Mas eu
digo no sentido de tentar coisas
novas que eu pessoalmente nunca
ouvi por aí. O que eu realmente
gosto a respeito de ser DJ é que
você pode pular de diferentes modos e ritmos, ir de um momento
calmo a um momento de tensão.
Você pode colocar um trecho tirado de um disco de humor junto a
uma linha feita por um baterista
de uma banda de rock, as mais
improváveis combinações podem
ser feitas ao mesmo tempo.
O que é novo e desafiador para
mim é tornar todo o trabalho de
DJ algo harmônico, trazê-lo para
o contexto da melodia. Por exemplo, se eu tenho uma música melancólica e vou fazer scratches sobre essa mesma música, não quero que o resultado seja apenas
"ah, ele está apenas fazendo scratches". Não, ele está tocando algo
que combina e está dentro da atmosfera e do contexto da música.
Folha - O que dá mais satisfação:
o trabalho com quadrinhos ou a
música?
Kid Koala - São coisas bem diferentes, mas ao mesmo tempo
muito similares em relação à
energia envolvida. Se tivesse que
escolher entre quadrinhos e música, seria uma pessoa muito triste.
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