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DANÇA CRÍTICA
"Baile' recria dramaticidade de Portinari
ANA FRANCISCA PONZIO
especial para a Folha
Na história da dança brasileira,
ficaram para trás os grupos que,
por falta de abertura, deixaram de
trabalhar com diferentes coreógrafos, experimentar novas possibilidades estéticas ou ainda cultivar a
participação criativa dos bailarinos.
A falta de ousadia, no entanto,
não é o caso do Balé da Cidade de
São Paulo, que em "Baile na Roça",
em cartaz até hoje no Teatro Municipal, prova que está valendo a pena apostar no potencial criador de
seu elenco.
Com relação a "Enthousiasmós",
espetáculo do ano passado que iniciou a proposta do diretor José
Possi Neto de levar ao palco coreografias assinadas pelos bailarinos,
"Baile na Roça" representa um expressivo salto adiante.
Demonstrando mais segurança,
a equipe de nove bailarinos responsável pela criação de "Baile na
Roça" soube tirar proveito de sua
fonte de inspiração -a obra do
pintor Portinari- para compor
um dos melhores espetáculos já
produzidos pelo Balé da Cidade
nos últimos anos.
˛
Dramaticidade
Ao longo de sete cenas, o espetáculo exibe soluções imaginativas
para diferentes temas, sem cair na
representação literal.
Ana Teixeira, autora das peças
que interligam as demais coreografias, consegue belos resultados
principalmente quando explora a
movimentação dos torsos de mulheres que dançam, oprimidas, entre caixotes de madeira.
Nesse trecho, Susana Mafra faz
um solo contundente, mostrando
o depuramento artístico alcançado
pela geração mais veterana do grupo.
Outros destaques são as coreografias de Armando Aurich e Cláudia Palma, que inclui a imagem
magnetizadora da bailarina submersa na água, e ainda a cena inspirada no quadro "O Espantalho",
de Raymundo Costa - brilhantemente interpretada por Gustavo
Lopes.
Robson Lourenço também marca presença, com uma boa sequência de grupo que, no entanto, ainda
está presa à utilização muito organizada do espaço.
Por conta de Possi Neto, ficam a
ambientação cênica e o desenho de
luz (em parceria com Renato Salgado e Wagner Freire), que preenchem o palco com volumes e tonalidades que parecem fazer eco à
pintura dramática de Portinari.
˛
Espetáculo: Baile na Roça, com o Balé da
Cidade de São Paulo
Quando: hoje, 17h
Onde: Teatro Municipal de São Paulo (pça.
Ramos de Azevedo, s/nē, região central; tel.
222-8698)
Quanto: R$ 10 a R$ 30
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