São Paulo, sábado, 11 de novembro de 2006

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Crítica/artes plásticas

Jac Leirner reinventa-se com "Little Lights"

Divulgação
Obra de Jac Leirner em exposição individual da artista que termina hoje na galeria Baró Cruz


JULIANA MONACHESI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O caminho de Jac Leirner na história da arte brasileira foi sempre o da transgressão. Uma de suas obras mais conhecidas, que foi apresentada na Documenta 9, em Kassel, em 1992, e em exposições subseqüentes, é a série "Corpus Delicti" (1987-1993): copos, talheres, guardanapos, cobertores, travesseiros, sacos para enjôo, fones de ouvido e cinzeiros de avião, organizados em composições diferentes, materializações de seus atos criminosos -reincidentes furtos em companhias aéreas diversas com o intuito de colecionar não apenas objetos do cotidiano, mas objetos de circulação gastos pelo uso cotidiano e diferentes entre si.
Enquanto Cildo Meireles se notabilizou por inserir mensagens em circuitos paralelos ao circuito da arte, Jac Leirner sobressaiu por tirar de circulação elementos estranhos ao meio de arte e apresentá-los, resignificados, neste circuito. Os dois artistas partilharam o interesse por uma matéria-prima em comum: as cédulas de dinheiro.
Na série "Os Cem" (1986-1998), de Jac, há uma escultura de papel-moeda feita com 70 mil notas de cruzeiro amarradas formando um círculo, e outras formatações de dinheiro em cadeia, sempre tendendo a um arranjo geométrico. A linha e a serialização a perseguem: a série "Nice to Meet You", exposta na Bienal de Veneza de 1997, é composta de cartões de visita colocados lado a lado sobre uma base de alumínio e acabamento de acrílico. Lorenzo Mammì escreveu, por ocasião da mostra, que via uma herança do modernismo: "As esculturas de Willys de Castro, as experimentações gráficas da poesia concreta, os trabalhos em acrílico de Mira Schendel estão com toda a evidência atrás delas".
Jac Leirner conta que tenta organizar de várias formas os elementos apropriados com que trabalha, mas acaba sempre chegando na linha. Em "Little Lights", individual da artista que se encerra hoje na galeria Baró Cruz, a linha está presente e tem 4.000 metros de comprimento: quatro quilômetros de fio de cobre encapado conduzem energia para acender uma pequena lâmpada. Acúmulo, composição serializada, matéria-prima de uso cotidiano e de circulação (de energia elétrica, neste caso): está tudo aqui, e, no entanto, "Little Lights" é diferente de tudo o que Jac Leirner já fez.
Mais uma pequena iluminação transgressora para a sua coleção (alguns comentários da artista: Como você trabalha?
"Pensando". Como escolhe os materiais? "Eles me escolhem. Foram estes que saltaram aos meus olhos". Como você conseguiu se reinventar dessa maneira? "Eu tenho uma cabeça hiperconstrutiva, mas tenho uma alma punk.").

LITTLE LIGHTS     
Quando: até hoje, das 11h às 17h
Onde: galeria Baró Cruz (r. Clodomiro Amazonas, 528-6, tel: 3167-0830)
Quanto: entrada franca


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