São Paulo, domingo, 13 de setembro de 1998

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DANÇA CRÍTICA
"Baile' recria dramaticidade de Portinari

ANA FRANCISCA PONZIO
especial para a Folha

Na história da dança brasileira, ficaram para trás os grupos que, por falta de abertura, deixaram de trabalhar com diferentes coreógrafos, experimentar novas possibilidades estéticas ou ainda cultivar a participação criativa dos bailarinos.
A falta de ousadia, no entanto, não é o caso do Balé da Cidade de São Paulo, que em "Baile na Roça", em cartaz até hoje no Teatro Municipal, prova que está valendo a pena apostar no potencial criador de seu elenco.
Com relação a "Enthousiasmós", espetáculo do ano passado que iniciou a proposta do diretor José Possi Neto de levar ao palco coreografias assinadas pelos bailarinos, "Baile na Roça" representa um expressivo salto adiante.
Demonstrando mais segurança, a equipe de nove bailarinos responsável pela criação de "Baile na Roça" soube tirar proveito de sua fonte de inspiração -a obra do pintor Portinari- para compor um dos melhores espetáculos já produzidos pelo Balé da Cidade nos últimos anos.
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Dramaticidade Ao longo de sete cenas, o espetáculo exibe soluções imaginativas para diferentes temas, sem cair na representação literal.
Ana Teixeira, autora das peças que interligam as demais coreografias, consegue belos resultados principalmente quando explora a movimentação dos torsos de mulheres que dançam, oprimidas, entre caixotes de madeira.
Nesse trecho, Susana Mafra faz um solo contundente, mostrando o depuramento artístico alcançado pela geração mais veterana do grupo.
Outros destaques são as coreografias de Armando Aurich e Cláudia Palma, que inclui a imagem magnetizadora da bailarina submersa na água, e ainda a cena inspirada no quadro "O Espantalho", de Raymundo Costa - brilhantemente interpretada por Gustavo Lopes.
Robson Lourenço também marca presença, com uma boa sequência de grupo que, no entanto, ainda está presa à utilização muito organizada do espaço.
Por conta de Possi Neto, ficam a ambientação cênica e o desenho de luz (em parceria com Renato Salgado e Wagner Freire), que preenchem o palco com volumes e tonalidades que parecem fazer eco à pintura dramática de Portinari.
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Espetáculo: Baile na Roça, com o Balé da Cidade de São Paulo Quando: hoje, 17h Onde: Teatro Municipal de São Paulo (pça. Ramos de Azevedo, s/nē, região central; tel. 222-8698) Quanto: R$ 10 a R$ 30



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