|
Índice
TEATRO
De Mário Viana, "Natureza Morta", com Claudia Gianini, busca referências no quadro homônino do norueguês
Desespero de Munch inspira monólogo
DA REPORTAGEM LOCAL
Quem conhece o comediógrafo
de "Pantagruel", com os Parlapatões, ou de "Vestir o Pai", que faz
temporada sob direção de Paulo
Autran, vai surpreender-se com a
outra face dramatúrgica de Mário
Viana no monólogo "Natureza
Morta" (1997).
Trata-se de um drama na acepção fiel da palavra. "Gostaria que
as pessoas notassem o trabalho de
linguagem. A mesma capacidade
de manipular para fazer rir pode
servir para emocionar", afirma
Viana, 43.
O texto, que já foi montado em
Recife, finalmente ganha versão
paulistana, com interpretação de
Claudia Gianini e direção de Luciana Ramanzini. Entra em cartaz
hoje no teatro Ruth Escobar, depois da pré-estréia no Fringe do
Festival de Curitiba 2003.
Viana inspirou-se no quadro
"Natureza Morta (A Assassina)",
do norueguês Edvard Munch
(1863-1944), que viu na Bienal de
São Paulo em 1996.
Naquela época, ele fazia parte de
um núcleo de novos dramaturgos, sob orientação de Luis Alberto de Abreu ("Boranda"), instados a criar textos curtos com heroínas. Desafiado, ele tomou a
pintura como mote.
Num quarto de hotel, uma mulher posa para um pintor presumido, dirige-se a ele, mas a platéia
é sua real "interlocutora", entre silêncios, desilusões e goles de água.
Ela acabou de matar o amante.
O corpo do homem que ama jaz
ao seu lado. Na encenação de Luciana, ele é sugerido pelo paletó
sujo de sangue num mancebo. A
mulher fala sobre "a agonia do
amor, a decomposição desse sentimento que antes nos iluminava". As digressões tentam dar
conta da atitude extrema.
A personagem reclama: "Ele
nunca teve coragem de chegar à
beira do leito onde agonizava o
quase cadáver que nos uniu".
"Essa mulher está dentro da
gente. Entra-se em contato com a
dor da perda, a vontade de ir e
querer ficar", diz Gianini, 35.
Daquele quarto, a personagem
acena com uma viagem para Paris. "Os trens, o senhor sabe, não
esperam ninguém", repete para o
pintor. Tampouco a vida.
(VALMIR SANTOS)
NATUREZA MORTA. De: Mario Viana.
Direção: Luciana Ramanzini. Com:
Claudia Gianini. Trilha sonora e luz: Paulo
Henrique Jordão. Onde: teatro Ruth
Escobar - sala Miriam Muniz (r. dos
Ingleses, 209, Bexiga, região central, tel.
289-2358). Quando: estréia hoje, às 21h;
qui. e sex,, às 21h; até 15/12.
Quanto: R$ 12.
Índice
|