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CONCERTO
Pianista alemão apresenta-se no Teatro de
Cultura Artística com a Orquestra de Câmara de Lausanne
Christian Zacharias redescobre o classicismo
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
O pianista alemão Christian Zacharias, 52, apresenta-se hoje na
primeira das três récitas em São
Paulo, na temporada da Sociedade de Cultura Artística, como solista e regente da Orquestra de Câmara de Lausanne. No programa,
peças de Beethoven, Mozart e
Schubert.
Zacharias esteve uma primeira
vez no Brasil em 1995, quando se
apresentou em recital solo no
Teatro Municipal. É reputado pela clareza da execução de minúsculos detalhes e pela racionalidade que imprime à interpretação.
A Orquestra de Lausanne, fundada há 60 anos, especializou-se
no repertório do classicismo e do
primeiro romantismo e é considerada um dos bons conjuntos
europeus com esse repertório e
formação (menos de 50 músicos).
Eis os principais trechos da entrevista de Zacharias à Folha.
Folha - Há ainda algo a ser redescoberto nos 23 concertos para piano e orquestra de Mozart?
Christian Zacharias - Claro que
sim, embora a redescoberta seja
sempre algo a ser feito mais pelo
público que pelo intérprete. No
concerto que devo interpretar em
São Paulo, o "Concerto nš 22", K
482, há trechos na edição original
que não passavam de esboços. O
pianista deve então preencher as
lacunas para a recriação da cultura mozartiana. O próprio texto
pode ser lido como uma sugestão
de Mozart.
Folha - Essa liberdade com a partitura seria possível sem as pesquisas dos musicólogos, que há 30
anos tentam reconstituir como se
interpretava no século 18?
Zacharias - Essas pesquisas esclareceram muito mais peças de
outros compositores, como
Haydn ou Rameau. Também
creio que é preciso conhecer essas
pesquisas, mas elas não asseguram, sozinhas, condições para
uma boa interpretação. Há questões técnicas, mas também questões culturais e espirituais.
Folha - O sr. tem gravado Scarlatti, Mozart, Beethoven. Mas evita
Debussy, Stravinski ou Bartok.
Zacharias - Para mim a interpretação apenas vale a pena quando
se pode acrescentar algo à visão
que se tem de determinada peça.
Há compositores com os quais
me sinto à vontade para operar
essa forma de acréscimo. Outros,
mesmo que eu reconheça a genialidade deles, não me oferecem a
mesma oportunidade. É então
uma questão pessoal.
Folha - Esse acréscimo é mais técnico ou é sentimental?
Zacharias - Há uma dimensão
técnica, mas ela não basta. A música tem uma dimensão filosófica.
E é como textos da filosofia que
fornecem explicações e que se
contradizem entre si. Qualquer
obra de arte, como uma peça musical, se abre para que nela encontremos sua própria verdade.
Folha - O sr. gosta de ler filosofia?
Zacharias - Claro que sim. Gosto
de Kant e Schopenhauer. Mas a
descoberta da música tem para
mim analogia maior com as artes
plásticas do século 20. Todo pintor vanguardista teve um início de
carreira tradicional. Gosto de estudar essas rupturas.
Folha - Como relacionar tudo isso
com o seu amor pelos vinhos?
Zacharias - Os vinhos e a música
são belezas que passam pelos nossos sentidos.
CHRISTIAN ZACHARIAS E ORQUESTRA
DE CÂMARA DE LAUSANNE -
Quando: hoje, amanhã e dia 15, às 21h.
Onde: Teatro de Cultura Artística (r. Nestor
Pestana, 196, tel. 3258-3616).
Quanto: de R$ 80 a R$ 160 (R$ 10 para estudantes,
meia hora antes do concerto).
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