São Paulo, domingo, 12 de novembro de 2006

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Fotógrafo espanhol expõe imagens de dor, desejo e ironia

Mostra de Alberto García-Alix abre hoje para convidados e terça para o público na galeria Olido, no centro de SP

O título da exposição, "Chorando por Aquela que Acreditou me Amar", é um verso famoso do escritor e dramaturgo Samuel Beckett

Alberto García-Alix/Divulgação
Auto-retrato intitulado "Meu Lado Feminino", feito em 2002


EDER CHIODETTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Vencedor do prestigiado Prêmio Nacional de Fotografia da Espanha, em 1999, García-Alix, 50, fotografa preferencialmente os personagens que rondam sua própria história. E essa é a história de um homem que gosta de viver intensamente, entendendo-se por isso a velocidade das motocicletas e os prazeres carnais.
Se o caminho que leva a tal pulsão de vida é errático, a metáfora é bastante apropriada para esse artista que gosta de acelerar com sua Harley-Davidson em estradas não menos erráticas levando no corpo a frase "Don't follow me. I'm lost" (Não me siga. Estou perdido), a primeira das muitas tatuagens que esquadrinham sua pele.
Perder-se foi a fórmula para encontrar uma estrada que, apesar de tortuosa, o levou ao encontro de uma força expressiva necessária para enfrentar a onda de moralismo que fez, por exemplo, os visitantes desta mesma mostra, em Puebla, no México, protestarem contra o conteúdo "sexual, erótico e grotesco" de suas fotos.
Oscilando entre um inventário de personagens "freaks" à Diane Arbus e uma ode à nudez escancarada à Mapplethorpe, García-Alix potencializa por meio de fotografias uma forma radical de ser e estar no mundo.
E isso é mais do que retratar o lado sombrio da natureza humana, como costumam dizer acerca de seu trabalho.
Essa radicalidade o leva a transmutar-se no ato fotográfico: "Nunca sou inocente. Necessito possuir, caçar o momento, apropriar-me de algo que intuo... intencionalmente. É a culpa da perversidade da câmera.
Ela me obriga a olhar. Desenvolvi um olhar frontal para o mundo, um olhar de pugilista.
Protegido atrás dele me transformo num ciclope com um único olho", diz. Sob o título enigmático e um tanto quanto sombrio emprestado de Beckett, repousam 87 fotografias em preto-e-branco, a grande maioria retratos de mulheres, muitas delas atrizes de filmes pornôs. Um auto-retrato do artista sob o título "Meu Lado Feminino, 2002", transborda em ironia nessa sua investigação obsessiva pelo universo de gêneros e desejos.
As voluptuosas mulheres encaram de frente o olhar pugilista de García-Alix. "Quando pedi para Cicciolina olhar para a câmera ela temeu que seu olhar revela-se dor.
Mas era exatamente isso o que eu queria", afirma. Afinal, há muita dor no olhar das mulheres que acreditam ter amado a quem um dia desejaram amar.

CHORANDO POR AQUELA QUE ACREDITOU ME AMAR
Onde:
Galeria Olido (av. São João, 473, tel. 3331-8399)
Quando: vernissage para convidados hoje, às 12h. De ter. a sáb., das 12h às 21h30; dom., das 12h às 19h30. Até 07/01.
Quanto: Entrada franca


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