São Paulo, Segunda-feira, 13 de Setembro de 1999
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ARTES
Panorâmica reúne 119 obras
Amélia Toledo abre as portas de sua obra

Fernando Chaves/Divulgação
Amélia Toledo manipula uma de suas "Bolas Bolhas" na galeria do Sesi


JULIANA MONACHESI
free-lance para a Folha


Alguns títulos de obras de arte de Amélia Toledo: "Almofadas de Cristal", "Fatias de Horizonte", "Caderno de Terra, "O Cheio do Oco", "Poço da Memória". A poesia começa pelo título. E se espalha pelos 1.000 metros quadrados da galeria do Sesi, que inaugura exposição da artista hoje.
Nunca a poesia de Amélia ganhou tanto espaço: são 119 obras, constituindo uma panorâmica dos seus 50 anos de trajetória artística. Amélia teve aulas com Anita Malfatti, conviveu com Mira Schendel e Lygia Clark, com cuja obra tem um diálogo perceptível nas peças dos anos 50 e 60.
As "Bolas Bolhas", que produzem espuma quando sacudidas, e "A Onda", óleo e água tingidos de cores diferentes, pedem a interação do público. "Nós compartilhamos o interesse pela cura por meio da expansão da sensorialidade", diz Amélia sobre Lygia.
A proposta do trabalho da artista paulistana é integrar público e obra o máximo possível. "Quando a gente chega à minha idade, é importante ter conseguido atingir um público maior, fora do circuito das artes." Maior reflexo disso são suas obras públicas, como a programação cromática da estação Cardeal Arcoverde do metrô carioca e a instalação "Caleidoscópio" na estação Brás, em SP.
A exposição na galeria do Sesi, em plena avenida Paulista, não deixa de ter esse cunho. No sugestivo título "Entre, a Obra Está Aberta" -referência à proposição de Umberto Eco sobre a importância do espectador no processo de fruição da arte-, muita gente vê um convite irrecusável.
Durante os dias de montagem, repetidas vezes os seguranças e a equipe precisaram explicar que a mostra ainda estava interditada. Ao título soma-se a intrigante obra "Magma", à vista de quem passa em frente à Fiesp: um quartzo rosa distorcido no reflexo.
Em "O País das Pedras Verdes", pedras polidas em algumas partes revelam as marcas do tempo. Ela encara a pedra como registro de formação da terra. "Em biologia existe o conceito de ressonância amórfica, que indica haver uma consciência de espécie que transmite hábitos, memórias", explica.
A ressonância é um vasto campo de pesquisa para Amélia. "É uma relação que eu faço entre formas que encontro na natureza: entre o leve e o pesado, o que está acima e o que está abaixo", diz.
Há anos a artista desenvolve esse trabalho de garimpagem e colecionismo, como a estudar o universo. Herança do pai cientista? Ela conta que praticamente nasceu dentro de um laboratório. "Se meu trabalho tem algo com a ciência, é com uma ciência ligada à intuição e a outros enfoques que não o racionalista", explica.



Exposição: Entre, a Obra Está Aberta, de Amélia Toledo Quando: abertura hoje, às 19h, para convidados. Ter. a dom., das 9h às 19h. Até 12/12 Onde: Centro Cultural Fiesp (av. Paulista, 1.313, tel. 284-0405) Quanto: entrada franca


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