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SHOW
Guitarrista norte-americano volta pela sexta vez ao país para encontrar a espiritualidade da platéia brasileira
Stanley Jordan faz show único no Palace
EDSON FRANCO
da Reportagem Local
Essa história de procurar um eixo é antiga. Pois bem, um homem
nessa condição se apresenta hoje
no Palace. Trata-se do guitarrista
norte-americano Stanley Jordan,
que vai tocar sozinho.
Sem nenhum disco para promover (o último que gravou foi "Bolero", em 1994), Jordan faz sua
sexta visita ao Brasil para reencontrar o que ele chama de espiritualidade da platéia brasileira. O show
faz parte do Top Cat Blues Festival.
Falando à Folha por telefone,
Jordan disse que sua paciência
com as vicissitudes do marketing
acabou. Para se recuperar, perambulou por áreas desérticas dos
EUA, praticou caminhadas e mergulhou fundo na espiritualidade.
"Eu quase chamo isso de religião, mas essa palavra está muito
desgastada. Tudo o que fiz nos últimos anos foi ficar realmente
quieto. Voltei aos shows porque
descobri que espiritualidade não é
só meditação.4 Tenho a responsabilidade de dividir meus talentos
com quem possa obter prazer por
meio deles."
E, na avaliação de Jordan, nada
melhor do que as platéias brasileiras para realçar o momento espiritual pelo qual o guitarrista está
passando. "A platéia brasileira admira minha técnica, mas entra em
sintonia com a minha espiritualidade. Há muito fogo."
Questões imateriais à parte, Jordan é um guitarrista de jazz que
não tem pruridos elitistas e se
aventura pelo rock, soul, funk,
blues e música erudita.
Ficou famoso pela técnica de tocar com as duas mãos no braço do
instrumento, o que permite que
ele faça o baixo nas cordas graves,
acordes de acompanhamento e solos com as notas mais agudas.
"Sinto-me honrado quando me
rotulam como guitarrista de jazz e
me colocam ao lado de mestres como Wes Montgomery."
E o ecletismo no repertório não
chega à teoria quando o assunto é a
fusão do jazz com outros estilos.
Sem a mesma virulência de um
Wynton Marsalis, Jordan defende
a setorização na música e não gosta da tão em voga mistura do jazz
com o hip hop, por exemplo.
"Tudo no universo tem de ser
coerente e distinto. O jazz tem de
manter sua integridade e seus códigos ou não existirá como tal. Pode resultar até em uma coisa melhor, mas não jazz."
Nascido em Chicago, em 31 de
julho de 1959, Jordan teve seus primeiros contatos com a música por
meio de programas de TV infantis.
No rádio, ouvia música erudita,
por influência da mãe e da irmã,
ambas pianistas. Chegou a ter algumas aulas de piano.
Começou a aprender guitarra sozinho, mas teve alguns professores. Elroy Jones -que tocou com
Thelonius Monk- foi o mais influente deles. O guitarrista diz que
as aulas de piano na infância nada
têm a ver com a técnica que ele
criou para tocar guitarra. "Na verdade, o que me influenciou na hora de experimentar foi Jimi Hendrix."
Estreou no mercado fonográfico
em 1982, com o fracasso comercial
de "Touch Sensitive". "Magic
Touch", lançado três anos depois,
levou Jordan ao estrelato.
Seguiram-se trabalhos em que o
guitarrista desfilou um repertório
que atirava para diversas direções,
sem acertar nenhuma na mosca.
Essa variedade de repertório poderá ser ouvida no show de hoje, em
que Jordan vai tocar clássicos do
jazz (como "Autumn Leaves"), do
pop ("Eleanor Rugby"), além de
explorar os aspectos mais sofisticados do blues.
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