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Crítica/cinema/"Sonhos e Desejos"
Filme emperra em dramaturgia rala
RICARDO CALIL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"Sonhos e Desejos",
longa de estréia de
Marcelo Santiago,
vem se somar a uma extensa
lista de filmes brasileiros que lidam direta ou indiretamente
com a questão da luta armada
contra o regime militar.
Nesse grupo, o parentesco
mais próximo do filme é com
"Cabra Cega" (2005), de Toni
Venturi. Os dois têm como
ponto de partida a chegada de
um guerrilheiro a um "aparelho" (local que serve de esconderijo aos militantes) e a relação que se estabelece entre ele
e outros companheiros nesse
espaço de confinamento.
Na trama de "Sonhos e Desejos", passada nos anos 70 em
Belo Horizonte, um guerrilheiro ferido e sempre de rosto coberto (Sérgio Marone) é levado a um apartamento onde estão a
jovem estudante Cristiana
(Mel Lisboa) e o professor de literatura Saulo (Felipe Camargo), casal de militantes que participa do combate aos militares.
Logo se inicia uma atração
entre o guerrilheiro, que se revela um jovem sensível, amante
das artes, e Cristiana, que se divide entre o desejo pelo desconhecido e a fidelidade a seu
companheiro. Saulo, militante
tradicional, percebe o envolvimento dos dois e tenta lidar
com seus ciúmes, sentimento
que ele mesmo classifica como
pequeno-burguês.
Santiago está menos interessado em falar de luta armada do
que sobre o triângulo amoroso
formado entre os militantes
naquela situação de tensão e
confinamento. Mas seu projeto, baseado no livro "O Balé da
Utopia", de Álvaro Caldas, esbarra sempre na pobreza dramatúrgica do roteiro, com personagens estereotipados e diálogos recheados de clichês revolucionários.
No aspecto visual, o cineasta
obtém melhores resultados,
com um trabalho eficiente de
exploração do espaço limitado
do apartamento. Não se pode
acusar "Sonhos e Desejos" de
copiar a estética de TV. Apenas
de explorar a imagem de ninfeta sexualizada de Mel Lisboa na
série "Presença de Anita".
"Sonhos e Desejos" ganhou
dois Kikitos no último Festival
de Gramado -melhor atriz
(Lisboa) e melhor direção de
arte-, o que diz mais sobre a
decadência do evento do que
sobre as virtudes pontuais do
filme de Santiago.
SONHOS E DESEJOS
Direção: Marcelo Santiago
Produção: Brasil, 2006
Com: Mel Lisboa, Felipe Camargo e
Sérgio Marone
Quando: em cartaz nos cines Unibanco
Arteplex, Pátio Higienópolis e circuito
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