|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TEATRO
Influenciado por Tadeuz Kantor, diretor polonês estréia hoje o espetáculo "Wrota" no Sesc Belenzinho
Madzik busca dramaticidade sensorial
VALMIR SANTOS
free-lance para a Folha
Uma platéia restrita a 60 pessoas tateia a escuridão. Fiapos de
luz indicam a presença de objetos,
de corpos em movimento. A cenografia é extensão do ator e do
espectador em "Wrota" (Porta), o
espetáculo que o grupo polonês
Scena Plastyczna mostra hoje e
segunda no Sesc Belenzinho, dentro do projeto "1.999 Reticências".
Abdicando do uso da palavra,
mas apoiando-se sobretudo na
música, o diretor Leszek Madzik
investe nas possibilidades dramáticas da percepção sensorial.
"Nessa mistura de cenografia e
ator, chegamos ao ponto em que
não se sabia o que era uma coisa
ou outra", admite Madzik, 59.
Profundamente influenciado
pelo teórico Tadeuz Kantor (1915-1990), ele não perdia seus espetáculos. Também não foram poucas
as cartas que trocou com o "mestre" responsável pela chancela da
plasticidade no teatro polonês (e
universal), à frente do lendário
grupo Cricot 2.
Como Kantor, Madzik prega
um teatro que projeta no espectador uma "humanidade individualizada". "A gente vai na contramão do convencional. Nosso
espetáculo é feito para poucas
pessoas. Não queremos a multidão, mas o homem em sua particularidade, capaz de raciocinar
diante das emoções", afirma.
"Wrota" trata da condição efêmera da vida. Os atores, a luz, a
música, os objetos, tudo evoca a
relatividade do tempo. "O ser humano carrega consigo a inerência
da finitude. Somos tocados pelo
tempo presente, mas não nos damos conta que mesmo construindo uma vida organizada, nada levaremos dela para outro mundo."
O embate luz e escuridão (mais
esta que aquela) surge como elemento fundamental no trabalho.
Até 1978, os atores do Scena
Plastyczna interpretavam textos e
costumavam usar figurinos coloridos. A montagem de "Wilgoc"
(Umidade), naquele ano, trouxe a
ruptura. E com ela, a positividade
avessa das trevas. "Depois desse
trabalho, meu teatro passou a
operar principalmente com a escuridão. A cor preta me acompanha como forma de expressão",
afirma Madzik.
A água também é determinante.
"Ela é onipresente e, no entanto,
influencia o comportamento do
homem em vários momentos da
vida", continua o diretor.
Madzik é professor de dramaturgia da Universidade Católica
de Lublin, a KUL (166 km ao norte
de Varsóvia, capital). Criado há
29 anos, o grupo Scena Plastyczna
é ligado à instituição.
Peça: Wrota (Porta)
Quando: hoje, às 19h e 21h; seg., às 15h,
17h e 19h. Únicas apresentações
Onde: Sesc Belenzinho (av. Álvaro
Ramos, 991; tel. 6096-8143)
Quanto: R$ 5 e R$ 10
Texto Anterior: Artistas mostram transparências Próximo Texto: O bom do dia: "Padox" põe lupa nas emoções da rua Índice
|