São Paulo, quarta-feira, 13 de setembro de 2006

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Cinema

Mostra revisa em 12 filmes os excessos de Jesus Franco

CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA

Como num baile em algum Carnaval do passado, o universo do diretor espanhol Jesus Franco, 76, é sinônimo de máscaras e de fantasias que mudam a cada movimento. Máscaras também são a marca da assinatura de Franco, que em vez de querer afirmar uma autoria por meio de um nome próprio, troca de pseudônimo com a mesma velocidade com que tira a roupa de suas personagens.
Sua obra reconhecida conta com 187 títulos "oficiais" -dos quais 12 filmes poderão ser vistos de hoje até domingo numa mostra em DVD na Sala Cinemateca- e distingue-se pelo signo do excesso. Além das dezenas de codinomes, que sempre escondem outros trabalhos, o cinema desse diretor é um campo de experimentações visuais e narrativas ao qual o termo "barroco" serve como definição aproximada.
Do terror ao pornográfico, passando pelo psicodélico e pelo erótico, Franco usou o cinema como expressão de fantasmas, muitas vezes obsessivamente transgressivos. Não à toa, pode se orgulhar de ter sido, ao lado de Buñuel, considerado pelo Vaticano, em 1971, como o cineasta mais perigoso do mundo.
Como o mestre surrealista espanhol, Franco encontrou no cinema uma forma de expressão capaz de devolver as potências do inconsciente. Em vez de optar pelo modelo narrativo predominante, escolheu fazer das imagens veículos para paroxismos sensoriais.
O que dá a impressão às vezes de inacabamento, de relato rudimentar em seus filmes, é de fato resultado de escolhas aleatórias, regidas muitas vezes por esquemas oníricos.
É o que se reflete, num primeiro momento, nas variadas formas da violência do formato horror praticado por ele sistematicamente nos anos 60, tal como em "The Awful of Dr. Orloff", no qual um médico seqüestra mulheres e usa suas peles para reconstituir o rosto da filha, deformado por queimaduras (tema roubado do clássico "Os Olhos Sem Rosto", de Georges Franju).

Sexo
A partir dos anos 70, predomina nos filmes de Franco uma clara obsessão pelo sexual, que se repete quase sempre sob a forma de perversão, sob inspiração de Sade, de quem o diretor espanhol adaptou para as telas títulos como "Eugenie" e "Justine".
Dessa temática, a mostra "Os Experimentos Macabros de Jesus Franco" traz o clássico "Vampyros Lesbos", no qual uma condessa, que trabalha como stripper num clube noturno, hipnotiza os freqüentadores para satisfazer seu desejo de sangue.
Esse descontrole do desejo reflete a fascinação de Franco pelas teorias surrealistas do escritor francês André Breton, com sua defesa do "amour fou", onde a paixão se manifesta sob a forma de possessão física.
A frase com que Breton encerra "Nadja", "a beleza será convulsiva ou não será", é reinterpretada por Jesus Franco como um lema que transforma seu cinema do excesso numa forma particular de busca do belo, que se deixa ver ali onde o bom gosto finge que ele nunca se encontra.


OS EXPERIMENTOS MACABROS DE JESUS FRANCO
Onde:
Sala Cinemateca (lgo. Senador Raul Cardoso, 207, Vila Mariana, tel. 5084-2177/ 5081-2954)
Quando: de hoje a domingo
Quanto: de R$ 2 a R$ 4


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