São Paulo, quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

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Artista explora corpo masculino em mostra

Júlio Quaresma, angolano radicado em Portugal, ganha exposição no Memorial

Pinturas, instalações, fotografias e performance registrada em vídeo fazem parte do evento que segue até o dia 23 de março

Divulgação
Obra "Deo Ignoto', um dos destaques da mostra de Quaresma


SILAS MARTÍ
DA REPORTAGEM LOCAL

Numa espécie de loteria, convidados do artista angolano Júlio Quaresma, 49, rasgaram papéis numerados que cobriam uma jaula no Memorial da América Latina, anteontem, em São Paulo. Cada um recebeu na entrada um número correspondente à folha que deveria arrancar para revelar um homem nu pintado de ouro dentro das grades.
A performance, cujo registro em vídeo está exposto desde ontem na galeria ao lado de pinturas, instalações e fotografias de Quaresma, põe em evidência dois dos principais eixos de seu trabalho como artista e arquiteto: o homem e suas amarras sociais e o isolamento imposto pela arquitetura.
"A cidade funciona como uma jaula. Vivemos e morremos sem conhecer nossos vizinhos", disse Quaresma à Folha.
Em obras de caráter político um tanto óbvio, que ganham no visual a força que perdem nos excessos do discurso, Quaresma volta à pintura e mescla ao traço barroco -de forte contraste entre luz e sombra e carga dramática exagerada- séries de fotografias digitais.
O corpo masculino aparece nu, tanto nas fotos quanto nas telas, justaposto a cruzes de toda sorte e imagens de flagelos, mostrando a religião como fonte de sofrimentos.
"Eu uso o corpo do homem porque a obra tem um caráter político acentuado. Precisava de uma imagem provocatória, e o corpo feminino perdeu isso, foi explorado demais", afirma.
Nos quadros, só o corpo.
Quaresma não retrata o rosto dos homens, subjugados ou dominadores, em nenhuma das obras. Na montagem "The Faces of Via Crucis", um Cristo nu aparece deitado sobre uma cruz de almofadas, com o rosto escondido no tecido. Ao lado, fotos da cara de vítimas de conflitos armados pelo mundo -os poucos rostos na exposição.
"Não mostrar o rosto é uma estratégia, tem a ver com o anonimato do homem comum. O corpo é dramático o suficiente para expressar todos os tipos de emoções e sentimentos", diz Quaresma. "Reproduzir apenas o corpo remete à antigüidade grega, que desprezava o indivíduo para explorar o homem enquanto homem."


JÚLIO QUARESMA
Quando:
de ter. a dom., das 9h às 18h; até 23/3
Onde: Memorial da América Latina (av. Auro Soares de Moura Andrade, 664, tel. 3823-4600)
Quanto: entrada franca


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