São Paulo, domingo, 13 de janeiro de 2008

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Crítica/cinema/"Allegro"

Longa falha ao tratar amor como aula de matemática

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Tendo à vista este "Allegro", em cartaz na cidade, e o anterior "Reconstrução de um Amor" (2003), está claro que os impulsos humanos, como o amor e a paixão, são mera matemática para o diretor dinamarquês Christoffer Boe.
Com um olhar do alto, um narrador falará com uma certeza absoluta sobre o que é certo e errado no modo de Zetterstrom (Ulrich Thomsen) estar no mundo. Assim, o filme mostrará o personagem igual um pai altivo apresenta seu filho.
Acompanharemos Zetterstrom errando e perdendo o amor de Andrea (Helena Christensen). Mais tarde, já com suas lembranças literalmente abandonadas no bairro onde viveu, ele retorna para recuperá-las. O que não será fácil, pois essas memórias estão (também literalmente) presas numa surreal barreira que cercou o lugar.
Graças a Tom, um personagem que muito lembra o narrador, Zetterstrom passará, como num jogo de sabedoria, por vários testes, e, assim, saberemos que a memória é fundamental para a mais alta arte; veremos a metáfora do talento numa garrafa e outros tantos insights sobre o que, de fato, é a vida.
Nessas lições, os personagens tornam-se bonecos ilustrativos para a "aula" de Boe. E também meios para o cineasta exercitar seu cinema, que surge à tela em acelerações de imagem, saltos no tempo, metalinguagem ostensiva e outros formalismos bastante cafonas.
Ironicamente, é o conterrâneo Lars von Trier quem expõe o grande equívoco de Boe. Trier também vê o homem como um mero objeto para suas teses, mas a pauta está nas estruturas (da sociedade americana, em "Dogville", por exemplo), o que faz a presença de personagens mais densos menos necessária.
Boe, tão cerebral quanto um computador, esqueceu-se das carnes para falar das intimidades humanas. (PAULO SANTOS LIMA)


ALLEGRO
Produção:
Dinamarca, 2005
Direção: Christoffer Boe
Com: Ulrich Thomsen, Helena Christensen
Onde: em cartaz no cine HSBC Belas Artes
Avaliação: ruim


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