UOL


São Paulo, quinta-feira, 13 de novembro de 2003

Índice

TEATRO

De Mário Viana, "Natureza Morta", com Claudia Gianini, busca referências no quadro homônino do norueguês

Desespero de Munch inspira monólogo

DA REPORTAGEM LOCAL

Quem conhece o comediógrafo de "Pantagruel", com os Parlapatões, ou de "Vestir o Pai", que faz temporada sob direção de Paulo Autran, vai surpreender-se com a outra face dramatúrgica de Mário Viana no monólogo "Natureza Morta" (1997).
Trata-se de um drama na acepção fiel da palavra. "Gostaria que as pessoas notassem o trabalho de linguagem. A mesma capacidade de manipular para fazer rir pode servir para emocionar", afirma Viana, 43.
O texto, que já foi montado em Recife, finalmente ganha versão paulistana, com interpretação de Claudia Gianini e direção de Luciana Ramanzini. Entra em cartaz hoje no teatro Ruth Escobar, depois da pré-estréia no Fringe do Festival de Curitiba 2003.
Viana inspirou-se no quadro "Natureza Morta (A Assassina)", do norueguês Edvard Munch (1863-1944), que viu na Bienal de São Paulo em 1996.
Naquela época, ele fazia parte de um núcleo de novos dramaturgos, sob orientação de Luis Alberto de Abreu ("Boranda"), instados a criar textos curtos com heroínas. Desafiado, ele tomou a pintura como mote.
Num quarto de hotel, uma mulher posa para um pintor presumido, dirige-se a ele, mas a platéia é sua real "interlocutora", entre silêncios, desilusões e goles de água.
Ela acabou de matar o amante. O corpo do homem que ama jaz ao seu lado. Na encenação de Luciana, ele é sugerido pelo paletó sujo de sangue num mancebo. A mulher fala sobre "a agonia do amor, a decomposição desse sentimento que antes nos iluminava". As digressões tentam dar conta da atitude extrema.
A personagem reclama: "Ele nunca teve coragem de chegar à beira do leito onde agonizava o quase cadáver que nos uniu".
"Essa mulher está dentro da gente. Entra-se em contato com a dor da perda, a vontade de ir e querer ficar", diz Gianini, 35.
Daquele quarto, a personagem acena com uma viagem para Paris. "Os trens, o senhor sabe, não esperam ninguém", repete para o pintor. Tampouco a vida.
(VALMIR SANTOS)


NATUREZA MORTA. De: Mario Viana. Direção: Luciana Ramanzini. Com: Claudia Gianini. Trilha sonora e luz: Paulo Henrique Jordão. Onde: teatro Ruth Escobar - sala Miriam Muniz (r. dos Ingleses, 209, Bexiga, região central, tel. 289-2358). Quando: estréia hoje, às 21h; qui. e sex,, às 21h; até 15/12. Quanto: R$ 12.


Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.