São Paulo, segunda-feira, 13 de setembro de 2004

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ARTES PLÁSTICAS

Mostra na Pinacoteca apresenta trabalhos de 50 artistas, entre elas Anita Malfatti e Tarsila do Amaral

Irregularidade marca "Mulheres Pintoras"

Divulgação
Detalhe de "Manacá" (1927), de Tarsila do Amaral


FELIPE CHAIMOVICH
CRÍTICO DA FOLHA

"Mulheres Pintoras" é mostra precária. Agrega exemplares dissímiles de quadros produzidos entre a segunda metade do século 19 e a década de 1960. Porém faz crítica ambígua à situação feminina.
O texto de apresentação enfatiza o caráter afirmativo do profissionalismo das pintoras como emancipação social: "É o esforço de sair desse universo da casa, em que sua arte se vê confinada, em direção ao mundo, onde almejam alcançar o reconhecimento como artistas, que marca a trajetória de vida das melhores pintoras brasileiras".
O modernismo aparece como conquista efêmera diante das pressões familiares. É o caso de "La Chambre Bleue (Nu)" (1925), da artista plástica modernista Anita Malfatti: o tosco estudo acadêmico, que em nada lembra a fase vanguardista anterior, é acompanhado por texto narrando os dramas da artista.

Retrocesso estilístico
Tarsila do Amaral é representada tanto pelo "Manacá" (1927), da fase antropofágica, como pela cópia de uma obra realista do próprio mestre, Pedro Alexandrino. Assim, o academicismo parece retrocesso estilístico paralelo à repressão da mulher.
Contudo alguns dos melhores exemplares da mostra são conformes ao acadêmico brasileiro: a aquarela "Paisagem - Praia do Leme" (1896), de Maria da Cunha Vasco, o óleo "Fazenda de Café Paulista" (1892), de Georgina de Castro, o "Auto-Retrato", de Bertha Worms, e o "Nevoeiro - Vista do Alto de Higienópolis", de Beatriz de Camargo.
Mas tais exceções se perdem numa profusão aleatória de resultados amadorísticos, como a "Paisagem de Queluz, Minas", de Cecília Marinho.

Porcelana
Várias das artistas reunidas na exposição dedicaram-se à pintura de porcelana, inclusive sendo professoras, como esclarecem as biografias individuais junto aos quadros.
Porém somente uma composição de quatro azulejos pintados por Hilde Weber, "La Chartreuse", com versos de Paulo Mendes de Almeida, representa a prática da decoração de objetos, um dos principais meios de profissionalização das mulheres pintoras.
A prática de ateliê produz algumas obras de interesse dentro do conjunto: a paisagem urbana "Av. Sumaré com Av. Turiassu" (1946), de Renée Lefèvre, o "Auto-Retrato" (1950), de Tsukika Okayama, a "Paisagem com Igrejas" (1966), de Djanira da Mota e Silva, a "Figura Feminina", de Noêmia Mourão, e o "Auto-Retrato", de Emma Voss.
O conjunto dos quadros mostra a irregularidade no manejo da técnica pictórica, fato que independe de gênero e sexo. Além disso, a montagem das salas é confusa, havendo superposição excessiva de obras.



Mulheres Pintoras
 
Onde: Pinacoteca do Estado (pça. da Luz, 2, Bom Retiro, região central, tel. 3229-9844)
Quando: de ter. a dom., das 10h às 18h; até 4/10
Quanto: R$ 4 (estudantes pagam meia-entrada e o espaço tem acesso grátis aos sábados)




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