São Paulo, Sábado, 13 de Novembro de 1999
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TEATRO
Influenciado por Tadeuz Kantor, diretor polonês estréia hoje o espetáculo "Wrota" no Sesc Belenzinho
Madzik busca dramaticidade sensorial

VALMIR SANTOS
free-lance para a Folha

Uma platéia restrita a 60 pessoas tateia a escuridão. Fiapos de luz indicam a presença de objetos, de corpos em movimento. A cenografia é extensão do ator e do espectador em "Wrota" (Porta), o espetáculo que o grupo polonês Scena Plastyczna mostra hoje e segunda no Sesc Belenzinho, dentro do projeto "1.999 Reticências".
Abdicando do uso da palavra, mas apoiando-se sobretudo na música, o diretor Leszek Madzik investe nas possibilidades dramáticas da percepção sensorial.
"Nessa mistura de cenografia e ator, chegamos ao ponto em que não se sabia o que era uma coisa ou outra", admite Madzik, 59.
Profundamente influenciado pelo teórico Tadeuz Kantor (1915-1990), ele não perdia seus espetáculos. Também não foram poucas as cartas que trocou com o "mestre" responsável pela chancela da plasticidade no teatro polonês (e universal), à frente do lendário grupo Cricot 2.
Como Kantor, Madzik prega um teatro que projeta no espectador uma "humanidade individualizada". "A gente vai na contramão do convencional. Nosso espetáculo é feito para poucas pessoas. Não queremos a multidão, mas o homem em sua particularidade, capaz de raciocinar diante das emoções", afirma.
"Wrota" trata da condição efêmera da vida. Os atores, a luz, a música, os objetos, tudo evoca a relatividade do tempo. "O ser humano carrega consigo a inerência da finitude. Somos tocados pelo tempo presente, mas não nos damos conta que mesmo construindo uma vida organizada, nada levaremos dela para outro mundo."
O embate luz e escuridão (mais esta que aquela) surge como elemento fundamental no trabalho. Até 1978, os atores do Scena Plastyczna interpretavam textos e costumavam usar figurinos coloridos. A montagem de "Wilgoc" (Umidade), naquele ano, trouxe a ruptura. E com ela, a positividade avessa das trevas. "Depois desse trabalho, meu teatro passou a operar principalmente com a escuridão. A cor preta me acompanha como forma de expressão", afirma Madzik.
A água também é determinante. "Ela é onipresente e, no entanto, influencia o comportamento do homem em vários momentos da vida", continua o diretor.
Madzik é professor de dramaturgia da Universidade Católica de Lublin, a KUL (166 km ao norte de Varsóvia, capital). Criado há 29 anos, o grupo Scena Plastyczna é ligado à instituição.


Peça: Wrota (Porta) Quando: hoje, às 19h e 21h; seg., às 15h, 17h e 19h. Únicas apresentações Onde: Sesc Belenzinho (av. Álvaro Ramos, 991; tel. 6096-8143) Quanto: R$ 5 e R$ 10

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