São Paulo, segunda-feira, 13 de maio de 2002

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CONCERTO

Pianista alemão apresenta-se no Teatro de Cultura Artística com a Orquestra de Câmara de Lausanne

Christian Zacharias redescobre o classicismo

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

O pianista alemão Christian Zacharias, 52, apresenta-se hoje na primeira das três récitas em São Paulo, na temporada da Sociedade de Cultura Artística, como solista e regente da Orquestra de Câmara de Lausanne. No programa, peças de Beethoven, Mozart e Schubert.
Zacharias esteve uma primeira vez no Brasil em 1995, quando se apresentou em recital solo no Teatro Municipal. É reputado pela clareza da execução de minúsculos detalhes e pela racionalidade que imprime à interpretação.
A Orquestra de Lausanne, fundada há 60 anos, especializou-se no repertório do classicismo e do primeiro romantismo e é considerada um dos bons conjuntos europeus com esse repertório e formação (menos de 50 músicos).
Eis os principais trechos da entrevista de Zacharias à Folha.

Folha - Há ainda algo a ser redescoberto nos 23 concertos para piano e orquestra de Mozart?
Christian Zacharias -
Claro que sim, embora a redescoberta seja sempre algo a ser feito mais pelo público que pelo intérprete. No concerto que devo interpretar em São Paulo, o "Concerto nš 22", K 482, há trechos na edição original que não passavam de esboços. O pianista deve então preencher as lacunas para a recriação da cultura mozartiana. O próprio texto pode ser lido como uma sugestão de Mozart.

Folha - Essa liberdade com a partitura seria possível sem as pesquisas dos musicólogos, que há 30 anos tentam reconstituir como se interpretava no século 18?
Zacharias -
Essas pesquisas esclareceram muito mais peças de outros compositores, como Haydn ou Rameau. Também creio que é preciso conhecer essas pesquisas, mas elas não asseguram, sozinhas, condições para uma boa interpretação. Há questões técnicas, mas também questões culturais e espirituais.

Folha - O sr. tem gravado Scarlatti, Mozart, Beethoven. Mas evita Debussy, Stravinski ou Bartok.
Zacharias -
Para mim a interpretação apenas vale a pena quando se pode acrescentar algo à visão que se tem de determinada peça. Há compositores com os quais me sinto à vontade para operar essa forma de acréscimo. Outros, mesmo que eu reconheça a genialidade deles, não me oferecem a mesma oportunidade. É então uma questão pessoal.

Folha - Esse acréscimo é mais técnico ou é sentimental?
Zacharias -
Há uma dimensão técnica, mas ela não basta. A música tem uma dimensão filosófica. E é como textos da filosofia que fornecem explicações e que se contradizem entre si. Qualquer obra de arte, como uma peça musical, se abre para que nela encontremos sua própria verdade.

Folha - O sr. gosta de ler filosofia?
Zacharias -
Claro que sim. Gosto de Kant e Schopenhauer. Mas a descoberta da música tem para mim analogia maior com as artes plásticas do século 20. Todo pintor vanguardista teve um início de carreira tradicional. Gosto de estudar essas rupturas.

Folha - Como relacionar tudo isso com o seu amor pelos vinhos?
Zacharias -
Os vinhos e a música são belezas que passam pelos nossos sentidos.


CHRISTIAN ZACHARIAS E ORQUESTRA DE CÂMARA DE LAUSANNE -
Quando: hoje, amanhã e dia 15, às 21h.
Onde: Teatro de Cultura Artística (r. Nestor Pestana, 196, tel. 3258-3616).
Quanto: de R$ 80 a R$ 160 (R$ 10 para estudantes, meia hora antes do concerto).



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