São Paulo, quarta-feira, 12 de maio de 2004

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EXPOSIÇÃO

"Arte como Idéia", na USP, reúne produção do artista morto em 2003

Nostalgia atravessa mostra de Julio Plaza

FABIO CYPRIANO
DA REPORTAGEM LOCAL

É em clima de nostalgia que o Museu de Arte Contemporânea da USP (MAC) abre hoje ao público a mostra "Arte como Idéia".
Nostalgia não só porque a exposição homenageia o artista plástico Julio Plaza, morto no ano passado, mas porque suas proposições questionadoras, realizadas no próprio MAC, durante a década de 70, são hoje meros registros de memória.
"Observar a década de 70, a partir do trabalho do Julio, é repensar a função do museu, que na visão dele é a da prática de um laboratório, portanto experimental. Hoje, infelizmente, o museu virou um espaço de consumo passivo, de exposições-espetáculo, o que contradiz suas propostas", diz a curadora Cristina Freire.
"Arte como Idéia", montada em uma das salas da sede do MAC, na USP, apresenta grande parte da produção de Julio Plaza (1938-2003), realizada, em muitos casos, por meio de colaborações, como era comum nos anos 70.
É o caso dos livros "Caixa Preta" (1975) e "Reduchamp" (1976), feitos em parceria com o poeta e escritor Augusto de Campos, ou das serigrafias da série "Técnica do Pincel", produzida com a artista plástica Regina Silveira, que ironizava uma das mais tradicionais formas de expressão artística, por meio de citações a trabalhos de artistas como Andy Warhol.
Na década de 70, o MAC, sob a direção de Walter Zanini, era um espaço em sintonia com a produção internacional, especialmente de arte conceitual. "Era um período no qual se debatia a função do artista e do museu, utilizando-se para tanto materiais precários e a reprodução, em fotos e serigrafias, como estratégias de repensar a arte, tornando-a mais acessível", conta Freire.
Plaza, espanhol que chegou ao Brasil em 1973, vindo de Porto Rico, onde vivia com Regina Silveira, organizou, com Walter Zanini, mostras paradigmáticas no MAC como "Prospectiva" (1974) e "Poéticas Visuais" (1977), que fizeram com que o museu reunisse um dos mais importantes acervos de arte conceitual, ainda em catalogação.
Experimentação é palavra-chave na mostra "Arte como Idéia". Dos livros do artista, passando por cartões-postais, ao filme "Luz Azul" (1981), Plaza teve uma produção diversificada, que o coloca como precursor de várias poéticas, hoje disseminadas na produção de jovens artistas.
A articulação com novas tecnologias era uma das questões centrais no trabalho do artista. "Aqui está uma virada importante da arte contemporânea, que está sendo retomada atualmente", afirma Freire. Professor na Faap e na ECA, Plaza influenciou várias gerações de artistas.
O clima de nostalgia esquenta ainda mais, hoje, às 14h, na palestra "Julio Plaza e o MAC-USP dos Anos 70", com a curadora da exposição, no auditório do museu. "Durante a ditadura militar, a USP era um dos poucos territórios livres da cidade, portanto aberta à experimentação", conta Freire. Já hoje, o museu institucionaliza a arte questionadora de Plaza. Algumas de suas obras, feitas para serem manipuladas pelo público, estão expostas em vitrines fechadas. Toda revolução, mesmo na arte, acaba sendo enquadrada pelo sistema.


ARTE COMO IDÉIA.
Mostra sobre a produção de Julio Plaza nos anos 70. Onde: Museu de Arte Contemporânea da USP (r. da Reitoria, 160, Cidade Universitária, tel. 3091-3327). Curadoria: Cristina Freire. Quando: de ter. a sex., das 10h às 19h, sáb. e dom., das 10h às 16h. Até 13/6. Quanto: entrada franca.



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