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São Paulo, terça-feira, 12 de agosto de 2003

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EVENTO

Paul Thompson fala hoje em SP

Britânico propõe criar rede de memória global

FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO

Você já ouviu falar de história oral? Pois iniciantes e iniciados terão uma boa oportunidade para discutir o assunto nesta semana, durante o Seminário Internacional Memória, Rede e Mudança Social, com início hoje.
Um dos principais nomes do evento é o historiador britânico Paul Thompson, 68, autor de "A Voz do Passado", referência obrigatória sobre o assunto. Participam também o cineasta Eduardo Coutinho e o historiador Nicolau Sevcenko.
Professor da Universidade de Essex, no Reino Unido, Thompson está envolvido no Brasil com o Museu da Pessoa, que deve disponibilizar hoje um site com entrevistas de projetos do grupo (www.museudapessoa.net). A idéia é criar um arquivo interligado a projetos semelhantes pelo mundo. Leia a seguir a entrevista concedida à Folha em São Paulo.
 

Folha - Há uma longa discussão sobre se a história oral é uma nova disciplina ou apenas uma metodologia. Como o sr. a define?
Paul Thompson -
Há vários tipos de história oral. O que temos em comum é a relação com a entrevista, a transmissão oral de informação, de qual se obtêm perspectivas da história, antropologia, sociologia, serviço social e outros enfoques. A história oral assume uma nova forma toda vez que é utilizada. Não é apenas um método porque tem várias formas em situações diferentes. Além disso, a história oral tem uma tendência para entrevistar pessoas que em geral não têm registros públicos.

Folha - Os antropólogos, que possuem uma longa tradição no uso de fontes orais, têm uma participação relativamente menor na história oral. Por que essa distância?
Thompson -
Não creio que seja necessariamente uma distância. Na tradição antropológica, não há o mesmo interesse na entrevista como um todo, na forma como as pessoas falam. O método típico do antropólogo é observar, e eles não costumam gravar entrevistas. Mas tem havido bastante intercâmbio, sou muito influenciado pela antropologia durante a pesquisa. No momento, estou trabalhando com famílias jamaicanas transnacionais, eu me hospedo em vilarejos para observá-los. Mas acho que você está certo, seria melhor se os antropólogos estivessem mais envolvidos.

Folha - A história oral brasileira tem características próprias?
Thompson -
A história no Brasil é muito impressionante, há muitas coisas acontecendo aqui. A minha impressão é que ela atrai principalmente intelectuais que estão interessados em transformação social. Não há a mesma direção, por exemplo, na África ou, em outro extremo, nos Estados Unidos, onde é primordialmente feita para a criação de arquivos.

Folha - Como será a sua participação no Museu da Pessoa?
Thompson -
Na Inglaterra, estou envolvido na construção de um arquivo de história oral nacional, com a Biblioteca Britânica. Há muito em comum com que o Museu da Pessoa faz aqui. Iniciamos projeto para a virada do milênio, que depois foi conduzido pela [rede] BBC. Mais de 6.000 pessoas foram entrevistadas e catalogadas. A idéia é construir algo semelhante para o Brasil. Se alguém estiver interessado, por exemplo, em mineiros, será possível encontrar na internet entrevistas pelo mundo.

Folha - Quais são os temas de suas palestras no seminário?
Thompson -
Uma será sobre como a história oral é parte do patrimônio da humanidade. Também falarei sobre o papel da história oral em mudanças sociais e a história oral e a internet.


SEMINÁRIO INTERNACIONAL MEMÓRIA, REDE E MUDANÇA SOCIAL. Onde: teatro Sesc Vila Mariana (r. Pelotas, 141, tel.: 5080-3000). De hoje a quinta, às 9h. Quanto: de R$ 30 a R$ 100.


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