São Paulo, quarta-feira, 12 de julho de 2006

Índice

SP ouve o jazz de Blanchard

Trompetista se apresenta dia 18 no Bourbon Street; no dia 20, participa de um festival no Amazonas

Também autor de trilhas para cinema, músico dos EUA atualmente compõe para documentário sobre Nova Orleans de Spike Lee


Edgard Radesca/Divulgação
Blanchard no festival de Cape Town; músico despontou na banda de Art Blakey, nos anos 80


CARLOS CALADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Raros músicos conseguiram, como ele, sucesso simultâneo nas carreiras de jazzista e autor de trilhas para cinema. Com 19 álbuns lançados e composições para quase 40 filmes (como o recente "O Plano Perfeito", de Spike Lee), o trompetista norte-americano Terence Blanchard, 44, desembarca pela quarta vez no país, em turnê durante a próxima semana.
Um dos jazzistas mais consistentes da geração revelada nos anos 80, ele se apresenta dia 18, no Bourbon Street, em São Paulo. No dia 20 toca em Manaus, no 1º Festival Amazonas Jazz. Seu quinteto inclui os músicos Brice Winston (sax tenor e soprano), Aaron Parks (piano), Derrick Hodge (baixo) e Kendrick Scott (bateria).
Em entrevista à Folha, por telefone, Blanchard falou sobre sua ligação com a cidade de Nova Orleans, quase destruída pela passagem do furacão Katrina, no ano passado. Revelou também que está compondo a trilha sonora de um documentário de Spike Lee, que vai abordar essa tragédia.
 

FOLHA - Como você encara as carreiras paralelas de músico de jazz e compositor de trilhas?
TERENCE BLANCHARD -
São duas coisas totalmente diferentes. Ao escrever para um filme, devo ajudar o diretor a contar uma história. Como músico de jazz, eu posso contar minha própria história. É claro que os fundamentos musicais são os mesmos, em ambos os casos, mas as intenções são bastante diferentes.

FOLHA - Você está compondo alguma trilha?
BLANCHARD -
Spike [Lee] está fazendo um documentário sobre os efeitos do furacão Katrina em Nova Orleans, que vai ser exibido pela HBO. Já estou trabalhando na música.

FOLHA - Você acha que o espírito musical de Nova Orleans pode sobreviver a tamanha tragédia?
BLANCHARD -
Esse espírito faz parte de nós, de todos os músicos que nasceram e vivem em Nova Orleans, como eu. É por causa desse espírito que nos comprometemos de corpo e alma com o projeto de reconstrução da cidade.

FOLHA - Já chegou a pensar em deixar a cidade?
BLANCHARD -
Eu morei em Nova York durante 16 anos e retornei a Nova Orleans em 1995. Jamais abandonaria minha cidade, ainda mais num momento como este. É muito importante que as pessoas daqui não apenas ajudem a reconstruir a cidade, mas contribuam para resgatar sua consciência.

FOLHA - Esta será a sua quarta temporada no Brasil. Já sente alguma identificação com o país?
BLANCHARD -
O Brasil e Nova Orleans têm muitas afinidades culturais. A música, a comida, o clima, as pessoas são parecidas. É por isso que eu costumo me sentir em casa quando estou no Brasil. Desta vez também vou tocar em Manaus e estou ansioso para conhecer a Amazônia. Já ouvi histórias e vi documentários sobre a região amazônica, mas nada substitui a experiência real.

FOLHA - Durante quase toda sua carreira você tocou jazz acústico. Em "Flow", seu último álbum, usa instrumentos eletrônicos. Como explica essa mudança?
BLANCHARD -
Muito disso tem a ver com meu trabalho nos filmes, porque tenho usado sons de origem eletrônica nas trilhas que escrevo. Então é natural que eu também passe a usar samplers e sintetizadores na música que faço com a minha banda, de vez em quando.

FOLHA - Qual foi sua intenção ao gravar esse álbum?
BLANCHARD -
Acho que o título "Flow" [fluxo, correnteza, em inglês] já dá uma indicação do que pretendíamos. Os músicos de minha banda sempre tocam com um grau extremo de criatividade e invenção. A música que fazemos muda a cada noite e é por isso que adoro tocar com eles.

FOLHA - E como foi contar com Herbie Hancock na produção desse disco?
BLANCHARD -
Foi uma experiência emocionante, porque ele é um dos gênios da música do nosso tempo. Ele contribuiu muito para abrir nossas mentes, encorajou-nos a procurar novas direções musicais.

FOLHA - Você despontou na banda Jazz Messengers, do baterista Art Blakey, nos anos 80. Também aprendeu algo com ele?
BLANCHARD -
Blakey não me ensinou apenas como ser um músico ou um líder, mas como ser um homem. O jeito como ele interagia não só com os músicos, mas com as pessoas em geral, foi revelador para mim. Ele era um homem de convicções fortes e dedicou sua vida a demonstrar a verdade dessas convicções.


TERENCE BLANCHARD
Quando:
dia 18, às 22h
Onde: Bourbon Street (r. dos Chanés, 127, tel. 5095-6100)
Quanto: R$ 120


Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.