São Paulo, segunda-feira, 13 de novembro de 2006

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Crítica/cinema/"Sonhos e Desejos"

Filme emperra em dramaturgia rala

RICARDO CALIL
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Sonhos e Desejos", longa de estréia de Marcelo Santiago, vem se somar a uma extensa lista de filmes brasileiros que lidam direta ou indiretamente com a questão da luta armada contra o regime militar.
Nesse grupo, o parentesco mais próximo do filme é com "Cabra Cega" (2005), de Toni Venturi. Os dois têm como ponto de partida a chegada de um guerrilheiro a um "aparelho" (local que serve de esconderijo aos militantes) e a relação que se estabelece entre ele e outros companheiros nesse espaço de confinamento.
Na trama de "Sonhos e Desejos", passada nos anos 70 em Belo Horizonte, um guerrilheiro ferido e sempre de rosto coberto (Sérgio Marone) é levado a um apartamento onde estão a jovem estudante Cristiana (Mel Lisboa) e o professor de literatura Saulo (Felipe Camargo), casal de militantes que participa do combate aos militares. Logo se inicia uma atração entre o guerrilheiro, que se revela um jovem sensível, amante das artes, e Cristiana, que se divide entre o desejo pelo desconhecido e a fidelidade a seu companheiro. Saulo, militante tradicional, percebe o envolvimento dos dois e tenta lidar com seus ciúmes, sentimento que ele mesmo classifica como pequeno-burguês.
Santiago está menos interessado em falar de luta armada do que sobre o triângulo amoroso formado entre os militantes naquela situação de tensão e confinamento. Mas seu projeto, baseado no livro "O Balé da Utopia", de Álvaro Caldas, esbarra sempre na pobreza dramatúrgica do roteiro, com personagens estereotipados e diálogos recheados de clichês revolucionários.
No aspecto visual, o cineasta obtém melhores resultados, com um trabalho eficiente de exploração do espaço limitado do apartamento. Não se pode acusar "Sonhos e Desejos" de copiar a estética de TV. Apenas de explorar a imagem de ninfeta sexualizada de Mel Lisboa na série "Presença de Anita".
"Sonhos e Desejos" ganhou dois Kikitos no último Festival de Gramado -melhor atriz (Lisboa) e melhor direção de arte-, o que diz mais sobre a decadência do evento do que sobre as virtudes pontuais do filme de Santiago.


SONHOS E DESEJOS  
Direção:
Marcelo Santiago
Produção: Brasil, 2006
Com: Mel Lisboa, Felipe Camargo e Sérgio Marone
Quando: em cartaz nos cines Unibanco Arteplex, Pátio Higienópolis e circuito


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