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CRÍTICA DRAMA
Espetáculo retrata conflitos políticos com viés íntimo
CHRISTIANE RIERA
CRÍTICA DA FOLHA
O ponto de partida de "Cidade Desmanche", espetáculo criado pelo talentoso coletivo Teatro de Narradores,
sob direção de José Fernando
de Azevedo, é um boteco no
bairro da Bela Vista onde
uma banda anima folia liderada por alguns atores que
dançam com o público.
Do outro lado da rua, está
o Espaço Maquinaria, sala de
ensaio do grupo e palco dessa ambiciosa montagem.
"Esse lugar será a sua pátria", introduz um ator, deixando claro o paralelo entre
a situação política do país e a
travessia que se fará pelo casarão "em desmanche".
O público segue um ex-presidiário (Marcelo Valente)
em sua volta para casa, missão impossível, uma vez que
"estão demolindo tudo para
construir um shopping".
Na primeira parada dessa
procissão, três camas funcionam como micropalcos.
É nesse lugar que está
prestes a não existir mais que
se desenrola uma narrativa
em fragmentos, através de
historietas cujos personagens são apresentados lentamente e conectados pelo fato
de que todos se encontram
em estado de exceção.
No quebra-cabeça narrativo, as peças se encaixam por
uma lógica de desintegração.
Em sequência de cenas poéticas, algumas se destacam
por sutileza bela. Uma prostituta exala dignidade e firmeza (Lucélia Sérgio) ao observar a cidade pela janela,
afundada na paisagem.
Em outro momento lírico,
um discurso sobre os últimos
anos no cortiço culmina com
a música "Não Deixe o Samba Morrer" ao mesmo tempo
em que um vídeo retrata,
com imagens documentais, a
desocupação de um cortiço.
A tentativa de abordagem
política por um viés mais íntimo funciona quando assume
os dramas como espaços de
ruptura, sem possibilidade
de conexão além da projeção
de sonhos não conquistados.
No final do espetáculo, porém, a trama foca um ator
que ensaia para teste, ação
que escorrega para cenas seguintes, em que, no topo do
prédio, ele repete seu texto.
Se "política tem a ver com
esperança", como é dito, ao
tentar cristalizá-la, a montagem se desmancha. É mais
bem-sucedida ao retratar a
indeterminação de um tempo político que gira em falso,
falido e morto.
CIDADE DESMANCHE
QUANDO sáb., às 21h; dom., às
20h; até 12/12
ONDE Espaço Maquinaria (r. Treze
de Maio, 240; tel. 3853-3651)
QUANTO de R$ 5 a R$ 20
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
AVALIAÇÃO regular
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