São Paulo, terça-feira, 11 de novembro de 2008

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Crítica/"Cashback"

Com bom ponto de partida, comédia falha ao "filosofar" sobre a memória

BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL

Perseguindo o tema da memória, cineastas como Alain Resnais construíram uma obra que serve de referência para toda uma nova safra de diretores. De Michel Gondry a Sean Ellis, de "Cashback", questões como o esquecimento e o abandono amoroso são relidas de forma diluída, envoltas por um manto pop de pós-pós-modernidade.
O tempo, outro elemento central quando o assunto é memória, está na própria raiz de "Cashback". O longa britânico, de 2006, é uma versão estendida de um curta indicado ao Oscar de 2004, sobre Ben, estudante de artes com insônia que trabalha de madrugada em um supermercado.
O curta está na íntegra dentro do longa, e a boa idéia central permanece. Nesta versão esticada, a causa da insônia fica clara. Ben levou um fora da namorada e, de tão triste, não consegue mais dormir -e isso não lhe causa nenhuma seqüela física. Para aproveitar as oito horas diárias a mais que ganha, vai trabalhar de madrugada.
E vem daí um dos aspectos mais interessantes de "Cashback", que o diretor tenta, mas não consegue explorar. Afinal, estamos num território estranho e cotidiano, o dos freqüentadores de supermercados durante a madrugada. Quem são esses seres aparentemente solitários que só saem às compras quando a maioria está dormindo, que circulam em silêncio no meio de prateleiras?
"Cashback" explora mal o realismo fantástico. Quando fica entediado com as horas que não passam, Ben congela o tempo e as pessoas. Aproveita o poder para despir mulheres e fazer uma verdadeira aula de desenho com modelos vivos.
A questão é que, em momentos como esse, o filme se leva a sério demais, nas narrações em off pseudo-profundas de Ben, e no culto e fascínio por belas imagens, por maneirismos quase publicitários. Em outros momentos, descamba para gags visuais das mais primárias.

Avaliação: regular


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