São Paulo, segunda-feira, 12 de abril de 2010

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Crítica/exposição/"Hélio Oiticica - Museu É o Mundo"

Didatismo é o forte de retrospectiva

Com o mérito de reunir 120 obras de Hélio Oiticica, mostra em SP peca apenas por deixar experimentalismos de lado

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

"H élio Oiticica - Museu É o Mundo", em cartaz no Instituto Itaú Cultural, com curadoria de Fernando Cocchiarale e César Oiticica Filho, sobrinho do artista, tem o mérito de apresentar cerca de 120 obras de Oiticica, o que já a torna uma das principais da cidade, mas o faz sem assumir riscos.
Expor obras de Oiticica (1937-1980) não é uma tarefa fácil. Criados frente a um contexto específico -os revolucionários anos 1960 e 1970-, seus trabalhos, quando expostos 40 anos depois, correm ao menos dois riscos.
Quando são seus originais, que não permitem manipulação, tornam-se objetos de culto, institucionalizados e sacralizados; quando são réplicas, possibilitando a interação, parecem mais um daqueles brinquedos de parquinhos de diversões antigos, cujo valor principal está na nostalgia que carregam frente a um mundo de novas tecnologias.
Em 2006, na Pinacoteca do Estado, ao expor a obra de Lygia Clark (1920-1988), artista com procedimentos similares a Oiticica, a curadora Suely Rolnik buscou escapar desse dilema ao exibir dezenas de vídeos com testemunhos de pessoas que participaram das experiências de Lygia. Isso fez com que a mostra ativasse o impacto das obras sem alterar seu tempo e seu espaço.
Também em 2006, quando Lisette Lagnado organizou a Bienal "Como Viver Junto", tendo Oiticica como matriz para sua organização, não havia lá obras do artista, apenas trabalhos contemporâneos que com ele tivessem alguma relação.

Fetiche
Já no Itaú, não há experimentação. No andar superior, estão "os originais", as obras da fase concreta e neoconcreta do artista, ou seja, seus "Metaesquemas" e "Relevos Espaciais". Criados nos anos 1950, os "Metaesquemas", hoje fetichizados no mercado, foram criticados pelo artista. "Não há porque levar a sério minha produção pré-59", escreveu ele em Nova York, numa carta ao galerista Ralph Camargo, em 1972.
Na atual exposição, eles estão expostos como num panteão, que lembra sua sobrevivência ao incêndio do acervo do artista no ano passado. Nos andares inferiores -o underground aqui não é metáfora- estão os trabalhos interativos, como suas "Bólides" e "Penetráveis", entre eles "Tropicália" e "Rodhislândia" -esta tem recebido intervenções de artistas aos sábados.
Do ponto de vista didático, não há dúvida em relação à importância da apresentação de um conjunto de obras tão significativo de Oiticica. Entretanto, como exposição que pensa refletir sobre sua obra, a partir de sua frase "museu é o mundo, é a experiência cotidiana", a mostra ainda afirma que o mundo é o museu.


HÉLIO OITICICA - MUSEU É O MUNDO

Onde: Itaú Cultural (av. Paulista, 149, tel. 2168-1777)
Quando: ter. a sex., das 9h às 20h; sáb. e dom., das 11h às 20h; até 16/5
Quanto: grátis
Classificação: livre
Avaliação: bom




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