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Crítica/"Cashback"
Com bom ponto de partida, comédia falha ao "filosofar" sobre a memória
BRUNO YUTAKA SAITO
DA REPORTAGEM LOCAL
Perseguindo o tema da
memória, cineastas como Alain Resnais construíram uma obra que serve de
referência para toda uma nova
safra de diretores. De Michel
Gondry a Sean Ellis, de "Cashback", questões como o esquecimento e o abandono amoroso
são relidas de forma diluída,
envoltas por um manto pop de
pós-pós-modernidade.
O tempo, outro elemento
central quando o assunto é memória, está na própria raiz de
"Cashback". O longa britânico,
de 2006, é uma versão estendida de um curta indicado ao Oscar de 2004, sobre Ben, estudante de artes com insônia que
trabalha de madrugada em um
supermercado.
O curta está na íntegra dentro do longa, e a boa idéia central permanece. Nesta versão
esticada, a causa da insônia fica
clara. Ben levou um fora da namorada e, de tão triste, não
consegue mais dormir -e isso
não lhe causa nenhuma seqüela
física. Para aproveitar as oito
horas diárias a mais que ganha,
vai trabalhar de madrugada.
E vem daí um dos aspectos
mais interessantes de "Cashback", que o diretor tenta, mas
não consegue explorar. Afinal,
estamos num território estranho e cotidiano, o dos freqüentadores de supermercados durante a madrugada. Quem são
esses seres aparentemente solitários que só saem às compras
quando a maioria está dormindo, que circulam em silêncio no
meio de prateleiras?
"Cashback" explora mal o
realismo fantástico. Quando fica entediado com as horas que
não passam, Ben congela o
tempo e as pessoas. Aproveita o
poder para despir mulheres e
fazer uma verdadeira aula de
desenho com modelos vivos.
A questão é que, em momentos como esse, o filme se leva a
sério demais, nas narrações em
off pseudo-profundas de Ben, e
no culto e fascínio por belas
imagens, por maneirismos
quase publicitários. Em outros
momentos, descamba para
gags visuais das mais primárias.
Avaliação: regular
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