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Cinema
Mostra revisa em 12 filmes os excessos de Jesus Franco
CÁSSIO STARLING CARLOS
CRÍTICO DA FOLHA
Como num baile em algum
Carnaval do passado, o universo do diretor espanhol Jesus
Franco, 76, é sinônimo de máscaras e de fantasias que mudam
a cada movimento. Máscaras
também são a marca da assinatura de Franco, que em vez de
querer afirmar uma autoria por
meio de um nome próprio, troca de pseudônimo com a mesma velocidade com que tira a roupa de suas personagens.
Sua obra reconhecida conta
com 187 títulos "oficiais" -dos
quais 12 filmes poderão ser vistos de hoje até domingo numa
mostra em DVD na Sala Cinemateca- e distingue-se pelo
signo do excesso. Além das dezenas de codinomes, que sempre escondem outros trabalhos, o cinema desse diretor é
um campo de experimentações
visuais e narrativas ao qual o
termo "barroco" serve como
definição aproximada.
Do terror ao pornográfico,
passando pelo psicodélico e pelo erótico, Franco usou o cinema como expressão de fantasmas, muitas vezes obsessivamente transgressivos. Não à
toa, pode se orgulhar de ter sido, ao lado de Buñuel, considerado pelo Vaticano, em 1971,
como o cineasta mais perigoso
do mundo.
Como o mestre surrealista
espanhol, Franco encontrou no
cinema uma forma de expressão capaz de devolver as potências do inconsciente. Em vez de
optar pelo modelo narrativo
predominante, escolheu fazer
das imagens veículos para paroxismos sensoriais.
O que dá a impressão às vezes
de inacabamento, de relato rudimentar em seus filmes, é de
fato resultado de escolhas aleatórias, regidas muitas vezes por
esquemas oníricos.
É o que se reflete, num primeiro momento, nas variadas
formas da violência do formato
horror praticado por ele sistematicamente nos anos 60, tal
como em "The Awful of Dr. Orloff", no qual um médico seqüestra mulheres e usa suas peles para reconstituir o rosto da
filha, deformado por queimaduras (tema roubado do clássico "Os Olhos Sem Rosto", de
Georges Franju).
Sexo
A partir dos anos 70, predomina nos filmes de Franco uma
clara obsessão pelo sexual, que
se repete quase sempre sob a
forma de perversão, sob inspiração de Sade, de quem o diretor espanhol adaptou para as
telas títulos como "Eugenie" e
"Justine".
Dessa temática, a mostra "Os
Experimentos Macabros de Jesus Franco" traz o clássico
"Vampyros Lesbos", no qual
uma condessa, que trabalha como stripper num clube noturno, hipnotiza os freqüentadores para satisfazer seu desejo de
sangue.
Esse descontrole do desejo
reflete a fascinação de Franco
pelas teorias surrealistas do escritor francês André Breton,
com sua defesa do "amour fou",
onde a paixão se manifesta sob
a forma de possessão física.
A frase com que Breton encerra "Nadja", "a beleza será
convulsiva ou não será", é reinterpretada por Jesus Franco
como um lema que transforma
seu cinema do excesso numa
forma particular de busca do
belo, que se deixa ver ali onde o
bom gosto finge que ele nunca
se encontra.
OS EXPERIMENTOS MACABROS DE JESUS FRANCO
Onde: Sala Cinemateca (lgo. Senador
Raul Cardoso, 207, Vila Mariana, tel.
5084-2177/ 5081-2954)
Quando: de hoje a domingo
Quanto: de R$ 2 a R$ 4
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