São Paulo, terça-feira, 12 de abril de 2011

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CRÍTICA COMÉDIA

Mathieu Amalric se nega a explicar protagonista em "Turnê"

Divulgação
A atriz Miranda Colclasure interpreta a personagem Mimi Le Meaux
em cena de "Turnê", dirigido por Mathieu Amalric


CRÍTICO DA FOLHA

"Turnê", como o título indica, é um filme de deslocamentos. Para começar, existe Joachim Zand, produtor de teatro francês que traz dos EUA um show de neoburlesco (variante feminista, digamos, do burlesco).
E já aí são vários os deslocamentos: por que Joachim vai parar nos EUA? O que o faz dirigir uma trupe feminina num tipo de show que, a rigor, se passa na presença masculina? E por que leva o grupo à França?
Mas nenhuma dessas questões é a principal. Ela pode ser enunciada de forma muito simples: quem é Joachim Zand? Na verdade não haverá resposta. Não essa que esperamos dos filmes habitualmente.
Saberemos apenas o que mostra a ação de Zand. Quebrando galhos, tapando buracos, correndo atrás de um teatro que lhe foi negado, buscando reatar amizades (mas reavivando ódios que cultivou no passado), tentando reatar com os filhos.
Esse caos pessoal e profissional saberemos também que é vivido por um antigo astro da TV que, apesar das adversidades que enfrenta, consegue manter o ânimo.
Não é muito, mas ninguém nunca disse que filmes devem satisfazer nossa curiosidade em torno do personagem principal. Ao contrário, em "Turnê", o que não ignoramos, o que é apenas entremostrado, é o mais interessante, talvez o essencial.
Vamos ao show: mulheres meio fellinianas, quase todas mais para gordas, de meia-idade, excessivas e alegres.
E, sobretudo, um tanto apreensivas com o destino de seu espetáculo. Pois -eis um deslocamento a mais- a turnê toda se passa nas beiradas da França (um mapa com o roteiro deixa isso muito claro): Le Havre, Nantes e Rochefort. Cadê Paris? Pois é por Paris que elas esperam. Enquanto isso, acompanhamos as aventuras de Joachim, suas buscas e fugas.

INSPIRAÇÃO
Para ficar com as palavras de Mathieu Amalric, o diretor-ator do filme, ele é inspirado em alguns produtores de cinema, entre eles o português Paolo Branco, em suas insanas batalhas para levar os filmes até o final.
No caso de Joachim, sabemos ainda que, no passado, ele pecou por soberba (em vez de perseguir a glória da TV, deu uma banana para todo mundo), por abandono (da família), ingratidão etc.
Mas isso importa pouco ao filme, que não se apoia na psicologia, muito menos na psicologia do "crime e castigo", e sim no desenrolar dos fenômenos que compõem a vida de Joachim e sua trupe.
Aonde chegarão? É o que veremos neste filme que ganhou o prêmio de melhor direção em Cannes, talvez, pelo que se recusa a explicar do passado e pelo que transmite de mistério do presente.
E que divertirá quem não espera dos filmes respostas ou lições mecânicas dos fatos ali mostrados. (INÁCIO ARAUJO)

TURNÊ
AVALIAÇÃO bom




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