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Crítica/cinema/"O Diário de uma Babá"
Filme vê mundo dos ricos com preconceito
INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA
Ao contrário do nosso
"Domésticas", que observava o mundo das
empregadas domésticas pelo
ponto de vista das patroas, "O
Diário de uma Babá" pretende-se uma análise do universo dos
ricos de Nova York pela classe
inferior.
Ou nem tão inferior assim, já
que Scarlett Johansson faz
uma jovem modesta de Nova
Jersey, porém antropóloga formada. É nesta qualidade que,
levada pelo acaso, acaba se empregando como babá em Manhattan. Com isso, não é bem o
olhar das africanas, asiáticas e
latino-americanas, suas colegas de trabalho, que aparece ali.
Mas é quase isso, já que a sra. X,
sua patroa, a trata como elas.
O que a sra. X não sabe é que,
na verdade, Annie Braddock,
sua babá, está fazendo um estudo de campo em sua casa.
Existe algo de profundamente preconceituoso nesse tipo de
observação em que o objeto é
oposto ao sujeito. Conhecemos
superficialmente a sra. X: ela é
arrogante no trato, desnecessariamente apressada, descuidada com o filho, fútil.
Estamos vingados, nós da
classe média para baixo, pelo
olhar de Shari Springer Berman e Robert Puccini, mas não
conseguimos saber sobre os ricos americanos nada de muito
mais significativo do que o fato
de o sr. X cuidar de grandes fusões, transar com sua secretária de Chicago e dispor-se eventualmente a atacar a babá.
Não se pode pedir a qualquer
um que tenha o talento de, digamos, Woody Allen. Mas
quando ele observa os intelectuais de Nova York sem grande
piedade, é a rigor dele mesmo
que está falando: essas às vezes
precárias tentativas de compreender o mundo, por desencontradas que sejam, nunca excluem o observador.
Em "Diário de uma Babá", os autores
optam pelo caminho inverso,
com resultados limitados.
À precariedade da concepção
corresponde aqui a platitude da
mise-en-scène, que parece se
apoiar essencialmente sobre a
presença Johansson e de seus
coadjuvantes. Eles formam,
por sinal, um conjunto interessante, graças ao qual é possível
atravessar "O Diário..." sem
maiores danos.
O DIÁRIO DE UMA BABÁ
Direção: Shari Springer Berman e Robert Puccini
Produção: EUA, 2007
Onde: em cartaz no Anália Franco,
Kinoplex Itaim e circuito
Avaliação: regular
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